segunda-feira, 15 de junho de 2020

DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - CARLOTA MARQUES CANHA


Agradecemos à autora CARLOTA MARQUES CANHA pela disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - Qual a sua perceção para essa pandemia mundial?

Esta pandemia mundial é um fenómeno que não era previsível da forma que se projetou em todo o mundo. Este período adverso, incerto e até depressivo fez o homem interiorizar-se mais, refletir mais sobre o seu posicionamento em relação aos outro e perceber que precisamos todos uns dos outros e que a união é fundamental para se superar este ciclo de mudanças históricas na humanidade.

2 - Enquanto autora, esse momento afetou o seu processo produtivo? Em tempos de quarentena, está menos ou mais inspirada?

Este período de confinamento, de isolamento imposto pelas circunstâncias desta pandemia, permitiu-me interiorizar-me ainda mais, reencontrar-me como pessoa e também como autora. Senti uma necessidade mais ampla de escrever e de reescrever alguns materiais que tinham ficado em stand-by e refletiu-se igualmente num  tempo de aprendizagem, de amadurecimento que considero bastante importante na minha produção literária. Surgiram novas ideias, nova temática de escrita em paralelo com novas leituras e também formação em oficinas de poesia e escrita criativa.

3 - Quando isso passar, qual a lição que ficou?

A maior lição que retirarei deste tempo é uma lição de aprendizagem, reavaliar ações, comportamentos, posturas com o objetivo de continuar o meu caminho de evolução como mulher e obviamente como autora. Neste âmbito nada será como no passado e teremos que estar recetivos a novas mudanças, reinventarmo-nos ao nível do potencial  que concentramos em cada um de nós e percebermos que nada sabemos e que estamos sempre em constante mudança.
Como diria Marguerite Yourcenar “Ninguém ainda sabe se tudo apenas vive para morrer ou se morre para renascer”.
É esta capacidade de renascimento, de superação que torna a humanidade grandiosa.

4 - Os movimentos de integração da mulher influenciam no seu cotidiano?

Diria que não. Acompanho com atenção as correntes preconizadoras da liberdade e igualdade da mulher, mas não influenciam o meu dia a dia, a minha forma de estar. Continuo a ter a mesma ideia de pensamento que todas as mulheres, sem exceção, devem ter os mesmos direitos de liberdade e de igualdade tal como os homens, embora saibamos que em algumas sociedades e países essa realidade ainda seja, muito restricta e até mesmo negada.

5 - Como você faz para divulgar os seus escritos ou a sua obra? Percebe retorno nas suas ações?

Utilizo com bastante frequência as novas tecnologias, sobretudo as redes sociais que têm uma abrangência e alcance de público muito grande. Todavia, o retorno desse alcance nem sempre é o expectável, fica muitas das vezes aquém do nosso objetivo. Já fiz algumas ações de formação em marketing digital que permitem ter acesso a um grande número de ferramentas digitais que permitem potenciar e alavancar o nosso trabalho, obra como autora.
Hoje em dia, um autor que está a iniciar ou já com trabalho, carreira consolidados tem que apostar muito nos meios digitais, na chamada imagem profissional  do “author branding”, com características e um estilo próprio que seja diferenciador no mercado. Neste mercado, vence e é reconhecido quem tem tempo para fazer o caminho, paciência para esperar, resiliência para lutar e muita coragem para fazer diferente.

6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita para a mulher?

Na escrita o universo feminino de grandes escritoras/autoras tem crescido exponencialmente. Hoje assistimos a um grande número de publicações de obras femininas comparativamente ao que se fazia há 40 a 50 anos atrás.
Existe um progresso muito positivo e interessante a esse respeito, inclusivamente com escritoras, autoras mais novas, mas com boa produção literária e de  promissor talento. Neste nível foi uma evolução muito positiva.
A nível de pontos menos positivos, apenas algumas escritoras/autoras conseguem viver a nível financeiro do trabalho que produzem, são conceituadas, dominam com mestria o mercado e souberam aproveitar oportunidades. O fator sorte e oportunidade são determinantes neste mercado e nem todos têm as mesmas oportunidades e sorte para alcançarem o almejado sucesso. A estrela da sorte não é para todos, mesmo com muito trabalho e dedicação.

7 - O que pretende alcançar enquanto autora? Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.

Na qualidade de autora, gostaria de continuar o meu percurso de aprendizagem regular, de continuar a fazer um trabalho sério, de entrega e de compromisso nos projetos que forem aparecendo. Em termos de projeto a curto prazo, pretendo finalizar um livro de contos em fase de conclusão, voltar a lançar um novo livro de poesia com novo material escrito, mais maduro e, em termos de projeto a longo prazo a escrita de um romance, de uma narrativa ficcionada é um objetivo que se mantem no meu pensamento e que irei concretizar no tempo certo.

8 - Quais os temas que gostaria que fossem discutidos nos Encontros Mulherio das Letras em Portugal?

Gostaria de ver debatido ou rebatido o tema das igualdades, das oportunidades concedidas às mulheres comparativamente aos homens. Portugal tem mudado muito a esse nível, a cultura enraizada está a mudar, mas algumas mentalidades, formas de pensar muito limitadores ainda persistem na nossa sociedade e, será importante as gerações vindouras de mulheres, mais jovens, com outro tipo de postura e coragem fazerem a diferença no universo, ainda muito dominado, pelos homens. Digo isto ao nível de escritoras mulheres, algumas não têm o peso, o reconhecimento no mercado literário que têm homens enquanto escritores.

9 - Sugira uma autora e um livro que lhe inspira ou influencia na escrita.

A escritora e poetiza que sempre me inspirou desde muito cedo é Sophia de Mello Breyner Andresen e a sua obra  “Mar Novo”, 1ª Edição de 1958, Guimarães Editores.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

Que sentimentos pensa deixar na sua obra poética?
Gostaria de deixar sentimentos que fossem inspiração, que fossem fonte de motivação em momentos de intranquilidade, que fossem impulsionadores de esperança e que a palavra descrita tivesse a força, tivesse a grandeza de ajudar quem mais precisa. Não escrevo apenas para mim, mas para os outros. Satisfaz-me e enriquece-me muito como pessoa, saber que a minha escrita é apaziguadora, consensual, de mensagens positivas e uma companhia para quem lê.
Quero pensar que comecei a escrever, no dia e na hora em que me vi diferente, no momento em que acreditei neste “filho” que é para mim a escrita, a poesia.

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