sábado, 23 de julho de 2022

A Amadora (excerto) - JANE LIMA

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Quando uma mulher elegante, com rosto fino, pálido e vestida de preto sentou-se bem em frente à escultura-chafariz para apreciar o jardim do antigo Palácio do Catete, o sol já se alaranjava. De vez em quando ela passava o lenço nos olhos que lacrimejavam como se fosse possível regar o “jardim das musas”.
Ela sempre suspirava de saudades da Belle Époque carioca, toda vez que voltava àquele lugar. A sensação que dava ao visitar o passado era como se ela pudesse ouvir as fanfarras presidenciais em dias de festas e o sino do bonde que soavam como vozes em um sonho. Mary Sayão Pessoa tinha fortes motivos para justificar sua ligação às lembranças de muitos episódios indeléveis que ali ocorreram. Perfeito “Palácio de Memórias” que provocava um encontro com ela mesma.
Fluindo lentamente por aquelas frias salas e corredores, ia Mary sem esperar surpreender-se com mais nada. Mas de repente, um quadro a fez parar. Como ela amava seu autorretrato! E por um longo instante, ele transportou-a para seu tempo de aluna do mestre Rodolfo Amoedo, na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro. Foram duas exposições que participara. E mesmo tendo sido considerada uma excelente pintora amadora pela crítica, sua carreira fora prejudicada com a participação das mulheres, proibida, nas aulas de anatomia. É que na arte a mulher não era o sujeito, mas o objeto.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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