domingo, 28 de junho de 2020

DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - CASSIANA LIMA CARDOSO


Agradecemos à autora CASSIANA LIMA CARDOSO pela disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - Qual a sua percepção para essa pandemia mundial?

Vejo como oportunidade de transformação para a humanidade. Uma chance para repensarmos a maneira como utilizamos os recursos do planeta Terra. Para que pensemos em um mundo mais sustentável e fraterno, no qual utilizaremos o tempo com mais sabedoria, dispensando atenção ao que realmente importa.

2 - Enquanto autora, esse momento afetou o seu  processo produtivo? Em tempos de quarentena, está menos ou mais inspirada?

Cada dia é uma história. Há muita angústia, pois sabemos que nem todos têm o privilégio do isolamento. Há muita insensatez na gestão dessa crise em nosso país. A atuação do governo federal é desastrosa. Há trabalhadores pegando ônibus lotado, há mães de família que não podem abandonar os empregos. O caso do menino Miguel, e da mãe Mirtes, mulher negra e trabalhadora, em Pernambuco, é emblemático. Urge repensarmos as relações de trabalho em nosso país. Entretanto, apesar de tantas questões, em alguns momentos, encontrei refúgio na escrita, geralmente no turno da manhã. Escrevi uns haicais, que nos forçam a fixar atenção no aqui e agora, e isso me ajudou muito no sentido de processar esse momento difícil.

3 - Quando isso passar, qual a lição que ficou?

A lição, no plano coletivo, é de que devemos exigir políticas públicas fortes para a saúde. Que o sistema de saúde deve ser universal e acessível a todos. O mesmo vale para a educação e cultura: grande parte do horror em que vivemos se deve a um sistema educacional produtivista e tecnocrata, que não formou indivíduos críticos e amorosos. A ascensão do neofascismo se deve a isso.  Mas há também a jornada individual, e, nesse sentido, a lição que fica é de que devo aproveitar melhor meu tempo, o que, no meu caso, significa me dedicar mais aos meus afetos e minha escrita. 

4 - Os movimentos de integração da mulher influenciam no seu cotidiano?

Aprendo continuamente fazendo parte dessa rede de mulheres que se ajudam e se sustentam. O Mulherio das Letras é um projeto incrível, que reúne mulheres talentosíssimas, numa atitude de apoio e colaboração que nunca encontrei em lugar algum.
 
5 - Como você faz para divulgar os seus escritos ou a sua obra? Percebe retorno nas suas ações?

Utilizo as redes sociais. Fiz dois lançamentos de meu livro, um no Rio e outro em Petrópolis. Também participei de uma edição do “Leia Mulheres de Petrópolis”, e foi uma oportunidade riquíssima, em que esse clube de leitura, que prestigia a autoria feminina, pôde me fazer perceber como meus escritos chegam ao leitor.

6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita para a mulher?

Vejo muitos pontos positivos. Tenho tentado me descolonizar cotidianamente, e todo esse contato com a escrita de mulheres contribui de forma considerável nesse processo. Ainda que o mercado editorial seja majoritariamente composto por homens (e isso seria o ponto negativo) – vejo uma ascensão gradual da escrita de autoria feminina, principalmente por iniciativa de Coletivos e editoras independentes.

7 - O que pretende alcançar enquanto autora? Cite um projeto a curto prazo e  um a longo prazo.

Tenho um livro de poemas infantis que quero publicar em breve. São poemas que venho escrevendo nos últimos quinze anos, pelos quais tenho grande apreço.  Como vê, sou lenta...(risos).  As coisas acontecem nesse tempo comigo. Eu escrevi uma carta para mim mesma para daqui a quarenta e cinco anos em uma atividade com meus estudantes em que lemos Édipo em Colono, de Sófocles. A única coisa que peço é que eu nunca abandone a escrita. Gostaria de ser lida, mas o mais importante é criar um espaço em minha vida diária para escrever literatura sem compromisso.

8 - Quais os temas que gostaria que fossem discutidos nos Encontros Mulherio das Letras em Portugal?

Decolonidades, autoras que foram negligenciadas pelo cânone ao longo da história, produção literária de mulheres negras e indígenas na contemporaneidade.

9 - Sugira uma autora e um livro que lhe inspira ou influencia na escrita.

Tenho lido as traduções da autora polonesa Wislawa Szymborska.  Gosto muito da tradução de Regina Przybycien, “Um amor feliz.”.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

“Por que tudo precisa de uma resposta?” E eu responderia silenciosamente com um sorriso gentil e amoroso.

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