segunda-feira, 13 de abril de 2020

Em tempos de quarentena - JOSÉ ALENTADO


Terra dos sonhos

Quando abri os olhos estava lá, inteirinho,
até parecia um sonho; as ruas desertas,
sem vivalma, tudo inerte, como aquela
brincadeira de criança: - “ meia hora! Trava! “ 
e tudo parava, e parou, somente a terra
girou no seu eixo imaginário.

Quem teve esta ideia genial de nos meter
em casa e fechar tudo aquilo que não
é tão essencial!
Esta terra não é a dos sonhos,
é uma terra triste, cheia de rugas do tempo
onde se escondem as tristezas, as mágoas,
e os amores impossíveis de contentar,
agora que foram alterados os planos
já difíceis de realizar.

Sei que tu estás algures aí, longe de mim,
apenas ligados por desapegos que ontem
eram vida e hoje ausências.

Tu aí sonhando e eu também, descobrindo
que o sonho não é mais que uma miragem
longe da outra margem...

Descobri agora que afinal sou
um ladrão de beijos, todos os dias
enquanto dormes passo por ti e roubo-te
um beijo, e tu de sono profundo
andas procurando o arco-íris da esperança...
no dia em que isto acabar, vou-me entregar
para cumprir a minha pena  e confessar
que foram muitos os beijos roubados
pela calada da noite, e nas tardes
enquanto dormias, e se a pena
que me for dada, não for prisão perpétua
no teu coração...
ficarei para sempre um ladrão de beijos...

José Alentado 2020/março


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