segunda-feira, 8 de junho de 2020

DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - GEORGINA CAÇADOR


Agradecemos à autora GEORGINA CAÇADOR pela disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - Qual a sua percepção para essa pandemia mundial?

Sinto que o mundo está fragilizado. Não apenas pelo nº de doentes, infetados e mortos. Nem só pela economia parada e as carências de toda a ordem a aumentar. É também pensar, que qualquer país pode estar vulnerável a um ataque bélico. Se a Coreia do Norte ou a China (como exemplo) tivesse m a ousadia e a loucura de lançar um ataque, não sei como seria para o poder travar. Os exércitos também estão e podem ficar ainda mais doentes. E isso mostra também a vulnerabilidade do nosso mundo. Perante o que estamos a viver, temos também a ousadia de pensar o impensável e as teorias da conspiração crescem a ganhar raízes, mesmo que ainda se tenha algum bom senso. Afinal o confinamento faz-nos pensar em tudo e tudo.

2 - Enquanto autora, esse momento afetou o seu processo produtivo? Em tempos de quarentena, está menos ou mais inspirada?

Como autora não estou a produzir. Ponto. Publico o que já fiz. Preparo as bases para possíveis trabalhos no futuro. Mas escrever deixou de existir. Tenho mais coisas com me preocupar. Fazer pão, a comida, perceber quais as zonas sujas da casa. Essas prioridades de agora que não existiam.

3 - Quando isso passar, qual a lição que fica?

Que me basto e sou grata por isso. O respeito pela comida. Dei por mim a pensar no valor de um ovo. Olhar para um ovo e a sopa no prato e saber que sou privilegiada por ter isso, pois percebe-se que muitas pessoas não têm. Que tenho terra e a vou trabalhar. Aproveitar e preservar sementes. Eu também não voltarei a ser a mesma. Não é só o mundo.

4 - Os movimentos de integração da mulher influenciam no seu cotidiano? 

Não. Vivo muito á minha maneira e em consciência daquilo que sou. Continuo a fazer isso. Os extremismos não entendo. Homens e mulheres têm que viver e trabalhar em conjunto para o mundo avançar, independente da sua orientação sexual. Assim como a cor de cada um não interfere com o trabalho a realizar. Esse deve ser o objetivo máximo dos seres humanos na minha opinião. Não tem lógica falar de escrita no feminino e no masculino. Há quem o faço e eu respeito. Mas não me faz nenhum sentido.

5 - Como você faz para divulgar os seus escritos ou a sua obra? Percebe retorno nas suas ações?

Estou a divulgar poemas diariamente em pequenos vídeos através do facebook. Sempre o fiz mas só pequenas partes de poemas. As antologias, são meios muito bons de divulgar o nosso trabalho. Através delas eu já estou a fazer a divulgação em Moçambique. Os grupos online também são muito importantes. Faço feiras do livro e gosto de o fazer. A proximidade com quem nos quer ler é muito importante. Faço feiras de artesanato, pois também sou artesã e tenho sempre os meus livros. Isso faz-me feliz.

6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita para a mulher?

Os aspetos positivos são todos os possíveis. Os negativos começam logo no facto de se falar da escrita no feminino e no masculino. Isto já separa. Depois reforça a convicção de quem não nos gosta de ver a escrever, a ler e a publicar. Porque isso existe e nem sequer é pouco. O preconceito é ainda muito e temos que fazer a nossa parte não desistindo.

7 - O que pretende alcançar enquanto autora? Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.

A curto prazo será publicar um livro no final deste ano. Vamos ver. A longo prazo, ter vida para deixar uma obra honesta, que orgulhe e alegre os meus descendentes. Escrever todo o tempo possível, com clareza e criatividade, fazendo sempre a par disso, a publicação do trabalho. É um projeto muito simples, mas muito arrojado.

8 - Quais os temas que gostaria que fossem discutidos nos Encontros Mulherio das Letras em Portugal?

A divulgação. Meios a utilizar. Método para o fazer. Como criar associativismo como um fim à divulgação. Escrever é bom, mas ser lido é muito melhor. Também falar do respeito que todos merecemos. Por vezes alguns autores fazem uma imposição sobre os outros das suas ideias e valores. Nunca na minha maneira de ser existirá o “ou estás comigo ou contra mim”. Não o pratico, não o aceito, quando perante isto não admito. Todos temos a nossa maneira de estar na vida e não será a crítica de outro autor á maneira como escrevemos que será importante ou própria. Terá que ser o gosto dos leitores a fazer esse trabalho. Esse respeito deve ser discutido para depois ser trabalhado.

9 - Sugira uma autora e um livro que lhe inspira ou influencia na escrita.

O livro “Vermelho 7” de Neide Baptista. Esta autora influencia quem a conhece pelo seu rigor e profissionalismo na arte de escrever. Em Poesia Florbela Espanca. Tudo o que ela escreveu é um momento solene para quem lê. Tinha mais para dizer, mas só pedem dois.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

Se não defende a escrita no feminino, o que faz neste grupo?
Resposta-Primeiro entrar. Depois trabalhar. As novas ideias têm que entrar primeiro, de preferência, onde abundam as velhas.

2 comentários:

  1. Entrevista muito interessante. O conteúdo faz-nos lembrar da alegoria da caverna, em que os homens no interior da caverna pensavam saber tudo. Este posicionamento de questionar é louvável. Muitos parabéns!

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  2. Conheço e estou a conhecer o excelente trabalho da Georgina Caçador,que não é só escritora, é poeta, artista plástica, estilista e principalmente uma pessoa rica de modéstia.

    Lufague

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