DEZ PERGUNTAS CONEXÕES ATLÂNTICAS A... JÉSSICA RODRIGUES

Agradecemos à autora JÉSSICA RODRIGUES pela disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - Como se define enquanto pessoa?

Sou curiosa e isso me move. Gosto muito de aprender, descobrir. Meus olhos brilham a cada oportunidade de novo aprendizado. Sou alguém que aprendeu a ouvir e isto apurou minhas possibilidades de conhecer mais sobre os outros e sobre mim mesma. Sou uma pessoa de fé, acredito em Deus e na vida; alimento meus sonhos e busco fortalecer as trajetórias daqueles que a vida me permite encontrar.

2 - Escrever é uma necessidade ou um passatempo?

Ora um, ora outro. Por vezes escrevo para ressignificar a vida, uma necessidade de registrar anseios, medos, conquistas, descobertas. Outras vezes registro como forma de devaneio, fabulação, pra brincar com as palavras, os significados, sentidos e criar conexões com o imaginário.

3 - O que é mais importante na escrita, a espontaneidade ou o cuidado linguístico?

Acredito na igual importância de ambos. Ao escrevermos, primeiro registramos para nós mesmos, mas, é preciso ter ciência de que um texto para alcançar outro alguém precisa de cuidados que garantam sua compreensão. Em minha escrita busco aliar a espontaneidade atribuindo meu modo particular de escrever, com a revisão atenta, em respeito ao possível receptor do meu texto.

4 - Em que género literário se sente mais confortável e porquê?

Os poemas são meu lugar de conforto, eles costumam “brotar” com mais facilidade. Na prosa, evidencio minha predileção pelos contos e crônicas, visto serem minhas leituras mais recorrentes. Mas mesmo neles, sempre impregno um ar poético, inevitável, porque a escrita aflora em mim um quê de sensibilidade. No entanto, tenho buscado conhecer e transitar por novas escritas, em diferentes gêneros. Não sei se algum dia vou escrever um romance ou um ensaio, por exemplo, mas venho me interessando pela escrita minimalista e arriscado conhecer e escrever haicais, minicontos ou aldravias como as que transpus na Coletânea feminina de Poesias In-finita 2020.

5 - O que pretende transmitir com o que escreve?

Em alguns registros busco transpor meus sentimentos e torço para que dialoguem de algum modo com quem os lê. No fundo, espero que haja alguma conexão entre minha escrita e quem está do outro lado, seja de identificação pessoal, de assombro, até de repulsa que seja, mas espero que minha escrita movimente o pensamento do outro – o sentir do leitor.

6 - Quais as suas referências literárias?

Pois bem, sou o que chamo de “leitora tardia”. Não tive grandes incentivos para formação de repertório na minha infância e adolescência. Classifico-me como uma leitora imperfeita porque amo ler, mas não sou do tipo que guarda nomes de autores, versos ou trechos  decorados. Também não conheço ou li grande parte dos clássicos da literatura. Parece dicotômico em se tratando de uma professora mediadora de leitura, mas faz todo o sentido exatamente porque anseio levar aos meus alunos um pouco do que fui privada a conhecer. Gosto de autores da literatura infantil e amo os poetas. Manuel de Barros, Cecília Meireles, Cora Coralina, Ruth Rocha, Vinícius de Morais. Marina Colasant, Clarice Lispector e Rubem Alves sempre me apetecem. Escritoras contemporâneas vêm me seduzindo também.

7 - O que acredita ser essencial na divulgação de obras literárias?

A veiculação da imagem do autor, um pouco de sua história pessoal (biografia/ trajetória de escrita/obras). Acredito que valorizar o trabalho de quem escreve, ilustra, edita, organiza uma obra literária seja primordial. Particularmente sou apaixonada por capas bem feitas, por editoração limpa e textos bem articulados. Penso que o todo da cadeia produtiva deva ser valorizado nas divulgações – sinopses, releases, quotes, são recursos que causam bons impactos na divulgação.

8 - O que ambiciona alcançar no universo da escrita?

Infelizmente sei da recorrente desvalorização das artes e, com a arte literária não é diferente. Porém, ainda sigo escrevendo porque a escrita me cura e acredito, de verdade, que possa curar a outros. O cuidado com as emoções, numa perspectiva biblioterápica amplia os benefícios da leitura e da literatura, cada vez mais necessários frente ao cenário de caos da atualidade. Minha ambição é ser lida e incentivar a escrita e leitura de outros. Desejo participar do cenário cultural da cidade, me envolver com a cadeia produtiva do livro e em ações de incentivo à articulação literária; nos movimentos femininos, na representação da escrita de mulheres negras e da representatividade das minorias periféricas. Colheitas profissionais fazem parte do pacote de desejos literários.

9 - Porque participa em trabalhos colectivos?

Porque não é fácil ser uma autora independente. A auto-publicação demanda esforços e investimentos pessoais e a publicação coletiva fortalece as iniciativas individuais, de autoras e autores ainda não conhecidos pelo público leitor. A participação em antologias é um caminho palpável, possível e até promissor. É uma alternativa de se fazer conhecer, de levar nossos escritos a outros cantos. Através da In-finita, por exemplo, estou em três publicações para além-mar. Além disso, ao publicar ao lado de outras autoras e autores, temos a oportunidade de conhecer o trabalho de mais escritores, ampliando nosso repertório e incrementando nossa prática de leitura e escrita.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

Respondi muita coisa que julgo pertinente aqui. Transfiro a pergunta a quem me lê e, caso possa, terei o prazer em responder. A quem desejar, estou no instagram como @jesssicarodrigues5 e podemos nos falar por lá. Agradeço à In-finita pela entrevista e pela oportunidade de participação em trabalhos tão lindos!