Agradecemos ao autor RONALDO WERNECK pela disponibilidade em responder ao nosso questionário
1
- Como se define enquanto pessoa?
Pessoa Ronaldo, eu mesmo: Werneck. Sou como eu sou: sem heterônimos. Pessoa, mas não Fernando.
2
- Escrever é uma necessidade ou um passatempo?
Uma necessidade regida às vezes por
um certo ludismo: quase um passatempo. Com o passar do tempo, necessidade
movida a contratempos.
3
- O que é mais importante na escrita, a espontaneidade ou o cuidado
linguístico?
“Ambos os dois”, no dizer redundante
de um velho conhecido. A espontaneidade surge no próprio ato de criação: sem
ela, esse não existe. Após a “explosão criativa”, ou coisa que o valha, há que
se cuidar dos ditames da língua: mais que seguir, aprimorar, expandir o
vernáculo. No dizer de Mallarmé: purificar o idioma da tribo.
4
- Em que género literário se sente mais confortável e por quê?
Na prosa, principalmente na crônica,
onde posso me “soltar” mais, escrever sem compromisso. Os ensaios e artigos
críticos demandam pesquisa e maior atenção. Já os poemas exigem ainda mais.
Raramente surgem prontos, pedem sempre releitura, retoques, até que se dê por
cumprido o ofício.
5
- O que pretende transmitir com o que escreve?
No fundo, passar ao leitor um gosto
pela leitura. Na medida do possível, ensinar, comover, deleitar – como disse
Ezra Pound em seu ABC da Literatura.
6
- Quais as suas referências literárias?
São muitas e variadas, às vezes
surgem das leituras as mais imprevistas. Estou sempre aberto a novas
experiências. Jamais me valho daquele “não li, não gostei”, como na blague de
Oswald de Andrade. Para dizer que não gosto, leio antes, quando necessário,
tudo o que em princípio não me atrai. E volto sempre, com prazer renovado, aos
autores que amo: de Camões a Drummond, de Sophia de Mello Breyner a Cecília
Meireles, de Machado de Assis a Dostoievski, de Cortázar a Joyce, de Mallarmé a
João Cabral de Melo Neto, a Rimbaud, a Baudelaire, e de etcétera a outros
vários etcéteras.
7
- O que acredita ser essencial na divulgação de obras literárias?
Que elas sejam divulgadas com as
informações precisas, com releases bem articulados, de forma a “vender o
produto”. E com o devido critério, com um bom canal de distribuição.
8
- O que ambiciona alcançar no universo da escrita?
Dois ou três leitores atentos e
interessados me bastam. Se gostam, eles acabam por passar a outros, por indicar
esse ou aquele livro. E assim gira, às vezes ao contrário, o chamado mundo literário.
9
– Por que participa em trabalhos colectivos?
Pela amplidão de leitores que eles trazem:
“os dois ou três leitores” de outros poetas acabam, por contiguidade, lendo
meus poemas e, por extensão, disseminando os meus e os dos outros. É uma
questão de “ampliar o diálogo”: “há que tentar o diálogo quando a solidão é
vício”, já dizia Drummond. Questão de convivência, de “viver com”. Nas
antologias, os meus e os outros leitores se entrelaçam numa saudável
convivência.
10
- Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?
“Quando você volta a Portugal?”. Eu
responderia, já saudoso: “Assim que a pandemia passar, já me vejo a circular
pelo Chiado, a reverberar as ladeiras do Rossio, a bordejar pelas margens do
Tejo. Breve, muito em breve, espero. E, súbito, num uníssono, vejo minha voz se
somar à de todos nós”.
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