quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Memórias – MARIA LAURINDA RIBEIRO DE SOUSA (LAU)

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            Não me lembro mais de nosso primeiro encontro. Talvez desde sempre você já estivesse presente.
 
            Ainda hoje vejo seu corpo articulado e seus olhos que se abriam e fechavam parecendo responder ao meu afeto. Mesmo quando um deles deixou de se abrir, permaneceu o meu encanto. Segurava você por uma perna e assim, de ponta cabeça, você podia abrir os dois novamente.
 
            Difícil foi quando de tanto te movimentar de cima pra baixo e de baixo pra cima, suas pernas começaram a se deslocar demais até saírem do corpo. Você permaneceu muito tempo sem pernas.
 
            Não, não devia ser muito cômodo ser assim maltratada. Mas, sabíamos as duas que essa era uma prova de amor; um jeito de testar nossa resistência às intempéries dos encontros.
 
            Sabe que nunca mais encontrei alguém tão tolerante? Hoje sou eu que me viro de ponta cabeça pra tentar acertar os meus olhos com os dos outros e, devo confessar, nem sempre consigo. 
 
            Foi pra você que fiz, com esmero, as primeiras costuras improvisadas. Também nunca fui muito boa nisso, mas você não se queixava do amontoado de tecidos com que eu ia cobrindo seu corpo, mesmo quando a agulha e a tesoura espetavam mais do que o necessário.
 
            E, quando aprendi a usar as primeiras canetas! Você ganhou desenhos coloridos que ficaram impressos em sua pele e resistiram aos banhos cheios de sabão que eu também ensaiava com... meu primeiro bebe.
 
            Era com você, também, que eu tentava enfrentar meu medo do escuro. Deitada ao seu lado eu inventava aventuras, recontava tudo que acontecia em nossas vidas e o que poderíamos fazer nos tempos futuros.  
 
            Você nem sabe mas, graças ao nosso amor, desenvolvi um prazer imenso em contar histórias.

EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA

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