Agradecemos à autora MARGARIDA PILOTO GARCIA pela disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 - Como se define enquanto pessoa?
Sou um pouco intimista e apreciadora de silêncios e por vezes a melhor maneira de me exprimir é através da dança. Aí as palavras cedem o lugar e esqueço o meu lado mais introvertido. Aprecio a arte em geral e sou bastante eclética e abrangente naquilo que gosto.
Sempre vivi na cidade mas é na natureza que me encontro e completo. Talvez que o meu gosto por ela e pelos silêncios venha dos meus ancestrais alentejanos e da vila piscatória onde menina e adolescente fiz os meus verões. É neste cadinho de paisagens que vou ao encontro das palavras e das emoções. Depois estas exprimem-se na fotografia, na dança e naturalmente no que escrevo.
Sempre fui desportista e enjeito aquela velha ideia de que desporto e cultura são por natureza oponíveis.
Também a música faz parte de mim e à mistura com os silêncios é por vezes fruto de inspiração.
No fundo sou e serei um segredo por desvendar.
2 - Escrever é uma necessidade ou um passatempo?
Escrever nunca será para mim um passatempo e é sem dúvida uma necessidade. Escrevo quase desde que aprendi a ler. Lembro-me das quintas-feiras no liceu, onde a aula de Português era a de redação. Após o tema ser dado, escrevia freneticamente dando largas à imaginação. Fazia-o com paixão, como ainda hoje o faço, embora mais ponderadamente. Sem a escrita morre um pouco de mim
3 - O que é mais importante na escrita, a espontaneidade ou o cuidado linguístico?
O cuidado linguístico é imprescindível. Aliás isto remete-me para uma velha polémica entre inspiração e trabalho. Eu acredito na coexistência de ambos. Considero que podemos ser inspirados por muitas coisas. Falo por mim, é claro, a quem muitas vezes uma frase dita é ponto de partida para um poema. Mas sem trabalho a escrita perde dimensão e profundidade. Há que pesquisar, rever, alterar se necessário. Acho lastimável vermos tantas coisas escritas com erros da mais diversa ordem.
4 - Em que género literário se sente mais confortável e porquê?
Há uns anos diria que na prosa. Foi por aí que comecei e ganhei um prémio num jornal, tinha então 16 anos. A poesia surgiu quando frequentava a Faculdade de Direito mas na altura não lhe dei grande importância. Depois a vida levou-me um pouco para longe da escrita. Quando voltei, foi novamente pela prosa. Atualmente direi que a poesia ganha o confronto mas quem ler a minha prosa percebe que ela tem em si carga poética.
5 - O que pretende transmitir com o que escreve?
Essencialmente escrevo num universo feminino e intimista. Por isso a minha escrita tem forçosamente a ver com as mulheres e com as suas vivências, sentimentos e emoções.
6 - Quais as suas referências literárias?
Não posso citar nomes porque não tenho um único que coloque acima de muitos outros. Sempre fui estudiosa e uma leitora ávida. Daí que percorri os autores da antiguidade, os romances de cavalaria, os renascentistas e todos os clássicos. Penso que é muito importante ter esta base para depois se abraçar os autores modernos e os contemporâneos. Isto tanto na prosa, como na poesia , nos autores estrangeiros e muito naturalmente nos portugueses.
7 - O que acredita ser essencial na divulgação de obras literárias?
Sem dúvida a sua disseminação pelas bibliotecas e pelas livrarias. Partilha nas redes sociais, imprescindíveis hoje em dia, em blogues, em tertúlias literárias. Também sempre que possível, a apresentação ao vivo, nas rádios e na televisão.
8 - O que ambiciona alcançar no universo da escrita?
Não penso em termos de ambição literária. Possivelmente deveria tê-lo feito há muitos anos atrás mas neste momento talvez a mesma passe pela publicação de um livro. Tenho convites de editoras mas devo dizer que ainda não me decidi.
9 - Porque participa em trabalhos colectivos?
Tal como disse antes, estive muitos anos sem escrever e os trabalhos coletivos foram ao princípio o modo como me reencontrei. Neste momento continua a ser um modo de me desafiar e testar e por vezes quebrar o meu silêncio. Tento ser seletiva e privilegio aquelas que me asseguram qualidade e poucos autores.
10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?
O que faria se voltasse a ter 18 anos? Eu diria que faria tudo diferente, mas para isso teria de ter a bagagem que obtive todos estes anos, do que concluo que a vida é uma eterna aprendizagem.
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