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– Seu filho foi abusado sexualmente, esse indivíduo é pai biológico do menino?
Malvina quase não tem forças para mover afirmativamente a cabeça, volta para casa andando, é uma distância longa até o bairro, para na vitrine de uma loja.
Seu corpo aparece cortado pela metade ao reflexo da lâmpada da rua, pensa que seria melhor se estivesse assim, cortada ao meio, para pelo menos sentir a dor pela metade.
O dia já amanhece quando, exausta, deita ao lado do menino que dorme irrequieto, às nove horas, sai de casa recomendando ao filho que não vá a lugar algum e obedeça sua irmã.
A moça corre atrás dela até o portão:
– Aonde vai? O que tem nesta sacola?
Sem nem ouvir, Malvina caminha para o ponto de ônibus, no centro, senta na praça e ali fica por muito tempo, sente uma tontura e lembra que não come há mais de doze horas, compra um salgado e come a seco.
Deita-se no banco com a sacola sob a cabeça, quando acorda já é noite, senta e permanece na sombra observando a abertura dos bares e a clientela de bebuns e mulheres da noite.
Alarma-se pensando que ele não vem, de repente reconhece a figura, coloca a mão dentro da sacola e espera. Titubeando, olhando para os lados, ele entra numa birosca, ela aguarda pacientemente, a mão que empunha o cabo do facão até umedece e então ele vem, quando está próximo assusta-se com o movimento a sua frente, tenta voltar mas o facão desce certeiro sobre sua virilha.
EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (PROSA E CONTOS) - COLECTÂNEA - IN-FINITA
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