Agradecemos à autora DULCE BAPTISTA pela disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 - Qual a sua percepção para essa pandemia mundial?
Percebo como calamidade, e ao mesmo tempo como enorme desafio
que é, no sentido de levar pessoas, instituições e países a encontrarem novas
formas de convivência, de trabalho e de luta pelas causas que são comuns a toda
a humanidade. Acho que teremos, para sempre, um "antes" e um
"depois" da pandemia. Gostaria muito que isso significasse o
surgimento de uma nova era de conscientização e solidariedade.
2 - Enquanto autora, esse momento afetou o seu processo
produtivo? Em tempos de quarentena, está menos ou mais inspirada?
Meu processo produtivo se encontra condicionado, no momento, a
um compromisso relacionado a literatura acadêmica, anteriormente assumido. Mas,
a par disso, procuro preservar o espaço da inspiração, que vem de
leituras, insights, e mesmo da interação virtual típica desses dias
estranhos. Faço minhas anotações, e oportunamente elas funcionam como matéria
prima para contos e poemas.
3 - Quando isso passar, qual a lição que ficou?
Acho que são várias constatações: Não somos onipotentes, ao
contrário do que sugere uma certa visão maravilhada do progresso. Ao mesmo
tempo, demonstramos impressionante capacidade de mobilização, independentemente
de governos e políticas de momento, na ajuda aos mais vulneráveis, seja por
meio de campanhas, de doações coletivas e individuais, assistência de diversos
tipos. Por outro lado, me parece claro que: precisamos cultivar valores mais
humanos e menos materialistas; precisamos fazer parte de um esforço global de
preservação do planeta; mais do que nunca, precisamos valorizar a união, a
ciência, a cultura e a arte, como elementos definidores de
humanidade.
4 - Os movimentos de integração da mulher influenciam no seu cotidiano?
Creio que sim, embora de forma indireta.
5 - Como você faz para divulgar os seus escritos ou a sua obra? Percebe
retorno nas suas ações?
Tenho meu nome incluído no Dicionário de Escritores de Brasília.
Meus poemas e contos tem sido publicados de forma esparsa em coletâneas. A
partir de uma dessas coletâneas, tive poemas publicados em jornal. Algumas
vezes tenho compartilhado escritos de maneira informal com amigas, e percebo um
retorno positivo.
6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita
para a mulher?
Considero muito positiva a integração da mulher nesse universo,
já que é por meio da escrita que muitas conseguem ter vez e voz. A participação
em grupos, a discussão de temas e de novas formas de publicação e divulgação
são também fatores positivos na promoção da escrita feminina. Não sei se
saberia identificar um ponto propriamente negativo, além daqueles já
conhecidos: receptividade fraca por parte das editoras; custo de publicação;
certa insegurança em relação aos próprios escritos.
7 - O que pretende alcançar enquanto autora? Cite um projeto a
curto prazo e um a longo prazo.
Enquanto autora, acho que o desejo que me motiva é ao mesmo
tempo simples e ambicioso: escrever e compartilhar. Se, como alguém disse,
"escrever é um ato de resistência", trata-se de criar algo que
represente essa resistência, algo como um sutil estranhamento em relação
aos previsíveis absurdos da existência. Quanto a compartilhar, creio que é esse
o desejo de todo autor. Embora sempre difícil em função de custos de edição e
divulgação, parece estar encontrando novas alternativas no mundo da difusão
eletrônica e digital. Meu projeto de curto prazo é a conclusão de um livro
destinado ao ensino de graduação em biblioteconomia, em que atuei como docente.
Paralelamente, a médio prazo gostaria de reunir contos e poesias e
publica-los em forma de livro; essa é uma ideia embrionária.
8 - Quais os temas que gostaria que fossem discutidos nos
Encontros Mulherio das Letras em Portugal?
Acho que seriam temas interessantes: a atuação da mulher no
cenário da pandemia; ideias e sugestões para o mundo pós-pandemia; o estado da
arte da literatura feminina nos países de língua portuguesa.
9 - Sugira uma autora e um livro que lhe inspira ou influencia na
escrita.
Esta é uma pergunta difícil porque creio que as influências são
várias, ainda que de forma implícita ou não inteiramente consciente. Em todo
caso, de Virginia Woolf a Clarice Lispector e Agustina Bessa-Luís, passando por
Katherine Mansfield e Ana Maria Machado, são muitas as que admiro.
10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como
responderia?
Exercício de imaginação, não sei responder!
Sem comentários:
Enviar um comentário
Toca a falar disso