Agradecemos à autora CASSIANA LIMA CARDOSO pela disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 - Qual a sua percepção para essa pandemia mundial?
Vejo como oportunidade de transformação para a humanidade.
Uma chance para repensarmos a maneira como utilizamos os recursos do planeta
Terra. Para que pensemos em um mundo mais sustentável e fraterno, no qual
utilizaremos o tempo com mais sabedoria, dispensando atenção ao que realmente
importa.
2 - Enquanto autora, esse momento afetou o seu processo
produtivo? Em tempos de quarentena, está menos ou mais inspirada?
Cada dia é uma história. Há muita angústia, pois sabemos que
nem todos têm o privilégio do isolamento. Há muita insensatez na gestão dessa
crise em nosso país. A atuação do governo federal é desastrosa. Há
trabalhadores pegando ônibus lotado, há mães de família que não podem abandonar
os empregos. O caso do menino Miguel, e da mãe Mirtes, mulher negra e
trabalhadora, em Pernambuco, é emblemático. Urge repensarmos as relações de
trabalho em nosso país. Entretanto, apesar de tantas questões, em alguns
momentos, encontrei refúgio na escrita, geralmente no turno da manhã. Escrevi
uns haicais, que nos forçam a fixar atenção no aqui e agora, e isso me ajudou
muito no sentido de processar esse momento difícil.
3 - Quando isso passar, qual a lição que ficou?
A lição, no plano coletivo, é de que devemos exigir políticas
públicas fortes para a saúde. Que o sistema de saúde deve ser universal e
acessível a todos. O mesmo vale para a educação e cultura: grande parte do
horror em que vivemos se deve a um sistema educacional produtivista e
tecnocrata, que não formou indivíduos críticos e amorosos. A ascensão do
neofascismo se deve a isso. Mas há
também a jornada individual, e, nesse sentido, a lição que fica é de que devo
aproveitar melhor meu tempo, o que, no meu caso, significa me dedicar mais aos
meus afetos e minha escrita.
4 - Os movimentos de integração da mulher influenciam no seu
cotidiano?
Aprendo continuamente fazendo parte dessa rede de mulheres
que se ajudam e se sustentam. O Mulherio das Letras é um projeto incrível, que
reúne mulheres talentosíssimas, numa atitude de apoio e colaboração que nunca
encontrei em lugar algum.
5 - Como você faz para divulgar os seus escritos ou a sua
obra? Percebe retorno nas suas ações?
Utilizo as redes sociais. Fiz dois lançamentos de meu livro,
um no Rio e outro em Petrópolis. Também participei de uma edição do “Leia
Mulheres de Petrópolis”, e foi uma oportunidade riquíssima, em que esse clube
de leitura, que prestigia a autoria feminina, pôde me fazer perceber como meus
escritos chegam ao leitor.
6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da
escrita para a mulher?
Vejo muitos pontos positivos. Tenho tentado me descolonizar
cotidianamente, e todo esse contato com a escrita de mulheres contribui de
forma considerável nesse processo. Ainda que o mercado editorial seja majoritariamente
composto por homens (e isso seria o ponto negativo) – vejo uma ascensão gradual
da escrita de autoria feminina, principalmente por iniciativa de Coletivos e
editoras independentes.
7 - O que pretende alcançar enquanto autora? Cite um projeto
a curto prazo e um a longo prazo.
Tenho um livro de poemas infantis que quero publicar em
breve. São poemas que venho escrevendo nos últimos quinze anos, pelos quais
tenho grande apreço. Como vê, sou
lenta...(risos). As coisas acontecem
nesse tempo comigo. Eu escrevi uma carta para mim mesma para daqui a quarenta e
cinco anos em uma atividade com meus estudantes em que lemos Édipo em Colono, de Sófocles. A única
coisa que peço é que eu nunca abandone a escrita. Gostaria de ser lida, mas o
mais importante é criar um espaço em minha vida diária para escrever literatura
sem compromisso.
8 - Quais os temas que gostaria que fossem discutidos nos Encontros
Mulherio das Letras em Portugal?
Decolonidades, autoras que foram negligenciadas pelo cânone
ao longo da história, produção literária de mulheres negras e indígenas na
contemporaneidade.
9 - Sugira uma autora e um livro que lhe inspira ou
influencia na escrita.
Tenho lido as traduções da autora polonesa Wislawa Szymborska. Gosto muito da tradução de Regina Przybycien,
“Um amor feliz.”.
10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como
responderia?
“Por que tudo precisa de uma resposta?” E eu responderia
silenciosamente com um sorriso gentil e amoroso.
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