Agradecemos à autora PAULA VALÉRIA ANDRADE pela disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 – Como você vê
o papel da mulher na literatura atual?
Essencial e
pungente. Ainda é preciso fazer mais, e mudar o quadro atual, equalizando mais
autoras publicadas X livros ao ano. Ampliar os espaços e conjugar mais
narrativas e diversidades, mesmo dentro de gênero feminino. É preciso fazer
mais, porém já alcançamos um progresso nunca antes estimado ou visto, no
Brasil. Temos movimentos, grupos, saraus, coletivos e núcleos de ação literária
e poética para o desenvolvimento da mulher escritora. Isso é lindo! Mas ainda é
preciso fazer mais e crescer os espaços de expressão da mulher, onde ela
estiver.
2 – Em que
medida o universo feminino influencia na hora de escrever?
No meu coração,
sangue, órgãos, pulso e hormônios femininos. Não penso no universo feminino.
Sou mulher. E assim vejo o mundo pelo meu viés. Meu olhar de mulher inserida no
mundo. Sou mulher escrevinhando seus retratos, meus retratos, nossas vivências.
O que se percebe ao redor. Registros foto-antropométricos de memórias e cenas
urbanas, situações cotidianas.
3 – Em que
corrente literária acha que a sua escrita se enquadra?
Sou mutante
ambulante e minha poética caminha a partir de fragmentos de conceitos
literários, e navega misturada e liquidificada em sentidos e vertentes, por
vezes mais subjetiva, ou lírica. Por vezes, mais experimental, formalista, à
Oswald de Andrade, João Cabral, poesia concreta. A poesia que busco torna-se,
ainda, por um lado mais cotidiana, urbana quanto à temática, e por outro lado,
ela é instrumento, um lugar de fala e de pressão contra as ditaduras
antidemocráticas. Me simpatizo no passado da régua cronológica, com as
correntes do Arcadismo onde busco sempre a conciliação entre homem e
os elementos da natureza, acredito nessa profunda troca. E trago toques de
Realismo e Naturalismo onde como escritora, viro apenas uma observadora da vida
das personagens. E abraço o Simbolismo, numa poesia espiritualizada e
concentrada no poder da sugestão. E tudo isso junto e misturado faz uma poesia
pós-moderna e contemporânea, que traz a marca dessa liberdade de diálogos e
intersecções entre os processos criativos e de
linguagens da expressão. Sou o nada, e um pouco disso tudo amalgamado, quando
escrevo.
4 - Que
importância dá aos movimentos de integração da mulher?
Total
importância. Sou ativista nas artes e literatura. E comecei cedo, trabalhando
no site pioneiro para mulheres em 1998 – o Wmulher , criado por Flavia de
Queiroz Hesse. A partir daí, sempre me envolvo e participo de movimentos e
coletivos, em prol da livre expressão da mulher brasileira. Editei, coordenei e
publiquei em sites e portais da web, como a Oficina do Pensamento, a Revista
Esfera de Cultura On Line e o Cronópios, e fiz trocas muito interessantes, com
mulheres brasileiras e de todos os países latinos, através da Internet.
Participo do
grupo Mulheres Poetas do organizador e também poeta Rubens Jardim, com saraus
na Casa das Rosas, São Paulo. Sou curadora de projetos e entre eles, o Sarau “O
Feminino Infinito” há mais de um ano em São Paulo, onde atuo como MC, além de
produtora. Estas experiências, são pontuais e importantes na minha carreira de
artista, poeta e escritora (digital e publicada). Trabalhar com mulheres,
proporcionar trocas, valorizar seu desenvolvimento e expressão livre, é um
direito de cidadania e prazer de construção, na conscientização de um mundo
melhor, mais igualitário e menos violento. Podemos ser proativas nisso, se
amarmos os resultados sociais e sócio afetivos.
Além disso, como
profissional do teatro desde 1990, me envolvo em montagens que tragam temas e
personagens femininos de relevância, para formação de um público mais
consciente, sobre a integração da mulher na sociedade de forma mais justa,
igualitária, e menos opressiva.
Acredito neste
ativismo sutil e cotidiano, onde pouco a pouco o respeito ao feminino toma
corpo, e se agrega numa egrégora de força e potência. Fico muito contente em
participar como autora, do movimento Mulherio das Letras, ativo em todo o
Brasil, e agora em Portugal. Juntas somos mais Fortes, não é mesmo?
5 – O que
acredita ser essencial para divulgar a literatura?
Paixão e voz
ativa. É claro que políticas públicas ajudam muito, sempre.
6 - Quais os
pontos positivos e negativos do universo da escrita?
Não vejo pontos
negativos. Só percebo coisas boas na escrita. E assim, sigo.
7 – O que
pretende alcançar enquanto autora?
Não pretendo
alcançar nada. Apenas vivenciar. Viver, é mais que tudo. Já tenho tudo que
preciso comigo por dentro, que é a minha relação intima e profunda, com o que
vejo, sinto e consigo escrever.
8 – Cite um
projeto a curto prazo e um a longo prazo.
A curto prazo,
tem dois novos livros. E um, é a participação na Coletânea Poética da Poesia
Primata, coleção especial de mulheres poetas – com a plaqueta “O Universo de
Nós (2) Dois” a ser lançada agora em junho, no dia 29 às 19hrs, em São
Paulo.
O outro, é o
lançamento do novo livro de poesia “A Pandemia da Invisibilidade do Ser” pela
Editora Algaroba, na FLIP Paraty dia 13 de julho (de 13hrs às 15hrs), na
“Cadeia Literária”, antigo prédio do sec. XVIII. Vai ser uma festa o
sarau-lançamento, com leituras e projeções de vídeos- books trailers poéticos!
Depois partimos para lançar em São Paulo em agosto. E no Rio. E assim por
diante.
E ao longo
prazo, é estudar cada vez mais dramaturgia, literatura, filosofia e mesclar com
poesia e múltiplas linguagens estéticas, dança, música e mix media. O namoro
com o verbivocovisual me encanta na poesia. A dialética, o épico e o
surrealismo também.
9 - Sugira uma
autora e um livro (contemporâneos).
Outros Cantos -
de Maria Valeria Rezende
10 - Qual a
pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?
O que é mais
importante, a poesia ou a vida?
– A vida, porque
a poesia nela, nua está.
Parabéns Paula Valéria, gostei muito de suas respostas e de conhecer seu pensamento sobre nosso papel na literatura. Abraço
ResponderEliminarAgradecida poeta querida! Abraços!
EliminarAgradecida por sua leitura e palavras Isimieres ! ��
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