[o
medo vive atulhado no medo]
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De olhos secos, onde as lágrimas se
esgotaram
de tanto
ter chorado, choro sobre os festivais
das
matanças que ficaram impunes.
Corre a
morte no medo da insegurança;
destrói
fronteiras de sonho
este
medo permanente que existe no ar.
Trancam-se as portas
que
sempre estiveram abertas para os amigos
poderem
entrar - cerram-se os peitos
aos
incendiados olhares que espiam o medo
com medo
do inimigo invisível
que se
oculta em cada esquina à espera de matar.
Vultos sem rosto com medo de
se tocarem
tropeçam no sítio onde vivem à
espera da morte.
Este
bairro vazio permanece apagado; vive-se
com medo
de aqui viver - ontem, respirava-se
no meu
bairro a noite como se fosse dia;
hoje,
vive-se nele o dia em noite antecipada.
No meu bairro o medo vive atulhado no
medo
- como
a azeitona acamada em excesso na tulha
até ir a
esmagar para a safra - aflige-me este medo
que
espreita nas casas de janelas e portas trancadas
com medo
das asas do anjo negro da morte:
- vampiro
que a todo o momento nos vem abraçar.
O melro, que manhã cedo desgrenhava
fio a fio
as ervas
do jardim à procura da larva distraída,
fugiu a
esconder-se em sítio escuro com medo
de morrer - só
os incautos desafiadores da morte
se
incendeiam na nudez de fúlgidos alvores
e
intemeratas paixões diluvianas.
autor: Alvaro Giesta (para "a noite
dilacerada")
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