segunda-feira, 18 de outubro de 2021

O corpo é como o sentimento, cresce! - VIEIRINHA VIEIRA

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Era muito menina, mas já temia a existência dos céticos. Muitas eram os que por vezes se amedrontavam com aqueles que sabiam, eram mais velhos e tinham outras experiências, tinha de respeitar os mais velhos e crescer aprendendo que não se deve questionar os que sabe... até porque ela não dizia nada de jeito!
Dentro do peito sentia que a ferida era profunda, mas ainda não tenha descoberto como lá chegar para curar.
Na verdade, a infância passou e ela quase nem deu por isso, chegou a adolescência e o desânimo por vezes parecia amontoar-se. O primeiro rapaz que beijou, sentiu nojo...passou o resto do ano a fugir dele como o diabo da cruz, por bem que não sabia o significado da frase, mas a mãe e o senhor prior usavam-na muitas vezes.
Veronica era uma observadora nata. Gostava de moda, mas tinha um certo prazer em mostrar a sua capacidade intelectual, era alta, ou seja, alta comparada com a grande maioria das raparigas da sua idade, mas não tão alta como Ana Maria. De cabelos loiros a esbarrar-lhe a anca, por onde passava não passava despercebido.
Veronica tinha um sorriso encantador e esboçava seus lábios de uma forma ternurenta, escusado será dizer que era a eleita da turma. Os rapazes babam-se para poder dizer-lhe um olá! O Filipe que era meu companheiro de carteira era um deles. Para o Filipe eu era uma boa amiga, e na verdade. Era mesmo!
Talvez mais que amiga, uma irmã. Isso porque tinha um irmão e sempre sabia o raciocínio dos rapazes com mais clareza.
Filipe era apaixonado por Verônica!
Escusado será dizer-vos que era eu que lhe escrevia as deliciosas cartas de amor.
Mas, tal como era amiga de Filipe, exatamente na mesma medida eu era amiga de Verônica. Havia sempre a ovelha negra da turma que por algum motivo ninguém gramava, a roíninhas. Mas esta era minha colega na vida dupla e partilhamos um segredo. Eu e os segredos. Verdade sempre fui uma boa guardadora de segredos e lá tentava apaziguar as coisas com a roíninhas...
Terminado o ciclo na verdade nunca mais os voltei a encontrar, mas trazia como apêndice a roinas mas sempre fica a recordação dos bons e dos não tão bons momentos que passamos juntos.
A amizade era daquelas coisas que nos fazia correr até a torre dos clérigos e ir espreitar a cidade ou então visitar a feira popular até já não poder mais... parece que ainda consigo ver Verônica correr com os seus botins de salto alto. Em plataforma de madeira, o hippie da época. Verônica nunca perdia sua posse e conseguia sorrir mesmo quando sabia que era ela que nos provocava os sorrisos.
Lembro da minha paixão pelo David e de guardar segredo desta ilusão juvenil, entre outras paixões que senti nunca fui de me deixar cair nas malhas das breves ilusões.
Mas não vos escrevo para falar de mim! Na verdade, não vos escrevo para falar de ninguém, apenas imaginar juntos...
Eram dezasseis horas em ponto e, nesse dia, Nélia tinha teste de português, seu nervosismo era de tal ordem que derrubava tudo por onde passava, ninguém compreendia nada. Entre todos ela era a quem chamávamos de tufão. Havia um motivo para que Nelia ficasse daquele jeito sempre que havia aula de português. Mas era mais fácil para todos não querer ver do que ser confrontados com a verdadeira causa dos porquês… logo após a aula ela saiu em direção a casa. Chorou horas seguidas, sabia que os seus objectivos estavam próximos assim como o verdadeiro motivo que a fazia chorar. Seria dor o que sentia? Ou capricho de uma menina que não se preocupava com nada... na verdade não há nada para nos preocupar! E Nélia sempre resolvia os seus problemas hoje. Nunca fora rapariga para deixar para depois. Ela sempre preferia enfrentar e deitar de cabeça tranquila.
Na escola todos sabiam da sua grande paixão pelo David! Será que este era o mesmo David da minha Paixão? ou não... teríamos sido colegas de turma ou apenas frequentamos o mesmo local? Até aos dias que correm ainda ninguém descobriu isso...
Na verdade, até David ficou sabedor do amor que Nélia sentia, ela não tinha medo de amar.
O romance inicia numa fase bastante controversa das suas vidas. Nélia tinha programado viajar para os Estados Unidos e David desejava curtir umas longas férias na Califórnia, haviam fatos omitidos mas isto dos humanos permite.
Tal como permite intervenções nos seus próprios sentimentos, como se muitos usassem um bisturi e removesse o que de errado havia em si mesmos.
E fora lá que conhecera Hugo!
Sem ter certeza se tinha acabado o seu relacionamento com David, Nélia torna-se distante e a determinada altura chega mesmo a afastar-se deste para que não acabasse em rolo. Mas que rolo... Já David em plena Califórnia só pensava em miúdas, praia, surf e uma cerveja.
Está-se mesmo a ver que nem tempo tinha para lembrar do amor de Nélia, sim. Ainda hoje me pergunta se David algum dia foi apaixonado por Nélia?
Nunca vou esquecer o dia 26 de Agosto de 2012, precisamente as 20 horas quando toca o telefone, cause nem quis acreditar quando ouço do outro lado Nélia! Sim, ela estava a ligar-me dos Estados Unidos. Mas porque eu?
Sim, Nélia sou eu como estas?
Desculpa incomodar, mas sabes alguma coisa do David? É que tento ligar com ele e não consigo ligação.
A minha vontade foi dizer-lhe: Nem espero que ele volte da Califórnia algum dia, mas contive-me e deixei sair um leve sussurro: Não.
E não sabens...
Nem deixei que terminasse a pergunta! Disse-lhe de imediato que não sabia de absolutamente nada, que não via o pessoal da turma dês da mesma altura que ela e o facto de não viajar para forma não significava que não tinha coisas para fazer. Até porque arranjara um emprego e nem sabia se voltava para o ano seguinte.
Senti a tristeza subir-lhe pelas cordas vocais!
Na mesma noite acabou por ceder ao convite de Hugo para um jantar, ali mesmo no restaurante do hotel.
Ai, amiga ele é tão encantador!
Lá a convenci a ir sem sentimento de culpa e pedi-lhe que me deixasse ao corrente da situação e tal como lhe tinha dito, afinal que mal poderia existir num jantar entre amigos. Apaixonar-se? Mas só quem já está livre de amarras ou sentimentos volta a criar novos laços e se esta se apaixonasse, seria um ótimo sinal indicativo do que já todos sabiam. A relação dela com David não tinha qualquer futuro.
O ano começou e eu tive de deixar o emprego para poder levar adiante a conclusão dos estudos, Nélia voltará dos Estados Unidos já fazia uns dias e David, ainda não tinha dado sinal da sua existência. Havia rumores que não voltaria mas na verdade este ao fim de quatro dias lá se apresentou e com uma cara de pau que todos julgaram estar a ver mal. Aproximou-se da Nélia como se ainda namorado fosse e ficou muito aborrecido quando esta o deixou a falar sozinho. Como se não bastasse ainda sobrou para mim, queria fazer de mim correio. Mas não teve sorte nenhuma.
Nélia afastou-se do grupo geral da turma e eu comecei a ser a sua grande amiga e contávamos os nossos segredos uma à outra quando não podíamos estar juntas, ligávamos, mas existia sempre feedback.
Escusado será dizer que Nélia e Hugo mantinham uma relação muito próxima e diria que chegaram mesmo a casar mais tarde, que hoje sou a madrinha de um dos seus filhos e que ver a Nélia feliz me faz bem, afinal somos como duas irmãs.
Ah, eu não cheguei a casar, no entanto tenho uma relação de longo tempo com Adriano. Acho que se vai manter assim por algum tempo, afinal só muda quem está mal.
David por exemplo, depois que perdera os pais teve de trocar a prancha de surf pelas bombas de gasolina e como todos do grupo a vida mudou.
Mas Nélia aprendeu a lição. A pressa nunca é boa conselheira, mas sabem uma coisa amigos? O mais importante é que ela encontrou a sua felicidade!
E já agora: E eu a minha! Formas diferentes, mas não menos felizes.

 EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (PROSA E CONTOS) - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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