Agradecemos à autora SUZANA D'EÇA pela disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 - Poesia, prosa ou conto, porquê?
Na
verdade, escrevo em todas as áreas citadas na pergunta e em crónicas. Já
escrevi livros infantis, poesia, crónicas em blogues e também contos, tendo
pelo menos já três publicados. Tenho já 32 livros coletivos…enfim a escrita
simplesmente brota em mim. O meu avô materno era jornalista, cronologista,
dramaturgo, poeta, costumo dizer que escrever está-me nas veias. Confesso, no
entanto, que me falta o tempo e o espírito para me promover, pois penso sempre
que escrevo por amor e penso na frase de Saint Exupéry “O amor verdadeiro
começa lá onde não se espera mais nada em troca”. Fico sempre numa atitude de humildade, de não
falar muito de mim, o que quem sabe não ajuda, porque afinal quem escreve é
para quem lê e os leitores são o nosso maior alento.
Escrever
é muito gratificante pois temos a noção de que saltamos para um mundo mágico,
onde a criatividade tem asas. Nos livros infantis, é importante ressalvar que
para além do entretenimento que está sempre ou deve estar presente, o objetivo
que é o de incutir aos mais jovens valores importantes num mundo de inclusão,
onde o que impera é a pessoa enquanto valor humano. Na verdade, importa o que
forma o carácter das crianças, adultos de amanhã, e os valores interiores que
lhes vão sendo incutidos. Importa também quer na criança quer no adulto a
perseverança da sua humildade e seu respeito pelos outros.
Nos
contos eu baseio-me na vivência criando narrativas e personagens fictícias a
partir de pequenos factos reais e de algum ponto de pertença de pessoas que
conheci ao longo da vida e coloco-me na pele dos personagens tentando agir e
falar como elas através das palavras que escrevo. Mas faço-o com muito
amor. Em todas as fases da minha vida
destaca-se, mais do que tudo, a importância da amizade e do amor. Na vida nada fará
sentido se não valorizarmos estes dois sentimentos.
No
que respeita à poesia, tenho de responder, com honestidade, que me brota. Estou
a guiar, ou a noite sem dormir, ou a pensar e “brota-me” em torrentes, umas
vezes doces outras mais amargas, tal como a própria vida. A vida nem sempre é
feita de momentos felizes, mas temos sempre de agradecer o dom da vida e
valorizar os momentos felizes que temos e é disso que é construída a felicidade.
Se repararmos bem, é construída mais de
momentos felizes que nos advêm quando proporcionamos momentos felizes aos
outros do que de momentos felizes que advém de uma conquista solitária.
Daí que escrever é um processo solitário, mas em comunhão com os outros, os que nos inspiram e os leitores para quem escrevemos e pretendemos que connosco tenham uma boa vivência na experiência de nos lerem. Digamos que se gera ali uma parceria e uma simbiose literária muito rica.
2 - Quase um ano de pandemia, o que mudou na sua rotina, enquanto autora?
Neste
contexto atual da pandemia, do novo coronavírus, as pessoas estão muito ligadas
ao mundo tecnológico dos jogos, aplicações das internet e filmes ou animações
no caso das crianças. Mas estes mundos podem e devem conviver. É importante dar
valor a uma cultura de família e para a família, e reaprendermos a estar juntos
e fazer programas juntos. Eu acho que este confinamento nos trouxe, no meio de
tanta infelicidade, alguns ensinamentos positivos: cuidar da terra e estar em
família, fazer programas juntos. Mente sã em corpo são. Passeio higiénicos
juntos, ver um filme juntos, ler juntos, ou assistir juntos à leitura de uma
história. Mas também estar atento ao mundo do “online”, fazer vídeos de leitura
da história, fazer leituras teatrais encenadas, trailers de animação e ler
livros digitais. Claro que ajuda participar em eventos online, pesquisar para
aprender mais sobre o mundo e os outros, mas também agora, com o
desconfinamento, conviver e contar histórias através do manuseamento do próprio
livro. Ler desde muito cedo, no final do dia num jardim, na praia depois do
banho, antes de ir para a cama, são hábitos que deviam fazer parte da nossa
rotina e só se consegue isso criando esses espaços de lazer, criando esses
parêntesis no tempo. E para quem escreve, tentando que os leitores vivenciem a
própria história através das emoções que se escreve nas mesmas quer sejam prosa
ou poesia, é importante transmitir as sensações dos sentidos como o cheiro, o
paladar e a visão. Em todos estes
capítulos a ilustração tem um papel chave, mas também as palavras que
escrevemos, na forma como damos ênfase e amor e na forma como as colocamos
tecnicamente na folha, da própria história que contamos.
A Palavra, em tempo de pandemia, substitui o toque.
3 - O que tem feito para manter-se produtiva e dar continuidade aos projetos em tempos tão restritos?
Ui.
Tem sido um ano muito positivo, graças a Deus, com experiências maravilhosas as
quais só tenho que agradecer.
Já, em 2021, colaborei em vários eventos nacionais e internacionais tais como o Festival Literário Internacional do Movimento Exploesia - Brasil, FLIPF - 2ª Edição - Festa Literária Internacional de Praia do Forte- Brasil; a 20 de março de 2021: Tardes De Anto - Casa Jasmim Associação; em abril “Exposição de poesia círculo artístico e cultural Artur Bual” no fecho da comemoração de 20 anos de Artur Bual, com poesia em kapaline, exposta na exposição do artista e dos artistas amigos do Círculo. Colaborei, presentemente, em vários livros coletivos a serem publicados ainda este ano (uns já recebi outros irei receber) tais como O Mulherio das Letras, Livro Aberto, Coletânea de Info Declamador “Brisas de Primavera”, livro coletivo “No calor da Poesia, a esperança” das Edições Vieira da Silva, coordenação de Alexandre Carvalho, com ZL Books, no Brasil, na antologia de poesia galaico-portuguesa e ainda Coautora na antologia do Centenário de Maria Judite de Carvalho e CADERNOS DE POESIA, VII. 2021; Colaborei também em várias páginas literárias e dei entrevistas escritas para blogues, revistas on-line e programas rádio, como, por exemplo, Lentes de Poesia. Mas sou discreta e falta sempre um passo que por vezes não está no meu trilho ou não o soube dar. Fui por outra estrada ou ruela ou atalho. Não me importo que falte, é bom ter passos para dar e ter o coração sempre à espera. Dá boa vibração para acolher o devir.
4 - Pontos positivos e negativos na sua trajetória na escrita.
Tudo o que recebi e dei é uma mais-valia. No entanto, há espaço para novos autores. Mas há lobbies e também pequenos grupos que se protegem uns aos outros, nem sempre os mais talentosos, e não se dá muitas oportunidades a quem está de fora e é difícil rasgar… Eu também não quero rasgar caminhos, quero rasgar horizontes e abrir janelas e respirar, quero caminhar em trilhos e conseguir ser caminho, caminhando. Não tenho feitio para ficar a bajular, mas tenho para agradecer.
5 - O que pensa sobre essa nova forma de estar, onde tantas pessoas começaram a utilizar LIVES e VÍDEOS para promover suas atividades?
Eu acho que já respondi em cima. Alongo-me sempre muito ah, ah, ah. Acho benéfico chegarmos mais longe e a mais pessoas e estarmos perto de quem está longe, não de coração pois que a quem queremos bem está sempre perto de nós, mas de alguma forma presencialmente mesmo não sendo uma presença física. Mas de qualquer forma tudo tem de ter conta, peso e medida e, às tantas, é demais. Acedo às redes sociais e o número de notificações não tem conta e tudo o que quero, por vezes, é fugir e ir para a rua conviver com pessoas, viver a vida. Por vezes, em vez de agradável é um inferno, permita-me a expressão. Eu sou sempre muito sincera! Mas bem doseado acho importante e fundamental abraçar o futuro que vai muito por aí.
6 - Acredita que o virtual veio ocupar um espaço permanente, sobrepondo-se aos encontros literários presenciais, pós pandemia?
Sim acredito que veio para ficar e sobrepor-se não sei se será ainda neste tempo. Mas em paralelo, sim. É curioso porque se consegue por vezes através dos lives estar a dialogar com músicos, atores e escritores de quem fomos fãs a vida toda. Gerou-se grande proximidade entre as pessoas e falo a nível nacional e mundial e isso é extraordinário. Atravessámos oceanos com a internet e não deve ser em vão que se usa a palavra “navegar”.
7 - Se pudesse mudar um acontecimento em sua vida literária, qual seria?
Na minha participação online, o ano passado, no Mulherio das Letras, estive com problemas técnicos. Não consegui juntar-me com vídeo. Não consegui resolver o problema e entrar e o tempo esgotou. Devia ter entrado só com som e aproveitar aquela experiência para além-fronteiras, que é sempre enriquecedora e a onde se aprende mais, conhecendo melhor outras autoras com quem dialogamos. Não podemos viver na nossa ilha, no nosso eu, fechados em nós mesmos.
8 - Indique-nos um livro que lhe inspirou
Esta é difícil pois não parava de escrever nomes. São tantos. Vamos lá, só a alguns: Eça de Queiroz, Luís Vaz de Camões, Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Rosa Lobato Faria (poesia), Mário de Sá Carneiro, António Tabucchi, Gabriel Garcia Marquez, Marcus Vinícius de Moraes, Ricardo Eliecer Neftalí Reyes Basoalto - conhecido popularmente como Pablo Neruda, Rainer Maria Rilke, Pedro Paixão, Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa - Agustina Bessa Luís, José Tolentino de Mendonça, Teresa de Saldanha, Sophia de Mello Breyner Andresen, Yvette Centeno, Alice Vieira, Mario Vargas Llosa, Umberto Eco, Mia Couto, Marguerite Yourcenar, Orhan Pamuk, Lev Nikolayevich Tolstoi - Leon Tolstói, Fiódor Dostoiévsk, James Joyce, Thomas Mann, William Faulkner, Jung Chan, Somerset Maugham, Ernest Hemingway, Alain Absire, Carlos Ruiz Zafón. Gosto de vários novos autores. Ui, tenho que parar. Se não, não acabo e apagam tudo, eh, eh, eh - gosto de rir, faz-nos bem à alma.
9 - Quem é Suzana D’Eça no reflexo do espelho?
Acima
de tudo, um ser humano, uma mulher, uma mãe, uma filha, uma pessoa solidária
que escreve com delícia e que ama a vida. A vida é um dom.
Depois sou tudo o que já fui: Criança; Jovem; Estudante; Viajante; Professora de História; Diretora Comercial e Relações Públicas; Coordenadora de Relações Públicas e Gestão de Eventos em televisão; aluna de Escrita Criativa e de Storytelling; Consultora de Relações Públicas e Cultura e tudo aquilo que continuarei a ser: crente, positiva, empreendedora e sonhadora. Gosto de Acreditar!
10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?
Respondo sempre igual, não por ser repetitiva, mas como um lema e uma mensagem de esperança: Qual a minha maior paixão? A Vida
Suzana D’Eça nasceu na cidade de Coimbra e vive em Lisboa, onde se licenciou em Ciências Históricas. Leitora obsessiva de literatura e poesia desde a sua adolescência, começa a escrever poemas e contos desde cedo. Completou cursos de escrita criativa e de storytelling. Já participou em mais de 30 antologias tendo já publicado, a solo, contos, poesia e dois livros infantis, pelos quais já recebeu vários prémios, em Portugal e no Brasil. A maior paixão: a vida.
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