quinta-feira, 12 de maio de 2022

Maldito funeral - LUÍS VASCONCELOS

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Um dia fui com a minha mãe ao funeral do familiar de uns amigos nossos. Nestas povoações mais pequenas, qualquer pessoa desconhecida é alvo de todas as atenções. Imaginando o que me ia acontecer eu quis ficar na carrinha. De súbito entrou um amigo meu e disse-me: “Luís, os rapazes que estão lá fora pensam que tu és uma rapariga! Já me fartei de lhes dizer que és um rapaz, mas eles não acreditam. Querem ver a tua pila!”. Eu virei-me para o meu amigo e disse-lhe: “Manda-os foder!”. Entretanto obrigaram-me a ir à casa onde estava a morta. Durante o trajeto, ouvia-os falar uns com os outros: “Vês é uma gaja. Feia como o caralho, mas é uma gaja!”. Eu engolia em seco, e mantinha-me calado. Chegámos à tal casa onde supostamente deveríamos entrar, pois era lá que o corpo da defunta estava a ser velado, mas estava bastante gente à porta e tivemos de esperar algum tempo cá fora. Foi então que alguns gajos, armados em parvos, aproximaram-se de mim e foram-me apalpando o rabo. Puseram-se em fila e um a um foram-me apalpando como se eu fosse, de facto, uma rapariga. “Mesmo sendo feia, dava-te uma foda!”, diziam baixinho alguns deles. Eu estava com uma raiva canina deles. Se tivesse ali uma caçadeira nas mãos tinha disparado! Estava com tanta raiva, que até lhe sentia o sabor. Não aguentei mais, voltei para a carrinha, e chorei, ali sozinho, com toda a raiva que ardia em mim! Lembro-me também de outras situações lamentáveis, como por exemplo, na escola secundária que frequentava. Cada vez que eu tinha Educação Física era um dia de uma enorme tensão, angústia e ansiedade. Tinha que entrar no balneário dos rapazes, para vestir a roupa de ginástica, e depois das aulas, tomar banho.

EM - NINHO DE CUCOS - LUÍS VASCONCELOS - IN-FINITA

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