sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

No dia da sua morte – ANA TEIXEIRA

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No dia da sua morte você não estava lá.
Não estava porque a morte não existe, então, você viajou.
Você estava com as estrelas, os planetas e o sol, no vasto infinito do universo. Estava refletindo sobre sua existência, seus amores, seus desamores. Sim, desamores, porque, embora ainda longe da perfeição, você não sabia sentir ódio, nem mesmo de um pernilongo que te acorda no meio da noite.
Então você foi colocando tudo numa balança e a cada segundo surgiam novas lembranças e novos pensamentos. A mente não tinha descanso; estava povoada de sentimentos, emoções e pessoas.
De repente, você se lembrou de que havia morrido...
Imediatamente foi transportada para o jardim do hospital. Era tão bonito e tão florido, que nem parecia um hospital.
Aproximou-se um homem de meia-idade, grisalho, alto e magro, com uma expressão leve e receptiva. Parou próximo ao banco em que você estava sentada e ficou olhando para você.
Imediatamente um pensamento invadiu a sua mente: acho que terei de partir.
Mas o homem de semblante calmo nada dizia, nada fazia. Somente observava.
Você ficou intrigada e teve curiosidade de ver o seu corpo.
Imediatamente você foi transportada para a singela capela que ficava anexa ao hospital.
Havia somente três salas e uma delas estava ocupada.
Você viu muitos amigos e familiares próximos e outros que não via há tempos. Todos com semblante triste.
Você tentou falar com eles, mas todos estavam alheios à sua presença. Somente um gato no canto da sala olhou para você e abanou o rabo. Ficaste feliz por um tempo, mas logo o bichano levantou e saiu.
Então você criou coragem e aproximou-se do caixão. Levou um susto grande e só não desmaiou porque estava morta...
Nesse momento, aquele distinto senhor que estava no jardim apareceu e fez menção em amparar-te. Como estava muito fraca, aceitou a ajuda.
No momento em que seus braços a envolveram, você sentiu o chão desaparecer e tudo aquilo foi se tornando um vulto, uma memória distante.
O tempo passou. Dias, noites, semanas, meses. Você não conseguia saber a dimensão do tempo passado. Mas sentia-se mais viva do que nunca. Saudável, mais jovem, com mais vitalidade. Não sabia explicar como.
Agora você trabalhava com crianças. Auxiliando-as em sua educação. Aquele lugar era uma escola, muito linda, reluzente, ampla, com todas as janelas iluminadas pelo sol.
Não se comparava a lugar nenhum na terra. Era muito melhor.
Você estava feliz.

EM - VERSO & PROSA - COLECTÃNEA - IN-FINITA

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