quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

24 Setembro 2018 (excerto) - FRANCIS RAPOSO FERREIRA

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
Conheçam a IN-FINITA neste link

Ao chegar a este ponto de leitura dos acontecimentos que são a sua própria história de vida, e não a de qualquer outra pessoa, Mel, sente necessidade de beber um daqueles licores, de produção própria, que têm o condão de lhe acalmar os calores que, apesar de estar completamente nua, parecem querer queimá-la, mais por dentro que por fora.
Mel, apesar de nunca ter sido uma mulher viciada no álcool, adora um bom licor e, desde há algum tempo a esta parte, fazê-los é um dos seus prazeres, o que além de lhe permitir controlar o teor alcoólico dos mesmos, também lhe permite ter sempre dos que mais aprecia, nomeadamente tangerina e poejos.
Após pousar o diário no sofá, levanta-se, encaminha-se, muito devagar, para a pequena mesa tipo meia-lua, sobre a qual se podem ver uma série de garrafas, só com licores de sua produção. Apesar de se ter mudado para ali há pouco tempo e não receber visitas assiduamente, pois os traumas resultantes dos mais de vinte anos de casada, durante os quais se sentiu mais um animal sem vontade própria que uma pessoa, ainda não lhe permitem levar uma vida social muito agitada, preferindo a pacatez do lar e a dedicação à causa daquelas que sofrem como ela já sofreu, tantos e tantos anos, Mel faz questão de manter o seu stock de licores sempre bem fornecido.
Escolhe uma das garrafas, mais concretamente a que contém licor de tangerina, enche um dos pequenos cálices e leva-o à boca. É ao sentir o contacto do fino rebordo do cálice com os seus lábios, que ousa fechar os olhos e sonhar com outros lábios, pouco se importando em perder tempo a tentar identificar a quem poderão pertencer, visto ter a certeza que só poderão ser os de Lourenço. Uma certeza ela tem, os do ex-marido é que não serão certamente.

EM - DIÁRIO DE MEL - FRANCIS RAPOSO FERREIRA - IN-FINITA

Sem comentários:

Enviar um comentário

Toca a falar disso