segunda-feira, 24 de maio de 2021

DEZ PERGUNTAS CONEXÕES ATLÂNTICAS... PIETRO COSTA

Agradecemos ao autor PIETRO COSTA pela disponibilidade em responder ao nosso questionário

      1 - O que entrega de si, enquanto pessoa, na hora de escrever?

     A minha percepção e sensibilidade no tocante às vivências do cotidiano e eventos que me circundam, cotejando as palavras que melhor desnudem como penso e sinto, no esforço de dialogar com várias vertentes do saber, em especial a filosofia, a psicologia e a literatura, sem renunciar à sutileza das associações inesperadas e metáforas que a poesia proporciona.

     2 - Criar textos é uma necessidade ou um passatempo?

    Tudo ao mesmo tempo, pois escrever é algo que gratifica cada dia de minha vida de propósitos maiores e, quando não o faço, sinto os grãos de areia da ampulheta se esvaírem inutilmente.

     3 - O que é mais importante na escrita, a espontaneidade ou o cuidado linguístico?

   Eu considero que ambas têm sua importância, mas depende muito do objetivo pretendido com o texto. Por vezes, um grande texto não surge espontaneamente, mas a partir de uma demanda social como, por exemplo, a violência sistemática contra os negros e mulheres, e a escolha criteriosa das palavras ajuda a instigar uma leitura mais intelectualizada, no sentido de minuciosa e crítica. Por outro lado, a espontaneidade na escrita pode aproximar leitores que têm afinidade com tal linguagem, mais concisa, imediata, amena. Eu tento equilibrar essas tendências na produção de meus textos, para evitar indesejáveis excessos, ou seja, que fiquem demasiado rebuscados ou demasiado simplórios. Acredito que a espontaneidade é o mapa para reconhecer os “tesouros da observação” (Nabokov) e que o trato cuidadoso com as palavras na acepção do mote juste de Flaubert, não deve significar, absolutamente, uma postura pedante ou de diletantismo, mas pode ser uma forma de cultuar as preciosidades de nossa língua, de modo a expressar com riqueza as nossas ideias e emoções sobre os mais diversos assuntos que nos angustiam e fascinam.

     4 - Em que género literário se sente mais confortável e porquê?

   A poesia, porquanto se trata de uma escola extraordinária para o aperfeiçoamento da linguagem e da profunda expressividade, com suas sutilezas e ambivalências, metáforas, sinestesias, associações inesperadas, renunciando ao supérfluo e ao abuso de chavões e clichês.

     5 - Que mensagens existem naquilo que escreve?

   O amor, a natureza, o transcendente, a pluralidade das manifestações culturais, as relações afetivas com seus encontros e desencontros, os valores transcendentais e das virtudes urdidas nas lutas democráticas que realçam a posição superior máxima da dignidade do ser humano, os paradoxos da era contemporânea de maximalismo digital, a problemática do conhecimento, a coisificação da vida, o incômodo com a devastação do sentimento de coletividade e cidadania, os esbulhos psíquicos, morais, sociais e identitários.

     6 - Quais as suas referências literárias?

   Tenho muitas referências. Seria enfadonho e inútil listar todos, pois a memória me trairia. Portanto, vou fazer algumas menções, assumindo o risco de preterir algum nome. Já peço minhas desculpas antecipadas por isso.

   Na poesia, Drummond, Manoel de Barros, Cecília Meireles, Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Garcia Lorca. Na prosa, Machado de Assis, Ariano Suassuna, Mário de Andrade, Vargas Llosa, Jorge Luís Borges, Dostoiévski, Jane Austen, Goethe, García Márquez, Dickens, T. S. Elliot, Victor Hugo, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa. Amo também a Filosofia. Aristóteles, Platão, Nietzsche, Schoppenhauer, entre outros arautos de diferentes períodos e escolas, só para citar os que mais me influenciam.

     7 - O que acredita ser essencial na divulgação de obras e autores?

    Acredito que os novos tempos, das redes sociais, têm demonstrado que literatura não se faz sozinho. É crucial construir parcerias, vínculos, de modo que se afigura deveras importante para os escritores e escritoras que desejam crescer na literatura, desenvolver um sentimento de comunidade literária, no sentido de ter por meta encurtar as distâncias, obtendo uma maior aproximação e diálogo, e, com isso, o almejado pertencimento. Muitos trabalhadores da palavra têm obtido justo reconhecimento e forte notoriedade de suas obras, utilizando as ferramentas digitais de comunicação, publicação e divulgação, que envolvem ilustradores, agentes e produtores culturais, editoras, leitores, resenhistas, etc.

     8 - O que concretizou e o que ainda quer alcançar no universo da escrita?

  Tenho diversos prêmios, honrarias e títulos. Pertenço a Academias Literárias e Entidades Culturais no Brasil e no exterior. Publicarei, ainda neste ano, a minha quinta obra literária, Lua a Pino, pela Edições e Publicações.

    Sou autor das seguintes obras: Entre a Caneta e o Papel, Chiado Books, 2018; A Rosa dos Ventos, Art Letras, 2019; Juras de Poesia Eterna, Art Letras, 2020 e Urbanos, Art Letras, 2020.

    Ainda pretendo escrever um livro bilíngue, fazer um lançamento na Europa e aprender espanhol.

    9 - Porque participa em trabalhos colectivos?

   Porque nosso fazer literário ganha densidade e amplitude quando lemos autores e autoras de distintos repertórios, linguagens e formações. E também porque acredito que a experiência de participar de um trabalho coletivo fomenta a aproximação e o diálogo entre leitores e escritores que se interessam pelo assunto tratado, o que considero bastante salutar.

    10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

    Que conselhos eu daria para que um escritor que está iniciando a carreira.

     a - Não tenha obsessão pela famosa originalidade. Isso pode levar você a trilhar pelos atalhos fáceis, enganosos, das listinhas prontas, das receitinhas infalíveis.

     b - Esqueça a historinha do escritor como um ser extraordinário, provindo do Olimpo. Escrever é labor. É trabalho, disciplina. É ser tomado pela insatisfação. É um caminho insólito. Hemingway reescreveu 39 vezes o final de "Adeus às armas".

  c - Guie-se pela sua curiosidade. Não se furte ao prazer da leitura. Não leia fundamentalmente por obrigação ou para atingir uma determinada meta. Mas por amor ao saber. Para ser mais.

     d - Participe de certames literários e coletâneas. Tenha uma vida literária ativa.

    e - Leia manuais estilísticos, que são úteis como consulta para refinar a técnica, mas não fique refém deles. Os fundamentos da arte de bem escrever nós podemos encontrar e assimilar nas obras de grandes autores/autoras.

    f - Imprescindível desenvolver as habilidades do senso de observação - a realidade para o escritor é como a tinta para o pintor (Autran Dourado) e de ampliação do conhecimento - quanto mais diversidade na leitura, maior a percepção e sensibilidade acerca do uso das palavras e as possibilidades de associação. 

2 comentários:

  1. Só agradecimentos pelo belo trabalho!
    Continue!!!

    ResponderEliminar
  2. Caro confrade e amigo poeta Pietro; muito rica, profunda e sábia entrevista. Gostei muito! Parabéns! Que Deus ilumine seus caminhos, hoje e sempre!

    ResponderEliminar

Toca a falar disso