segunda-feira, 21 de outubro de 2019

O MOINHO DE ASTURÃES (excerto) - ERNESTO FERREIRA

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
Saibam do autor neste link
Conheçam a In-Finita neste link

Miguel, disse a Poesia, para melhor te identificares com o Ti Reinaldo, é necessário que conheças locais e factos, que ele possa recordar.
Um deles é o moinho, provavelmente o símbolo mais valioso da freguesia.
Não se sabe exactamente o ano de construção, mas pensa-se que teria sido nos meados do século XVII.
Sabe-se, isso sim por documentos e escrituras existentes, que foi adquirido por Ana Joaquina da Rocha, antepassada (pentavó) de Miguel, aos senhores Viscondes de Bertiandos em três de dezembro de mil oitocentos e quarenta e nove, cuja escritura se plasma em parte:
... uma azenha e engenho de serrar e uma insua, pelo fôro anual de dez mil reis em dinheiro, uma galinha de lutuosa e laudémio de vintena etc, seguido de condições de garantia.
Este moinho tinha duas funções: moer cereais, especialmente milho, e serração de madeira. Por essa razão tinha duas rodas verticais, sendo que, após cessação da serração, este equipamento motriz foi utilizado na produção de energia eléctrica.
A função “serração”, que cessou no final do século dezanove, era interessante e ela obrigou à existência de uma porta com acesso à ponte românica. Assim os toros de madeira entravam pela porta virada à ponte e saíam para o eido pela porta do lado sul onde as tábuas eram encasteladas para promover a sua secagem e arrumação.
A função moagem terminou no século passado, existindo ainda em condições de funcionar. O Ti Reinaldo trabalha aí há uns bons 40 anos.
O moinho tem cerca de 100 m2 e, enquanto morada do Ti Reinaldo, tem uma cozinha, um galinheiro, a sala do equipamento e um quarto, este de piso elevado em relação ao salão da mó para defesa das cheias do rio, que são vulgares.
Como podes ver Miguel, o moinho e a ponte parecem gémeas, pese embora terem sido construídos em épocas bem distantes.
E com o conjunto das duas ilhas, a jusante e a montante da ponte, mais a corrente de água límpida, constituem um quadro que qualquer pintor não resistirá em gravar. Com o privilégio raro de, sob qualquer posicionamento, sempre ter em frente de si, quadro de infinita beleza.
(Miguel não conseguiu comprovar, mas dizia-se que a Poesia teria nascido aqui. Verdade ou não, assim o afirmam os aldeãos).
No rio, nadando ao seu modo e conforme as épocas do ano, podemos ver lampreias, enguias, barbos, escalos, trutas, bogas e solhas e fugidiamente o seu predador “pica-peixe” pássaro, com penas de múltiplas cores e o seu principal predador, as lontras. As trutas constituem a espécie mais procurada pelos pescadores desportivos e pelos visitantes, cada um com seu interesse. Os primeiros
para disputa de troféus; os segundos para observar os saltos espectaculares das trutas, na caça aos insectos que sobrevoam a água do rio.

EM - MIGUEL, NO EXTREMO DA ESTREMA - ERNESTO FERREIRA - IN-FINITA

Sem comentários:

Enviar um comentário

Toca a falar disso