terça-feira, 25 de junho de 2019

DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL... PAULA VALÉRIA ANDRADE


Agradecemos à autora PAULA VALÉRIA ANDRADE pela disponibilidade em responder ao nosso questionário 

1 – Como você vê o papel da mulher na literatura atual? 

Essencial e pungente. Ainda é preciso fazer mais, e mudar o quadro atual, equalizando mais autoras publicadas X livros ao ano. Ampliar os espaços e conjugar mais narrativas e diversidades, mesmo dentro de gênero feminino. É preciso fazer mais, porém já alcançamos um progresso nunca antes estimado ou visto, no Brasil. Temos movimentos, grupos, saraus, coletivos e núcleos de ação literária e poética para o desenvolvimento da mulher escritora. Isso é lindo! Mas ainda é preciso fazer mais e crescer os espaços de expressão da mulher, onde ela estiver.

2 – Em que medida o universo feminino influencia na hora de escrever?

No meu coração, sangue, órgãos, pulso e hormônios femininos. Não penso no universo feminino. Sou mulher. E assim vejo o mundo pelo meu viés. Meu olhar de mulher inserida no mundo. Sou mulher escrevinhando seus retratos, meus retratos, nossas vivências. O que se percebe ao redor. Registros foto-antropométricos de memórias e cenas urbanas, situações cotidianas.

3 – Em que corrente literária acha que a sua escrita se enquadra?

Sou mutante ambulante e minha poética caminha a partir de fragmentos de conceitos literários, e navega misturada e liquidificada em sentidos e vertentes, por vezes mais subjetiva, ou lírica. Por vezes, mais experimental, formalista, à Oswald de Andrade, João Cabral, poesia concreta. A poesia que busco torna-se, ainda, por um lado mais cotidiana, urbana quanto à temática, e por outro lado, ela é instrumento, um lugar de fala e de pressão contra as ditaduras antidemocráticas. Me simpatizo no passado da régua cronológica, com as correntes do Arcadismo onde busco sempre a conciliação entre homem e os elementos da natureza, acredito nessa profunda troca. E trago toques de Realismo e Naturalismo onde como escritora, viro apenas uma observadora da vida das personagens. E abraço o Simbolismo, numa poesia espiritualizada e concentrada no poder da sugestão. E tudo isso junto e misturado faz uma poesia pós-moderna e contemporânea, que traz a marca dessa liberdade de diálogos e intersecções entre os processos criativos e de linguagens da expressão. Sou o nada, e um pouco disso tudo amalgamado, quando escrevo.

4 - Que importância dá aos movimentos de integração da mulher? 

Total importância. Sou ativista nas artes e literatura. E comecei cedo, trabalhando no site pioneiro para mulheres em 1998 – o Wmulher , criado por Flavia de Queiroz Hesse. A partir daí, sempre me envolvo e participo de movimentos e coletivos, em prol da livre expressão da mulher brasileira. Editei, coordenei e publiquei em sites e portais da web, como a Oficina do Pensamento, a Revista Esfera de Cultura On Line e o Cronópios, e fiz trocas muito interessantes, com mulheres brasileiras e de todos os países latinos, através da Internet.
Participo do grupo Mulheres Poetas do organizador e também poeta Rubens Jardim, com saraus na Casa das Rosas, São Paulo. Sou curadora de projetos e entre eles, o Sarau “O Feminino Infinito” há mais de um ano em São Paulo, onde atuo como MC, além de produtora. Estas experiências, são pontuais e importantes na minha carreira de artista, poeta e escritora (digital e publicada). Trabalhar com mulheres, proporcionar trocas, valorizar seu desenvolvimento e expressão livre, é um direito de cidadania e prazer de construção, na conscientização de um mundo melhor, mais igualitário e menos violento. Podemos ser proativas nisso, se amarmos os resultados sociais e sócio afetivos. 
Além disso, como profissional do teatro desde 1990, me envolvo em montagens que tragam temas e personagens femininos de relevância, para formação de um público mais consciente, sobre a integração da mulher na sociedade de forma mais justa, igualitária, e menos opressiva. 
Acredito neste ativismo sutil e cotidiano, onde pouco a pouco o respeito ao feminino toma corpo, e se agrega numa egrégora de força e potência. Fico muito contente em participar como autora, do movimento Mulherio das Letras, ativo em todo o Brasil, e agora em Portugal. Juntas somos mais Fortes, não é mesmo?

5 – O que acredita ser essencial para divulgar a literatura? 

Paixão e voz ativa. É claro que políticas públicas ajudam muito, sempre.

6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita?

Não vejo pontos negativos. Só percebo coisas boas na escrita. E assim, sigo.

7 – O que pretende alcançar enquanto autora? 

Não pretendo alcançar nada. Apenas vivenciar. Viver, é mais que tudo. Já tenho tudo que preciso comigo por dentro, que é a minha relação intima e profunda, com o que vejo, sinto e consigo escrever.

8 – Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.

A curto prazo, tem dois novos livros. E um, é a participação na Coletânea Poética da Poesia Primata, coleção especial de mulheres poetas – com a plaqueta “O Universo de Nós (2) Dois” a ser lançada agora em junho, no dia 29 às 19hrs, em São Paulo. 
O outro, é o lançamento do novo livro de poesia “A Pandemia da Invisibilidade do Ser” pela Editora Algaroba, na FLIP Paraty dia 13 de julho (de 13hrs às 15hrs), na “Cadeia Literária”, antigo prédio do sec. XVIII. Vai ser uma festa o sarau-lançamento, com leituras e projeções de vídeos- books trailers poéticos! Depois partimos para lançar em São Paulo em agosto. E no Rio. E assim por diante.
E ao longo prazo, é estudar cada vez mais dramaturgia, literatura, filosofia e mesclar com poesia e múltiplas linguagens estéticas, dança, música e mix media. O namoro com o verbivocovisual me encanta na poesia. A dialética, o épico e o surrealismo também.

9 - Sugira uma autora e um livro (contemporâneos).

Outros Cantos - de Maria Valeria Rezende

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

O que é mais importante, a poesia ou a vida? 
– A vida, porque a poesia nela, nua está.

3 comentários:

  1. Parabéns Paula Valéria, gostei muito de suas respostas e de conhecer seu pensamento sobre nosso papel na literatura. Abraço

    ResponderEliminar
  2. Agradecida por sua leitura e palavras Isimieres ! ��

    ResponderEliminar

Toca a falar disso