terça-feira, 29 de março de 2022

O olho vermelho do gato Bernardo (excerto) - VÍTOR COSTEIRA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Como vendedores de peixe que eram, os donos da casa faziam as suas refeições à base de peixe e, recordo-me muito bem, eu fazia parte da sua família, que nunca por lá me lembro de ter visto alguma outra. Como elemento querido e por eles inúmeras vezes defendido, tinha acesso à sua mesa e ficou-me presente na memória, para sempre, as deliciosas sopas de peixe que tão bem sabiam cozinhar! Por vezes, porque não tinha grande coisa para fazer e quando não me ausentava para casa dos meus avós, ali mesmo na rua ao lado (quase…), eu ajudava a Dona Gracinda e o Ti Chico naquilo que podia (ou, se calhar, não os ajudava assim tanto) e estes foram momentos gratificantes de tal forma que estou agora a fazer-lhes justiça e gostaria que eles tivessem podido saber desta minha gratidão. Nunca o souberam, porque quando os voltei a ver, depois de sair da casa deles para ir morar para o Seixal, aos sete anos, só lá voltei perto dos dezassete e era um rapaz amargurado, ferido, tímido e sem grandes palavras para ninguém… e, pouco tempo depois, um seguiu o outro para a Terra do Nunca.
Ter morado aqui, com estas pessoas tão amigas, sempre prontas a apoiar-me e defender-me, perante a insensibilidade e rudeza (palavras suaves…) dos familiares mais próximos, foi um bálsamo temporário que me permitiu a espaços breves sentir-me criança. …então, sempre que a noite chegava, eu alimentava a minha imaginação infantil e ingénua, tremendamente ingénua (perto do aparvalhada!).

EM - CONTOS E CRÓNICAS (IN)TEMPORAIS - VÍTOR COSTEIRA - IN-FINITA

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