segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

As nossas almas solitárias (excerto 4) -C. GONÇALVES

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Desço as escadas e sigo em direção às traseiras da casa saindo para a rua. A noite está fresca e aconchego o lenço junto ao pescoço. Vejo a Sara e o Santiago ao longe, sentados. Avanço pelo jardim carregado de azinheiras e sobreiros e inalo o ar puro que me rodeia. Sempre gostei da natureza e do contacto com a sua essência. Aqui posso recarregar baterias para mais uma dura semana que se avizinha. Aqui posso não pensar em nada daquilo que me atormenta. Sozinha, posso finalmente tentar colocar as ideias em ordem e ser eu mesma. Desde que o Miguel me deu a notícia, nem tenho conseguido dormir de jeito. Nem sei como vou dizer isto aos miúdos, se realmente se concretizar. Como sempre, sou eu que tenho a penosa tarefa de os informar, de os consolar. Talvez seja melhor assim; por vezes, o melhor é o afastamento. Estamos divorciados há quatro anos; a Carolina ainda não tinha os dois anos feitos. Já não me dói. Nem me faz diferença. Tenho pena que não tenha dado certo. Por mim. Pelos meus filhos. Mas agora, já é uma mágoa que se vislumbra em mim muito longe e muito ténue. Tudo o que tentei foi em vão. Tudo foi sem sentido e só me trouxe dissabores e amarguras. Neste momento, conseguimos conviver o essencial para coordenarmos as idas do Martim e da Carolina, e pouco mais. No fundo, é triste, mas é a realidade; e não há volta a dar.

EM - AS NOSSAS ALMAS SOLITÁRIAS - C. GONÇALVES - IN-FINITA

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