sábado, 16 de novembro de 2019

O CONFESSO DA PÁSCOA - ERNESTO FERREIRA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Miguel, a estória que se segue, para dizer a verdade, passou-se mesmo com o Ti Reinaldo e por isso vou pedir-lhe para ser eu a contar. Quero dizer-te, para melhor poderes julgar a atitude reflectida na nossa história, que estamos numa aldeia onde os habitantes, maioritariamente ligados à agricultura, são também profundamente crentes e observadores dos ditames do Senhor Abade.
De entre as realizações mais severamente avaliadas está o cumprimento do Confesso da Páscoa, que sempre tem lugar durante a Semana Santa.
Para o efeito são convidados os párocos das freguesias vizinhas, situação que é comum a todas as aldeias. Os padres deslocam-se a pé ou montados em cavalos garranos, de sua propriedade. De entre os padres que normalmente vêm à nossa aldeia, há um que é considerado muito severo nas penitências aplicadas e não menos severo durante o diálogo do confesso. É o justiceiro Padre Avieiro.
Acontece que o Ti Reinaldo não é dos melhores seguidores das regras de bom católico, só se confessando neste anual evento.
Desta vez calhou-lhe, para colocar em análise de pecador, o tal padre.
Normalmente e depois da bênção, o padre fazia a pergunta habitual: Há quanto tempo não se confessa? Isto significava: Há quanto tempo está em pecado?
Posta esta questão ao Ti Reinaldo, ele respondeu com a verdade: Senhor Abade, já não me confesso há um ano.
Com o conhecido mau feitio, o abade ripostou: Olhe que de ano anda a minha burra! (para que saibas Miguel, este é o tempo de gravidez das éguas...)
O Ti Reinaldo respirou fundo e atirou: Pois isso é que admira, Senhor Abade, pois a sua burra tem confessor em casa... E levantando- se, saiu da Igreja.
A partir dai o Ti Reinaldo entrou para o índex dos abades das redondezas... e de alguns paroquianos.

EM - MIGUEL, NO EXTREMO DA ESTREMA - ERNESTO FERREIRA - IN-FINITA

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