domingo, 21 de agosto de 2022

Jogo de xadrez (excerto) - SARA TIMÓTEO

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A tua mão repousa sobre o rebordo do cinzeiro enquanto me explicas o que se passou contigo durante estes anos de ausência. A verdade é que fomos namorados de adolescência e agora não sabemos como dirigir palavra um ao outro. Os teus olhos são inacreditavelmente azuis e o teu rosto parece esculpido a cinzel. Miguel Ângelo não te desdenharia como modelo para a Capela Sistina. Contudo, tu és moreno, não loiro. Não possuis aquela beleza robusta e musculada. És esguio e ágil. Moves-te de um modo predatório.
Tornaste-te num homem perigoso. Tens negócios em várias partes do mundo e investes na Bolsa. Decidiste que querias ver-me e, se te agradasse o que vias, ter-me mais uma vez ou quantas quisesses. Agora, para ti, trata-se de uma questão de tempo.
Eu faço o que sempre resultou contigo: abro as narinas e cheiro a tua pele. Fixo os teus olhos. As tuas pupilas expandem-se numa questão de segundos – as minhas também. Depois, digo-te não existir qualquer esperança para nós. Já passou muito tempo desde a última vez e eu estou apaixonada por outra pessoa.
Rimo-nos ambos à gargalhada. Trata-se de um jogo de xadrez – e funciona connosco.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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