LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Este conto, diz Poesia, é conhecido em várias versões, em que cada versão tem sempre dois elementos residentes: O Lobo e a Pieira.
Aqui procurando ser tão fiel quanto possível, a versão é a do Ti Reinaldo.
“Era uma vez um guardador de gado que andava na serra a cuidar do seu rebanho. Estava um dia cheio de sol e a pastagem escolhida nessa tarde estava muito apetecível para as ovelhas e cabras. Era um regalo para os olhos ver os animais a pastarem. Assim, o pastor foi-se esquecendo das horas sendo que o fim da tarde não esperava. O rebanho deveria ser recolhido ainda com a luz do dia, pois os lobos viviam e deambulavam por perto, constituindo um perigo para o rebanho. Os lobos, dizia-se, apenas obedecem às Pieiras, coisa de que o pastor se ria, pois não acreditava em Pieiras e muito menos que houvesse alguém a quem os terríveis lobos obedecessem.
Quando estava a reunir o rebanho, auxiliado pelo seu cão chamado Piloto, apercebeu-se que um lobo espreitava acoitado junto ao “penedo furado”. Este penedo era assim chamado porque era de facto furado, sendo até tido como um exame aos pecados em que podia estar qualquer pessoa. Para provar que a pessoa estava de bem com Deus deveria conseguir passar através do furo. Se não conseguisse era sinal de que estava em pecado. Já agora diga-se também que este penedo furado, junto ao caminho de Santa Justa era o certificado de virgindade de qualquer rapariga solteira. Se não conseguisse passar era certo que já não era virgem.
O pastor pensou: se deixo o lobo aproximar-se não evito que ele me mate uma ovelha. O melhor é atacá-lo para o pôr em fuga. E se bem pensou, melhor o fez. Foi em direcção ao lobo com o cajado em riste. O lobo ensaia a fuga e o pastor corre quanto as forças consentiam, para o levar para o mais longe possível. Mas eis que na sua corrida tropeça numa pedra saliente e zazcatrapaz pum, cai desamparado, bate com a cabeça numa pedra e fica desmaiado.
Entretanto o Piloto lá foi reunindo o rebanho e conduziu-o para o curral.
Era noite e a lua cheia começava a surgir no horizonte; o pastor inanimado estava só e sem consciência. Passadas umas três horas começou a despertar. A lua estava mais alta e alumiava quase como fosse dia. O pastor começou a despertar e viu uma enorme cabeça à sua frente. Era o lobo, talvez o alfa, mas ao invés de parecer ameaçador, parecia calmo e amistoso. Uma sonora gargalhada despertou mais o pastor que viu junto ao lobo uma graciosa dama que sorria para ele, ao mesmo tempo que afagava o focinho do lobo. Era uma Pieira!
Fixou o pastor e disse-lhe: Então agora acreditas nas Pieiras ou não? Ficas sabendo que te salvei dos dentes do lobo e quero que, para me pagares, em noites de lua cheia venhas ter comigo para saudarmos a beleza duma noite de luar. E a Pieira ordenou aos lobos que em noites de lua cheia, não atacassem nem pessoas nem animais... o que até hoje vem sendo cumprido, na aldeia e montes de Asturães.”
EM - MIGUEL, NO EXTREMO DA ESTREMA - ERNESTO FERREIRA - IN-FINITA
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