Agradecemos à autora GEORGINA CAÇADOR pela disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 - Qual a sua percepção para essa pandemia mundial?
Sinto que o mundo está fragilizado. Não apenas pelo
nº de doentes, infetados e mortos. Nem só pela economia parada e as carências
de toda a ordem a aumentar. É também pensar, que qualquer país pode estar
vulnerável a um ataque bélico. Se a Coreia do Norte ou a China (como exemplo)
tivesse m a ousadia e a loucura de lançar um ataque, não sei como seria para o
poder travar. Os exércitos também estão e podem ficar ainda mais doentes. E
isso mostra também a vulnerabilidade do nosso mundo. Perante o que estamos a
viver, temos também a ousadia de pensar o impensável e as teorias da
conspiração crescem a ganhar raízes, mesmo que ainda se tenha algum bom senso.
Afinal o confinamento faz-nos pensar em tudo e tudo.
2 - Enquanto autora, esse momento afetou o seu
processo produtivo? Em tempos de quarentena, está menos ou mais inspirada?
Como autora não estou a produzir. Ponto. Publico o
que já fiz. Preparo as bases para possíveis trabalhos no futuro. Mas escrever
deixou de existir. Tenho mais coisas com me preocupar. Fazer pão, a comida,
perceber quais as zonas sujas da casa. Essas prioridades de agora que não
existiam.
3 - Quando isso passar, qual a lição que fica?
Que me basto e sou grata por isso. O respeito pela
comida. Dei por mim a pensar no valor de um ovo. Olhar para um ovo e a sopa no
prato e saber que sou privilegiada por ter isso, pois percebe-se que muitas
pessoas não têm. Que tenho terra e a vou trabalhar. Aproveitar e preservar
sementes. Eu também não voltarei a ser a mesma. Não é só o mundo.
4 - Os movimentos de integração da mulher
influenciam no seu cotidiano?
Não. Vivo muito á minha maneira e em consciência
daquilo que sou. Continuo a fazer isso. Os extremismos não entendo. Homens e
mulheres têm que viver e trabalhar em conjunto para o mundo avançar,
independente da sua orientação sexual. Assim como a cor de cada um não
interfere com o trabalho a realizar. Esse deve ser o objetivo máximo dos seres
humanos na minha opinião. Não tem lógica falar de escrita no feminino e no
masculino. Há quem o faço e eu respeito. Mas não me faz nenhum sentido.
5 - Como você faz para divulgar os seus escritos ou
a sua obra? Percebe retorno nas suas ações?
Estou a divulgar poemas diariamente em pequenos
vídeos através do facebook. Sempre o fiz mas só pequenas partes de poemas. As
antologias, são meios muito bons de divulgar o nosso trabalho. Através delas eu
já estou a fazer a divulgação em Moçambique. Os grupos online também são muito
importantes. Faço feiras do livro e gosto de o fazer. A proximidade com quem
nos quer ler é muito importante. Faço feiras de artesanato, pois também sou
artesã e tenho sempre os meus livros. Isso faz-me feliz.
6 - Quais os pontos positivos e negativos do
universo da escrita para a mulher?
Os aspetos positivos são todos os possíveis. Os
negativos começam logo no facto de se falar da escrita no feminino e no
masculino. Isto já separa. Depois reforça a convicção de quem não nos gosta de
ver a escrever, a ler e a publicar. Porque isso existe e nem sequer é pouco. O
preconceito é ainda muito e temos que fazer a nossa parte não desistindo.
7 - O que pretende alcançar enquanto
autora? Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.
A curto prazo será publicar um livro no final deste
ano. Vamos ver. A longo prazo, ter vida para deixar uma obra honesta, que
orgulhe e alegre os meus descendentes. Escrever todo o tempo possível, com
clareza e criatividade, fazendo sempre a par disso, a publicação do trabalho. É
um projeto muito simples, mas muito arrojado.
8 - Quais os temas que gostaria que fossem
discutidos nos Encontros Mulherio das Letras em Portugal?
A divulgação. Meios a utilizar. Método para o fazer.
Como criar associativismo como um fim à divulgação. Escrever é bom, mas ser
lido é muito melhor. Também falar do respeito que todos merecemos. Por vezes
alguns autores fazem uma imposição sobre os outros das suas ideias e valores. Nunca
na minha maneira de ser existirá o “ou estás comigo ou contra mim”. Não o
pratico, não o aceito, quando perante isto não admito. Todos temos a nossa
maneira de estar na vida e não será a crítica de outro autor á maneira como
escrevemos que será importante ou própria. Terá que ser o gosto dos leitores a
fazer esse trabalho. Esse respeito deve ser discutido para depois ser
trabalhado.
9 - Sugira uma autora e um livro que lhe inspira ou
influencia na escrita.
O livro “Vermelho 7” de Neide Baptista. Esta autora
influencia quem a conhece pelo seu rigor e profissionalismo na arte de escrever.
Em Poesia Florbela Espanca. Tudo o que ela escreveu é um momento solene para
quem lê. Tinha mais para dizer, mas só pedem dois.
10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem?
E como responderia?
Se não defende a escrita no feminino, o que faz
neste grupo?
Resposta-Primeiro entrar. Depois trabalhar. As novas
ideias têm que entrar primeiro, de preferência, onde abundam as velhas.
Entrevista muito interessante. O conteúdo faz-nos lembrar da alegoria da caverna, em que os homens no interior da caverna pensavam saber tudo. Este posicionamento de questionar é louvável. Muitos parabéns!
ResponderEliminarConheço e estou a conhecer o excelente trabalho da Georgina Caçador,que não é só escritora, é poeta, artista plástica, estilista e principalmente uma pessoa rica de modéstia.
ResponderEliminarLufague