sexta-feira, 11 de setembro de 2020

DEZ PERGUNTAS CONEXÕES ATLÂNTICAS A... RONALDO WERNECK


Agradecemos ao autor RONALDO WERNECK pela disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - Como se define enquanto pessoa?

Pessoa Ronaldo, eu mesmo: Werneck. Sou como eu sou:  sem heterônimos. Pessoa, mas não Fernando.

2 - Escrever é uma necessidade ou um passatempo?

Uma necessidade regida às vezes por um certo ludismo: quase um passatempo. Com o passar do tempo, necessidade movida a contratempos.

3 - O que é mais importante na escrita, a espontaneidade ou o cuidado linguístico?

“Ambos os dois”, no dizer redundante de um velho conhecido. A espontaneidade surge no próprio ato de criação: sem ela, esse não existe. Após a “explosão criativa”, ou coisa que o valha, há que se cuidar dos ditames da língua: mais que seguir, aprimorar, expandir o vernáculo. No dizer de Mallarmé: purificar o idioma da tribo.

4 - Em que género literário se sente mais confortável e por quê?

Na prosa, principalmente na crônica, onde posso me “soltar” mais, escrever sem compromisso. Os ensaios e artigos críticos demandam pesquisa e maior atenção. Já os poemas exigem ainda mais. Raramente surgem prontos, pedem sempre releitura, retoques, até que se dê por cumprido o ofício.

5 - O que pretende transmitir com o que escreve?

No fundo, passar ao leitor um gosto pela leitura. Na medida do possível, ensinar, comover, deleitar – como disse Ezra Pound em seu ABC da Literatura.

6 - Quais as suas referências literárias?

São muitas e variadas, às vezes surgem das leituras as mais imprevistas. Estou sempre aberto a novas experiências. Jamais me valho daquele “não li, não gostei”, como na blague de Oswald de Andrade. Para dizer que não gosto, leio antes, quando necessário, tudo o que em princípio não me atrai. E volto sempre, com prazer renovado, aos autores que amo: de Camões a Drummond, de Sophia de Mello Breyner a Cecília Meireles, de Machado de Assis a Dostoievski, de Cortázar a Joyce, de Mallarmé a João Cabral de Melo Neto, a Rimbaud, a Baudelaire, e de etcétera a outros vários etcéteras.

7 - O que acredita ser essencial na divulgação de obras literárias?

Que elas sejam divulgadas com as informações precisas, com releases bem articulados, de forma a “vender o produto”. E com o devido critério, com um bom canal de distribuição.

8 - O que ambiciona alcançar no universo da escrita?

Dois ou três leitores atentos e interessados me bastam. Se gostam, eles acabam por passar a outros, por indicar esse ou aquele livro. E assim gira, às vezes ao contrário, o chamado mundo literário.

9 – Por que participa em trabalhos colectivos?

Pela amplidão de leitores que eles trazem: “os dois ou três leitores” de outros poetas acabam, por contiguidade, lendo meus poemas e, por extensão, disseminando os meus e os dos outros. É uma questão de “ampliar o diálogo”: “há que tentar o diálogo quando a solidão é vício”, já dizia Drummond. Questão de convivência, de “viver com”. Nas antologias, os meus e os outros leitores se entrelaçam numa saudável convivência.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

“Quando você volta a Portugal?”. Eu responderia, já saudoso: “Assim que a pandemia passar, já me vejo a circular pelo Chiado, a reverberar as ladeiras do Rossio, a bordejar pelas margens do Tejo. Breve, muito em breve, espero. E, súbito, num uníssono, vejo minha voz se somar à de todos nós”.

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