terça-feira, 14 de junho de 2022

Conto Quântico (excerto) - VÍTOR COSTEIRA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Com uma vontade própria que desconheço em mim, avanço um pouco mais e estanco, de novo, o movimento titubeante dos meus pés. Fico em frente à janela fechada, com uma portada interior semiaberta. Daqui de fora, eu quase nada consigo ver para dentro, devido ao contraste luminoso entre espaços, fora e dentro, luz e penumbra.

O interior parece-me lúgubre e escuro, sem sinais de pessoas nem de objetos, apenas o vazio. Mas a casa, em si mesma, tem vida, e eu sinto-a como muito familiar. Não meço o tempo que aqui estou. Apenas estou, estando, olhando, sentindo… não me recordo de antes ter estado do lado de fora da janela, olhando para o que estava e que agora não está lá dentro, estando… A casa atrai-me, chama-me, desafia-me a reviver o seu espaço, a sua alma… e eu vou.

Dirijo-me à porta, logo ali ao lado. A porta tem um postigo que, como sempre, cede a uma ligeira pressão dos meus dedos, como se lesse as minhas impressões digitais e me permitisse aceder ao seu eu, convidando-me a percorrê-la e a senti-la, talvez para ela me percorrer e sentir, de novo, também. O ruído do arrastar das suas dobradiças, como um queixume de solidão, ou uma dorida boas-vindas, diz-me que ninguém mais cuidou delas depois de mim. 

EM - CONTOS E CRÓNICAS (IN)TEMPORAIS - VÍTOR COSTEIRA - IN-FINITA

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