quarta-feira, 22 de julho de 2020

O não-entendimento da luz - MELISSA SUÁREZ

LIVRO GENTILMENTE OFERECIDO POR IN-FINITA
Saibam mais do projecto Mulherio das Letras Portugal neste link
Conheçam a IN-FINITA neste link

Não entender todo dia a mesma coisa tem outro nome.
Não falo do não se entender o porquê da crueldade humana, do assassinato e da guerra, o do porquê coisas ruins acontecem a pessoas boas, do não se entender o sentido da vida.
Não entender todo dia a mesma coisa que lhe é explicada tem outro nome.
Não falo do não entender da classificação das angiospermas ou da diferença entre adjunto adnominal e complemento nominal ou da dedução da fórmula de bhaskara ou o bom fazer de um balanceamento químico.
“Nossa, você está aí no escuro!”
Também não estou falando de ótica, embora luz esteja envolvida.
E se estivesse falando de ótica teria que falar da luz ambiente (afinal é manhã) e calcular quanto de luminosidade há no espaço para então comprovar com números exatos que ela não está propriamente “no escuro”, não há no banheiro escuridão total.

Ela só não acionou o botão que permite a passagem da corrente elétrica até a luminária não fazendo com que esta tenha efetiva função de lumiar.
“A luz me faz mal.”
A rotina é essa. Uma acorda e entra no banheiro, a mãe “Nossa, você está aí no escuro!” a filha “A luz me faz mal.” A outra aciona o interruptor e vai ao lavabo escovar os dentes enquanto a primeira ainda não se levantou da privada. E de lá, sentada com os olhos fechados, espera a mãe sair e só então se levanta, não sem antes achar o interruptor deixando novamente o ambiente na semi escuridão que seus olhos necessitam, tranca a porta e lava o rosto e os dentes.
Não entender a mesma coisa que lhe é explicada todo dia tem outro nome.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (PROSA E CONTOS) - COLECTÂNEA - IN-FINITA

Sem comentários:

Enviar um comentário

Toca a falar disso