sábado, 5 de dezembro de 2020

Cangalha do Vento (excerto VII) - LUIZ EUDES

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Os dias que antecederam a viagem de volta foram todos de lembranças e reflexões sobre a sua aventura rumo a São Paulo. Tinha dezoito anos quando saíra de lá, uma roça de mandioca, que recebera de herança do velho Aristeu, e coragem para trabalhar era tudo que tinha. Foi uma viagem difícil, dez dias torturantes num pau de arara. Mas valeu a pena, pensou ele. Não havia mais como permanecer na sua peleja rural. Era emancipado, podia tocar seu caminho de homem. O amor que tinha pelo Junco não era suficiente para mantê-lo ali. Algo novo nele latejava, de um ânimo tal que ele, que nunca saíra daquele pedaço de mundo, sentia poder ir a qualquer canto e conquistar uma vida digna com a força das mãos. E agora chegara a hora de voltar. O filme da lembrança era tão nítido que José Paulo via claramente o dia em que procurara Edgar de Joãozinho para comprar uma passagem de pau de arara para São Paulo. A viagem estendeu-se por longos dez dias num sacolejar enlouquecedor. Quando enfim o veículo alcançou a rodoviária do Brás, as suas nádegas já estavam tão calejadas que o sonhador não conseguia mais sentar.

EM - CANGALHA DO VENTO - LUIZ EUDES - IN-FINITA

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