terça-feira, 26 de abril de 2022

24 Setembro 2018 (excerto) - FRANCIS RAPOSO FERREIRA

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Lourenço, sempre a intercalar a leitura com desvios de olhar na direcção de Mel, apercebe-se do esforço que ela vai fazendo para tentar esconder uma lágrima que espreita mesmo no canto dos bonitos olhos cor de mel. Quem sabe não seja a mesma lágrima que não chegou a chorar naquela manhã do dia do seu casamento.
Levanta-se, pousa o diário na cadeira onde estivera sentado, dirige-se a ela, abraça-a pelas costas, acariciando-lhe os desnudados braços, beija-lhe os brilhantes cabelos e pergunta-lhe se quer mesmo que ele continue com a leitura.
Mel, não conseguindo controlar o choro provocado por tais recordações, por mais tempo, gira sobre os calcanhares, até ficar de frente para ele, aconchega-se ao seu corpo, beija-o e propõe-lhe que façam um brinde a uma nova vida.
O que ela pretende, na verdade, é algum tempo para se recompor, ao mesmo tempo que volta a saborear o delicioso licor que a deixa orgulhosa de si mesma, pois se há coisas de que tem a certeza, uma delas é que nunca bebeu um licor tão bom como aquele, nem mesmo os outros que bebera daquela mesma garrafa, isto é, a presença dele a seu lado, até o licor melhorara.
A verdade se diga, é que nem sequer lhe está a apetecer mais licor, pelo menos assim ao natural, pelo que lhe pede que vá buscar uma ou duas pedras de gelo, aproveitando esses breves segundos para secar os olhos e ultimar os preparativos do suculento lanche.
Lourenço, percebendo tudo, prolonga o tempo necessário para lhe satisfazer o desejo, alegando ter de esperar que uma breve permuta de temperaturas se produza, isto é, que o gelo consiga arrefecer, um pouco, o licor, só então se decidindo a levar-lhe o cálice aos lábios, num gesto de grande carinho. Mel, já recomposta do medo provocado pelo recordar de tão distante dia 24 de Setembro de 1994, sonha que em vez do cálice, são os lábios dele que se aproximam dos dela.

EM - DIÁRIO DE MEL - FRANCIS RAPOSO FERREIRA - IN-FINITA

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