Agradecemos à autora CARLOTA MARQUES CANHA pela disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 - Qual a sua perceção para essa pandemia mundial?
Esta pandemia mundial é um fenómeno que não era previsível da
forma que se projetou em todo o mundo. Este período adverso, incerto e até
depressivo fez o homem interiorizar-se mais, refletir mais sobre o seu
posicionamento em relação aos outro e perceber que precisamos todos uns dos
outros e que a união é fundamental para se superar este ciclo de mudanças
históricas na humanidade.
2 - Enquanto autora, esse momento afetou o seu processo
produtivo? Em tempos de quarentena, está menos ou mais inspirada?
Este período de confinamento, de
isolamento imposto pelas circunstâncias desta pandemia, permitiu-me
interiorizar-me ainda mais, reencontrar-me como pessoa e também como autora.
Senti uma necessidade mais ampla de escrever e de reescrever alguns materiais
que tinham ficado em stand-by e refletiu-se igualmente num tempo de aprendizagem, de amadurecimento que
considero bastante importante na minha produção literária. Surgiram novas
ideias, nova temática de escrita em paralelo com novas leituras e também
formação em oficinas de poesia e escrita criativa.
3 - Quando isso passar, qual a lição que ficou?
A maior lição que retirarei deste tempo é uma lição de
aprendizagem, reavaliar ações, comportamentos, posturas com o objetivo de
continuar o meu caminho de evolução como mulher e obviamente como autora. Neste
âmbito nada será como no passado e teremos que estar recetivos a novas
mudanças, reinventarmo-nos ao nível do potencial que concentramos em cada um de nós e
percebermos que nada sabemos e que estamos sempre em constante mudança.
Como diria Marguerite Yourcenar “Ninguém ainda sabe se tudo apenas vive
para morrer ou se morre para renascer”.
É esta capacidade de renascimento, de
superação que torna a humanidade grandiosa.
4 - Os movimentos de integração da mulher influenciam no seu
cotidiano?
Diria que não. Acompanho com atenção as correntes preconizadoras
da liberdade e igualdade da mulher, mas não influenciam o meu dia a dia, a
minha forma de estar. Continuo a ter a mesma ideia de pensamento que todas as
mulheres, sem exceção, devem ter os mesmos direitos de liberdade e de igualdade
tal como os homens, embora saibamos que em algumas sociedades e países essa
realidade ainda seja, muito restricta e até mesmo negada.
5 - Como você faz para divulgar os seus escritos ou a sua obra?
Percebe retorno nas suas ações?
Utilizo com bastante frequência as novas
tecnologias, sobretudo as redes sociais que têm uma abrangência e alcance de
público muito grande. Todavia, o retorno desse alcance nem sempre é o
expectável, fica muitas das vezes aquém do nosso objetivo. Já fiz algumas ações
de formação em marketing digital que permitem ter acesso a um grande número de
ferramentas digitais que permitem potenciar e alavancar o nosso trabalho, obra
como autora.
Hoje em dia, um autor que está a iniciar
ou já com trabalho, carreira consolidados tem que apostar muito nos meios
digitais, na chamada imagem profissional
do “author branding”, com características e um estilo próprio que
seja diferenciador no mercado. Neste mercado, vence e é reconhecido quem tem
tempo para fazer o caminho, paciência para esperar, resiliência para lutar e
muita coragem para fazer diferente.
6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita
para a mulher?
Na escrita o universo feminino de
grandes escritoras/autoras tem crescido exponencialmente. Hoje assistimos a um
grande número de publicações de obras femininas comparativamente ao que se
fazia há 40 a 50 anos atrás.
Existe um progresso muito positivo e
interessante a esse respeito, inclusivamente com escritoras, autoras mais
novas, mas com boa produção literária e de
promissor talento. Neste nível foi uma evolução muito positiva.
A nível de pontos menos positivos, apenas
algumas escritoras/autoras conseguem viver a nível financeiro do trabalho que
produzem, são conceituadas, dominam com mestria o mercado e souberam aproveitar
oportunidades. O fator sorte e oportunidade são determinantes neste mercado e
nem todos têm as mesmas oportunidades e sorte para alcançarem o almejado
sucesso. A estrela da sorte não é para todos, mesmo com muito trabalho e
dedicação.
7 - O que pretende alcançar enquanto autora? Cite um projeto a
curto prazo e um a longo prazo.
Na qualidade de autora, gostaria de continuar
o meu percurso de aprendizagem regular, de continuar a fazer um trabalho sério,
de entrega e de compromisso nos projetos que forem aparecendo. Em termos de
projeto a curto prazo, pretendo finalizar um livro de contos em fase de
conclusão, voltar a lançar um novo livro de poesia com novo material escrito,
mais maduro e, em termos de projeto a longo prazo a escrita de um romance, de
uma narrativa ficcionada é um objetivo que se mantem no meu pensamento e que
irei concretizar no tempo certo.
8 - Quais os temas que gostaria que
fossem discutidos nos Encontros Mulherio das Letras em Portugal?
Gostaria de ver debatido ou rebatido o
tema das igualdades, das oportunidades concedidas às mulheres comparativamente
aos homens. Portugal tem mudado muito a esse nível, a cultura enraizada está a
mudar, mas algumas mentalidades, formas de pensar muito limitadores ainda
persistem na nossa sociedade e, será importante as gerações vindouras de
mulheres, mais jovens, com outro tipo de postura e coragem fazerem a diferença
no universo, ainda muito dominado, pelos homens. Digo isto ao nível de
escritoras mulheres, algumas não têm o peso, o reconhecimento no mercado
literário que têm homens enquanto escritores.
9 - Sugira uma autora e um livro que lhe inspira ou influencia na
escrita.
A escritora e poetiza que sempre me inspirou desde muito cedo é
Sophia de Mello Breyner Andresen e a sua obra “Mar Novo”, 1ª Edição de 1958, Guimarães
Editores.
10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como
responderia?
Que sentimentos pensa deixar na sua obra poética?
Gostaria de deixar sentimentos que fossem inspiração, que fossem
fonte de motivação em momentos de intranquilidade, que fossem impulsionadores de
esperança e que a palavra descrita tivesse a força, tivesse a grandeza de
ajudar quem mais precisa. Não escrevo apenas para mim, mas para os outros.
Satisfaz-me e enriquece-me muito como pessoa, saber que a minha escrita é
apaziguadora, consensual, de mensagens positivas e uma companhia para quem lê.
Quero pensar que comecei a escrever, no dia e na hora em que me
vi diferente, no momento em que acreditei neste “filho” que é para mim a
escrita, a poesia.
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