sexta-feira, 22 de abril de 2022

Meninos do bairro (excerto 7) - LUÍS VASCONCELOS

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Não poderia deixar de falar do mago, mestre das tesouras, o inigualável e insuperável barbeiro, não de Sevilha, mas da freguesia S. José, Viseu, sr. Celestino, A sua barbearia ficava situada junto ao Bairro Como devem imaginar, todos os putos que viviam por ali, era lá que se apresentavam para a tosquia costumeira. Lá nos sentávamos na cadeira e ele nem perguntava como queríamos o corte. A gente bem explicava, ele já de pente e tesoura na mão apenas ia dizendo: “Sim, sim, pá, não te preocupes. Estás em boas mãos! Vai ser como queres. Aqui o cliente é que manda! Já sabes como é, pá!”. Pois é, o problema é que nós sabíamos. Nunca era como nós queríamos e pedíamos. O pobre homem, manquejando à volta da cadeira, pois tinha um pequeno defeito numa perna, além de ser algo mouco e de poucas falas, lá ia entre uma tesourada e outra, fazendo o seu corte top. Sempre o mesmo, para os putos todos. Pelo menos não era xenófobo. Terminado o serviço, enquanto nos dava uma escova para tirar os cabelos da roupa, lá ia dizendo: “Então, pá, está ou não impecável. Exatamente como pediste. Eu bem te disse. São muitos anos a virar frangos. Não falha!”. Mas falhava, o pior é que falhava. Pior ainda, não conseguia perceber e reconhecer que sim! Acho até, sinceramente, não sabia fazer outro penteado à tesoura. Especializara-se naquele. A não ser quando decidia recorrer aos pentes da máquina! E essa não era definitivamente uma alternativa para nós, os meninos do bairro, da Estação!

EM - NINHO DE CUCOS - LUÍS VASCONCELOS - IN-FINITA

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