quarta-feira, 4 de maio de 2022

O fantasma do fantasma (excerto) - VÍTOR COSTEIRA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
Conheçam a In-Finita neste link

A minha relação com este fantasma é, como com qualquer outro fantasma, de índole meramente pessoal, de cariz estritamente nosso! Apesar de se dar a ver quando não preciso muito dele e apenas quando não há mais ninguém em casa, relacionamos-nos, posso dizer, bastante bem e, como outro grande amigo que se preze, ele é um bom ouvinte. Suponho, até, que possa ter algum problema de linguagem, uma vez que nunca se exprime oralmente, apenas gesticula com o corpo, meneando a cabeça, indicando que me ouve e me entende bem. Digamos que nos aceitamos, nos nossos silêncios e nos meus monólogos.
A sombra que ele projecta na parede e noutros objectos mostra-me um velho, alguém em total declínio, frustrado, desalentado. Acho que se ele me falasse eu o poderia ajudar, poderia ser eu a ouvir, a escutar as suas tristezas, os seus desgostos e pensamentos e, depois, aconselhá-lo ou, pelo menos, tentar fazer dele uma presença feliz! Talvez ele, desta forma, encontrasse o caminho de onde se transviou, encontrasse paz, ganhasse coragem e atingisse os seus fins, regressando ao seu mundo! Ou, o seu fim…
Mas, não! Nada consigo para ele e ele em nada auxilia. Não acredito que seja propositada a sua presença, penso mesmo que ele aparece porque precisa de companhia, de alguém que olhe para e por ele. Custa-me imenso! O grande problema é que eu não tenho arte, nem engenho, e parece-me que ele se entrega mais quando também eu preciso mais. Será por isso que ele vem ter comigo?

EM - CONTOS E CRÓNICAS (IN)TEMPORAIS - VÍTOR COSTEIRA - IN-FINITA

Sem comentários:

Enviar um comentário

Toca a falar disso