sábado, 20 de junho de 2020

História de mar e amar - SHEILA MARTINS DOS SANTOS

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Kafi, assim era chamada por todos do bairro de Japeri. Era uma mulher negra, serena como água doce escorrendo pela mata, como um rio em direção ao mar. Tinha cabelo crespo, alto como um Baobá.
Seus olhos eram grandes, pretos e brilhantes como a chuva. Observava atentamente o mundo ao seu redor. Seus olhos falavam mais do que seus lábios.
Havia silêncio torrencial em seu caminhar. Seus dias se constituíam em ecos de quietudes sem fim. Com seus olhos brilhantes, comunica-se com pessoas. Já com as mãos, sinalizava com a fluidez dos ventos de Oyá. Com essa movimentação das mãos, os diálogos ocorriam, bailando em meio ao universo da calmaria.
Sobreviver não foi tarefa suave para Kafi. Porém, aprendeu com a vida a ser como água forte contornado as pedras das desilusões.
Seguindo a direção da vida, a alegria tomava conta de sua alma, pois guardava em seu corpo, como um santuário, um presente de Òsún, o qual seria uma pretinha preciosa que, ao nascer, se chamará Sihle.
Porém, muitos eram os questionamentos a rondar seus pensamentos. Será que seria como a mãe? Será que também falaria com as mãos? Todas as angústias eram sanadas pelo sentimento de benquerença maternal que atravessava o seu corpo.
Afinal de contas, ela era um portal ancestral da vida.
No íntimo do seu ser, só desejava que sua filha fosse forte e aprendesse a fluir tranquilamente como as águas dos riachos, sinalizando com suas lindas mãos negras, suave como o balanço do mar.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL (PROSA E CONTOS) - COLECTÂNEA - IN-FINITA

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