Agradecemos à autora ESTHER ALCÂNTARA pela disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 - Qual a sua percepção para essa pandemia mundial?
Uma tragédia que, mesmo anunciada, pegou a humanidade desprevenida.
2 - Enquanto autora, esse momento afetou o seu processo produtivo? Em tempos de quarentena, está menos ou mais inspirada?
Eu me pego oscilando entre momentos de total desalento e angústia, por isso improdutivos, e momentos em que se revela a Esther de sempre, escrevendo poemas, quase sempre melancólicos, infelizmente. Também comecei a escrever em prosa nestes dias – novela ou romance, conforme o rumo que tomar e meu fôlego.
3 - Quando isso passar, qual a lição que ficou?
São muitas, mas percebo, cada vez, mais que posso viver com menos, que preciso dar valor apenas para o que e quem realmente importa. O que sempre me foi essencial agora é ainda mais: amor em suas diversas formas de expressão: amizade, companheirismo, humanidade, dignidade, sororidade, autenticidade, empatia, consciência crítica...
4 - Os movimentos de integração da mulher influenciam no seu cotidiano?
Sim, influenciam muito. Mesmo os que acontecem virtualmente se refletem na vida prática, em como sou no dia a dia como feminista, como mulher em conexão com as outras e também inserida em contextos mais abrangentes, sempre buscando ampliar nossos espaços.
5 - Como você faz para divulgar os seus escritos ou a sua obra? Percebe retorno nas suas ações?
Publico meus poemas em revistas e sites literários, além de antologias, e busco fazer com que minha poesia circule nas redes sociais. Também participo de saraus e, quando posso, até promovo alguns. Penso que eu deveria me inscrever mais em concursos – sempre fico de fora deles e sei que isso é um erro a corrigir. Sou do tipo que escreve porque precisa escrever, como algo essencial à existência. Mas é maravilhoso quando tenho o retorno de saber que minha poesia chegou em alguém, tocou uma pessoa.
6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita para a mulher?
Penso que o universo da escrita para a mulher tem sido cavado por nós mesmas desde que nos (re)conhecemos como escritoras. No ano passado organizei e publiquei, por minha editora (a Carpe Librum), uma coletânea de escritos de mulheres sobre a relação da mulher com o livro. Ficou evidente a sintonia das autoras nas dificuldades como leitoras e autoras, desde meninas, simplesmente por serem mulheres. Como em todas as áreas, na literatura os espaços são muito mais fechados para nós; somos cercadas (e cerceadas) por tabus e condicionamentos inseridos em nossa cultura, essencialmente patriarcal, a serem quebrados. É minha luta constante, como escritora e editora, e espero que seja cada vez mais a luta consciente de todas nós.
7 - O que pretende alcançar enquanto autora? Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.
Como autora, busco colocar a minha voz no mundo. Não quero passar por esta vida sem deixar um bom recado, pelo menos o melhor recado que posso, que tento todos os dias amadurecer em mim, no sentido humano e na qualidade dos meus escritos. Como projeto em curto prazo, estou organizando em livro uma série de poemas que escrevi nos últimos anos, tocada pelo trágico avanço do fascismo no Brasil e no mundo, que se reflete em minha poesia – preciso falar disso e tenho falado. Também comecei, durante este período de quarentena, a escrever um livro em prosa que é misto de memória e ficção – este, um projeto em longo prazo.
8 - Quais os temas que gostaria que fossem discutidos nos Encontros Mulherio das Letras em Portugal?
Ficaria muito feliz em saber que se incluiu na temática a literatura escrita por mulheres periféricas do mundo todo – mulheres negras, indígenas e todas aquelas que têm menos visibilidade por questões sociais, culturais ou históricas (e isso não com um olhar segmentado, mas considerando veementemente a qualidade do trabalho delas). Ou seja, gostaria que o enfoque não fosse apenas nas escritoras que já conquistaram algum prestígio, que não houvesse elitismo social nem cultural.
9 - Sugira uma autora e um livro que lhe inspira ou influencia na escrita.
Cecília Meirelles foi a primeira poeta que conheci, na infância, e me encantou, por isso me influenciou no começo de minha escrita poética. Clarice Lispector com A hora da estrela, também foi e é muito importante para mim.
10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?
E agora? Como e para onde caminharemos depois da pandemia? Adoraria ter a resposta.
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