quarta-feira, 6 de novembro de 2019

O CONTO DAS MOCAS (excerto) - ERNESTO FERREIRA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Miguel, diz Poesia: dos contos do Ti Reinaldo, o Conto das Mocas é talvez o que melhor reflecte a amizade que tinha pelas crianças, sobretudo as que, como ele, tiveram uma infância com necessidades.
“Era uma vez um menino a quem morreu a mãe. O pai casou segunda vez e a partir daí a vida do menino passou a ser um inferno. A madrasta obrigava-o a trabalhar em serviços pesados, sem lhe dar de comer. Valia-lhe a madrinha para não morrer de fome. As madrinhas são como segundas mães. O menino andava triste e não sabia o que fazer à vida.
Um dia, mais desesperançado, resolveu fugir e correr mundo. E se assim pensou, melhor o fez. Aproveitou a saída do pai e da madrasta, que tinham ido para a feira da vila, e juntou a pouca roupa que tinha, colocou-a no alforge e aí vai ele a correr mundo.
Ao fim do dia, já ele tinha corrido cinco léguas, quando começou a cair a noite. Então é que se lembrou que não sabia onde dormir. A fome começou também a sentir-se, mas lá encontrou uma espécie de toca, debaixo de um penedo, onde dormiu toda a noite. Na manhã seguinte, cheio de fome, continuou o caminho, mas a cada passada que dava a fome ia sendo mais forte e as pernas iam ficando mais fracas. Até que a meio da manhã, cheio de fome e sem saber o destino, o menino sentou-se no chão a chorar. O desespero era maior que o choro. O sofrimento aumentava e a esperança rareava.
Mas de repente o menino sentiu um grande arrepio e olhando em frente viu uma senhora, raiando uma luz prateada, que de súbito lhe pareceu a madrinha que lhe dava de comer. E a senhora perguntou: Menino, porque choras?
O menino respondeu: Eu fugi de casa por causa dos maus tratos que me dava a minha madrasta e agora estou perdido e cheio de fome. Então a senhora deu-lhe um anel de ouro e disse-lhe: Pega este anel e sempre que quiseres, basta dizeres ao anel: “anel faz o teu dever”, e logo terás uma mesa, farta de comer. Dito isto, a senhora desapareceu. Era Nossa Senhora, mãe de Jesus, assim pensou o menino.
O menino quis experimentar e, ditas as palavras santas, logo apareceu uma mesa farta de comer... Comeu tudo o que quis, do bom e do melhor. Parecia que o céu se tinha aberto para ele. Estava neste mister quando lhe apareceu um viajante. Tratava-se de um homem de aspecto pobre, com um saco às costas, que, quando chegou ao pé do menino, perguntou-lhe porque estava ali a mesa. O menino explicou o milagre do anel.

EM - MIGUEL, NO EXTREMO DA ESTREMA - ERNESTO FERREIRA - IN-FINITA

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