LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
A borboleta beijou o seu ventre e nele nasceu uma flor que depois de nove meses, desabrochou.
A espera faz o tempo andar devagar, quanto mais se espera, mais lento anda o tempo. Esse tempo será de preparo?
Ouviu o sino da igreja batendo oito horas, era domingo, dia de missa.
Rezou em silencio olhando para um quadro de Nossa Senhora, pendurado na parede, acima da porta, precisava de ajuda, a dor contorcia o seu corpo, apenas uma mão amiga lhe amparava, a dor vinha e ia. O tempo continuava na sua lerdeza desesperadora, ela tinha pressa que chegasse ao fim aquela agonia, mais dor, maior ainda e quem chegou, foi quem esperava.
O caminho foi tortuoso e cheio de gritos! O vidro de um armário, à frente dela, refletiu a chegada, ela viu partes do seu corpo dilacerado, restos de casulo pendurados, sangue... viu tudo, até que chegou alguém para fazer a reconstrução e tampou a sua visão. E lá veio o tempo de novo, longo, doído e cheio de ansiedade de pegar nos braços o ser parido.
Ai que pena, a borboletinha veio com uma asa quebrada!
Pobre borboleta defeituosa, não poderá voar e não será amada como as outras, afinal, defeito é defeito e se não tem conserto, será para sempre!
Ela chorou, chorou, chorou muito, não se conformava, o tempo não a tinha preparado para isso!
Tentou de várias maneiras consertar o defeito, foi cada dia num lugar, cada método diferente do outro, uma judiação, e nada adiantou. Enquanto isso, a borboletinha sorria para ela, batendo a asinha sã, alegre, dócil, inocente, mamando no seu peito. Que borboletinha boazinha!
Quatro vezes seu ventre recebeu o beijo da borboleta, quatro seres diferentes ela pariu, cada um tinha o seu próprio desenho e suas próprias cores, cada um ela amou de uma maneira particular, confessou que a borboleta aleijada foi a mais difícil de amar, não sabia se por culpa sua ou por culpa dela. Culpa.
O tempo as distanciou no meio da vida e as reaproximou no final. Houve amor sim, não houve foi intimidade entre elas.
EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (PROSA E CONTOS) - COLECTÂNEA - IN-FINITA
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