terça-feira, 15 de junho de 2021

DEZ PERGUNTAS CONEXÕES ATLÂNTICAS... ANTÓNIO MOTA

Agradecemos ao autor ANTÓNIO MOTA pela disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - O que entrega de si, enquanto pessoa, na hora de escrever?

Tudo. Escrevo com uma liberdade de pensamento absoluta, com uma entrega de mim mesmo total, com uma autenticidade e uma sinceridade que me sai quase fisicamente das entranhas.

2 - Criar textos é uma necessidade ou um passatempo?

Certamente que é uma necessidade. Não é uma necessidade que me imponho através de horários rígidos ou de rituais à espera da escrita. Antes sim, quando a escrita me surge numa ideia, num ritmo em que tropeço, numa frase que salta, num pensamento que cai não se sabe quando nem de onde, aí, sim, surge-me sem dar por ela uma necessidade de escavar a ideia e o sentimento até ao mais fundo e ao mais longe, numa concentração em que o tempo passa sem se ver e me dá até um prazer físico. Mergulho completamente no assunto, e nele fico, gravando-o, ora intempestivamente, ora em longos compassos de reflexão e de espera, ficcionando. Até se sente água na boca da escrita quando a escrita avança, e se está embrenhado nela.

3 - O que é mais importante na escrita, a espontaneidade ou o cuidado linguístico?

Seguramente a espontaneidade. Mas, espontaneidade em mim é também sinónimo garantido de cuidado linguístico, não tanto no sentido da medição exacta da sintaxe, na ordem perfeitinha das palavras, expressões e frases, mas mais no sentido do cuidado linguístico que faça saltar dançando a ideia, a sua sedução e o seu enleio. Às vezes deito fora a gramática mais clássica no sentido de libertar a linguagem mais plena de estética e de sentido.

4 - Em que género literário se sente mais confortável e porquê?

Seguramente na poesia escrita na forma de prosa, vulgarmente chamada prosa poética, mas que eu acho ser mais que isso. Aliás, depois de eu desenvolver um texto cinco tópicos (que numero sempre), facilmente transformo cada um deles num poema. E porquê? Porque a poesia escrita em prosa é dotada de mais completude significativa. Para daí fazer poemas, é só estender as palavras e cortar as linhas.

5 - Que mensagens existem naquilo que escreve?

A dimensão do milagre da nossa existência. Não o milagre alegre por estarmos aqui condenados à nossa mortalidade, mas o absoluto milagre impossível de estarmos aqui, num encadeamento absurdamente absoluto que demonstra como o impossível é possível. Basta para tal, e mudando de azimute, haver eternidade. Portanto, existe essa coisa fascinante do tempo: existe? é um fluxo? Não existe? Há também, e por via disso também, a questão das nossas origens: A busca dolorosa até do entendimento impossível de tudo. Se a vida tem sentido. E que sentido temos que lhe dar, tenha ela sentido ou não. O que é o sentimento? O que é o pensamento? Porque não se impõe à nossa racionalidade a prática do bem?

6 - Quais as suas referências literárias?

Em todas as épocas e em todos os períodos há maravilhas. Ficando por aqui: Camões, inevitavelmente e sempre, Camilo, Jorge de Sena, Pessoa (mas só na Mensagem), Antero, Herculano. Shakespeare, Dante, Walt Whitman, os clássicos todos.

7 - O que acredita ser essencial na divulgação de obras e autores?

A sua marca pessoal. A sua autenticidade. A sua coragem de discorrer livre. A sua voz própria. Se a não tiver, não vale a pena.

8 - O que concretizou e o que ainda quer alcançar no universo da escrita?

Já participei em duas colectâneas da In-Finita; uma colectânea de Contos Originais da Colibri, com o conto Augusto Sabiel - o homem que bebia livros loucos e sabia, um conto que eu acho extraordinário, se o souberem ler, participação nos Livros 12, 13, 14 e 15, da Colectânea de Poesia Lusófona, da Colibri. Quero publicar um livro que reúna os meus contos inéditos, outro alguma da minha poesia, outro com crónicas poético filosóficas, outro com diálogos, e por que não romances?

9 - Porque participa em trabalhos colectivos?

Porque nunca me importei por conhecer o meio editorial, nunca me informei, nunca pedi nem procurei favores, nunca quis editar acima de tudo, mas antes escrever. Porque só me dediquei à escrita mais a fundo e a sério a partir de 2007. Porque participar em trabalhos colectivos é mais fácil e mais acessível.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

Por que achas que a escrita se te impõe? Por que só agora escreves suprindo uma necessidade? E isso da imposição e da necessidade é mesmo verdade? Explica isso. A resposta a estas questões está em parte dada na forma como respondi.

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