Agradecemos à autora NICOLETA PECELI pela disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 - Qual a sua percepção para essa
pandemia mundial?
A pandemia poderá servir para abrir novos
caminhos e novos destinos que ajudem a humanidade a consolidar a sua acção
sobre este planeta que habita. O mundo precisava de parar, o mundo precisava de
despertar. De repente, começamos a dar valor aos pequenos momentos da vida. De
repente, os sonhos encontram-se no calor de um simples abraço e não na compra
de um bem, ou de um objecto novo.
A pandemia não nos obrigou a ficar
fechados em casa, ela obrigou-nos a olhar para dentro de nós próprios
mostrando, de uma forma real, talvez um pouco rude, a miséria em que vivemos.
Não só a miséria proveniente de condições económico-financeiras débeis, mas sim
a que é gerada e acolhe as componentes mais negras do ser humano. Estamos nesta
situação não por via de um mero acaso, mas sim, pela maldade e pelo egoísmo do
ser humano. Resta saber se aprendemos a lição.
2 - Enquanto autora, esse momento afetou o
seu processo produtivo? Em tempos de quarentena, está menos ou mais inspirada?
A minha actividade profissional não
permitiu que parasse por muito tempo. Embora com um horário mais flexível,
verdade é que o processo de organização do meu trabalho literário beneficiou um
pouco desse factor.
Em
tempos de quarentena consegui redescobrir-me de uma forma produtiva. Enquanto o
mundo se “desmoronava”, à minha volta, fui encontrando algumas mensagens por
detrás de vários acontecimentos. Sinto-me algo mais inspirada agora, neste
período de pandemia.
3 - Quando isso passar, qual a lição que
fica?
“Quando isso passar...” ... É muito
difícil responder, perante esta crua e nova situação. Creio que temos de dar
como adquirido que vai ser preciso conviver com o vírus e os seus efeitos e
consequências durante longo tempo o que implicará, por certo, mudanças
profundas nas nossas vidas. A conclusão a que deveremos chegar, a lição que
deveremos aprender, deverá passar por darmos mais valor à vida na sua forma
simples e pura, lembrando-nos que estamos neste planeta, numa curta viagem,
numa breve passagem. Procurar perceber a nossa missão no mundo, a nossa
essência no universo, e nunca deixar nada por dizer.
4 - Os movimentos de integração da mulher
influenciam no seu cotidiano?
Sim. Ajudam a fortalecer a nossa veia
feminista. Um bom exemplo é, certamente, o projecto literário “Mulherio das
Letras Portugal”, do qual me orgulho de fazer parte. Influencia de forma
positiva o meu quotidiano, não só do ponto de vista linguístico, como na
abertura de novos horizontes, contactos e amizades.
5 - Como você faz para divulgar os seus
escritos ou a sua obra? Percebe retorno nas suas ações?
Divulgo a minha escrita através das redes
sociais, tanto na minha página pessoal, como na que criei e mantenho, página
essa que tem o nome do meu primeiro livro.
Em programas e entrevistas nos órgãos de
CS, nas coletâneas e em tertúlias com os meus pares.
Sim, recebo retorno, sobretudo pelas redes
sociais e demais meios de comunicação, sendo frequentemente comentada e
solicitada pelos leitores criando, por vezes, uma certa cumplicidade, uma certa
ligação entre a escritora e o leitor.
6 - Quais os pontos positivos e negativos
do universo da escrita para a mulher?
Um dos pontos positivos é, certamente, a ascensão
e afirmação da mulher nesse universo, depois das imensas dificuldades e
conflitos - muitos permanecem até hoje - para poder ganhar a sua independência
e um estatuto de igualdade face ao homem.
Um dos pontos negativos poderá ser o
reflexo da abordagem de temas mais ousados, de tabus ou de áreas e matérias
usualmente pouco abordadas pelas mulheres.
7 - O que pretende alcançar enquanto
autora? Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.
Enquanto autora, pretendo chegar o mais
perto possível da alma do leitor. Não acredito que a grandeza de um escritor
esteja no número de obras publicadas, mas sim, na mensagem que tenta passar
para o mundo.
Projecto de curto prazo (Setembro
próximo): a ultimar os preparativos - revisão do texto, grafismo, etc - para o
lançamento do terceiro livro da poesia, que trata um tema sensível e complexo:
erotismo e sensualidade.
A longo prazo, certamente o grande projeto
da minha vida, um romance já em processo de escrita há cerca de três anos.
8 - Quais os temas que gostaria que fossem
discutidos nos Encontros Mulherio das Letras em Portugal?
Sugiro a discriminação entre sexos, ao
longo do tempo. A liberdade feminina sob todos os pontos de vista: a liberdade
de expressão ou, simplesmente, a liberdade (e o direito) de viver. A mulher
foi, e ainda é, apenas um objeto nas mãos de muitos homens.
9 - Sugira uma autora e um livro que lhe
inspira ou influencia na escrita
Philippa Gregory; Duas Irmãs, Um Rei.
10 - Qual é a pergunta que gostaria que
lhe fizessem? E como responderia?
Esta, por exemplo: o que sentes em relação
a Portugal, tu que nasceste na Roménia?
Sinto um grande carinho. Tanto pelo país
em si (as suas belezas, o mar, a natureza, os monumentos carregados de
história), como pelas pessoas que me receberam de braços abertos, fraterna e
calorosamente. Já sinto Portugal como se fosse a minha “segunda terra natal”, a
minha segunda casa. Aqui resido, aqui trabalho, aqui consegui concretizar os
meus sonhos, publicando os meus livros.
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