sábado, 11 de janeiro de 2020

DA LOUSA AO RIO (excerto) - ERNESTO FERREIRA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Era meio da tarde e não havia nuvens no céu. Apenas uma ligeira brisa vinda do norte fazia tremer as folhas das árvores. O que Miguel via era tão profundo e tão belo que nem se apercebeu da presença da Poesia, que aliás não estava prevista. Miguel já não sabia se a beleza era a Poesia ou se a Poesia era a beleza. Fosse ou não qualquer delas, o certo é que sempre aparecia quando a paisagem ou o ambiente se aproximavam da perfeição. O que se avistava era uma sucessão de campos de forma rectangular, sendo as estremas bem definidas. Alguns dos campos já estavam com milho a crescer numa tonalidade verde que nenhuma tinta consegue sequer imitar. Outros campos estavam cobertos de ervas conhecidas, tais como malmequer, scilla, tremocilha, travisco, etc, de todas as cores, mas onde predominava amarelo, roxo, branco e púrpura. Miguel estava encantado e só a custo próprio desviou o pensamento para a tarefa que tinha de realizar. Então reparou que entre duas das leiras a estrema era mais elevada em direcção a sul e depois vira a ponte até ao rio. Miguel não hesitou em validar esta estrema como linha divisória.
Poesia pareceu muito alegre, não sabendo Miguel se assim estava por ver que ele já ganhara o espírito Asturiano, ou por compartilharem o mesmo quadro florido que dava pelo nome de Veiga da Lousa.
Miguel deu por acabada a tarefa do dia e aproveitou para tentar ouvir mais uma peripécia do Ti Reinaldo. Quando chegou ao Moinho estava o Tio Joaquim Landim, a contar heroicidades da sua existência. E sendo um exímio lutador do Jogo do Pau, também conhecido quanto a ser imaginativo ou mesmo deformador da verdade, contava uma das suas lutas “de varrer a feira” e terminava a descrição da luta dizendo: Oh meu amigo, isto tem que ser “pancada dada, pé mudado”. E fazia aí mesmo uma demonstração da técnica do Jogo do Pau.

EM - MIGUEL, NO EXTREMO DA ESTREMA - ERNESTO FERREIRA - IN-FINITA

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