Crônica para uma tarde de Abril ( I )
"Observo ao longe a liberdade estática relembrando planos e
passados. O futuro escrevo aos poucos, cautelosamente, como neste exato
momento. Há tempos não uso meu vestido preferido e meu batom vermelho. O céu
resplandecendo azul é quase um desacato diante da minha janela. Mas ele ainda
está ali, nos tornando a mais pura insignificância diante da magnitude de uma
ameaça desconhecida. Mas hoje vim falar das flores, contrariando todo o
contexto. As azaleias continuam florescendo nos jardins suspensos ao redor do
mundo, um norte, um sopro de esperanças. Os corações solidários, a renúncia à
própria vida em gestos de bravura, incansáveis almas a socorrer o próximo, a
comunhão, a luta obstinada rumo a cura. Enquanto isso o mundo aguarda, inerte,
que pessoas de luz tomem a frente, que exerçam o poder de todo conhecimento
científico adquirido para vencer essa batalha. Muitas coisas poderiam ter sido
evitadas se a humanidade não fosse assolada por sentimentos menores, que
considero um dos piores contágios existentes. É hora de continuar, de orarmos
do nosso jeito, de nos "religarmos a Deus", literalmente, no real
significado da palavra "religião", de respondermos bom dia e
deixarmos as mágoas e ressentimentos sob uma pedra no passado. Eles não existem
mais, nada será como antes, uma nova era se inicia, contra a nossa vontade
ociosa de ir vivendo a vida. Plantaremos mais flores, o céu estará mais azul, a
poesia de cada momento se fará presente no coração dos que compreenderam a
brevidade de tudo, a urgência de saudarmos a vida contida na eminência do fim,
a alegria de estarmos aqui e a força das almas do bem espalhadas pelo planeta
dando um show de solidariedade. Se para muitos o tempo irá terminar importa o
que levará desse tempo, desta permanência. E aos sobreviventes restará a grande
e nobre missão de amparar a terra castigada e colher pelos campos as azaleias
cultivadas."
Reggina Moon
Todos os textos publicados na rubrica EM TEMPOS DE QUARENTENA são da responsabilidade exclusiva dos autores e os direitos respectivos apenas a eles pertencem.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Toca a falar disso