Clausura e medo I
O medo do covid-19,
torna-nos reféns.
Clama pela sensibilidade humana.
Não! Não é pesadelo.
Fecham-se os estabelecimentos, evitam-se os
contatos físicos,
trancam-se em casa.
Há responsável por tamanha balbúrdia???
Algo invisível zomba da pequenez humana.
O inferno de Dante
saiu da ficção,
perambula pelas ruas
e pelos hospitais.
Os médicos enlouquem na luta contra a morte,
sem recursos nas instituições de saúde,
com crises de choro,
curvam diante da impotência nos corredores.
Choram o horror da guerra,
choram a sentença final.
Quem pode viver?
Quem deve morrer?
Resta sonhar que haverá campeão contra o remador
desse barco sem vela.
Clausura e medo II
A ordem é que os seres humanos,
acima de 60 anos,
percam a prioridade no uso dos respiradores.
Condenam-os à morte pela idade,
com insuficiência respiratória,
morrem sozinhos,
sem assistência, sem velório, sem amor,
como bichos enclausurados
na gélida cela do desprezo e da solidão,
por um vírus sem páreo, numa arena solitária, que
causa assombro e dor.
Sobram as cinzas,
não há funeral,
há medo do contágio.
Os infectologistas alertam: vai piorar!
Mas, alguns teimam e
continuam na zombaria,
com fakenews, memes e exposição exagerada.
No Brasil, os governantes ditam as ordens e
preocupam-se com a economia.
Enquanto isso...
o mundo perde seus anciãos,
sua memória e sua dignidade.
Sem dó, sem piedade ou poesia.
Clausura e medo III
A vida, neste contexto de horror,
segue na luta insana
contra o inimigo invisível.
Sem abraços,
sem aperto de mãos,
sem beijos e/ou carícias.
As ruas em triste abandono
reclamam de solidão.
Não mais se ouvem
as melodias nos bares da cidade,
os hinos nas instituições religiosas,
a algazarra dos bêbados nos botecos.
A ordem é recolher,
voltar-se para a casa,
Voltar-se para si.
Talvez, para que, neste cenário:
de dor,
de abandono,
de solidão
e de medo,
se reaprenda a viver.
Maria Elizabete Nascimento de Oliveira
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