quarta-feira, 27 de março de 2019

DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL... IZILDA BICHARA


Agradecemos à autora IZILDA BICHARA a disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 – Como você vê o papel da mulher na literatura atual?

Sinto que hoje estamos mais conscientes e dispostas a conquistar um espaço antes garantido predominantemente ao universo masculino. É uma tarefa árdua e gigantesca. Mas somos muitas e temos uma vantagem: a sororidade.
Mulheres escritoras, nos últimos anos, vêm se unindo cada vez mais. Faço parte de dois Coletivos Literários, o Martelinho de Ouro e o Mulherio das Letras. É fundamental estarmos reunidas para troca de experiências e ideias, para traçar metas, discutir pautas de interesse comum e ocupar o espaço a que fazemos jus. Com isso, crescem as possibilidades de sermos publicadas e lidas e de obtermos prêmios literários de peso - como se tem visto ultimamente. Tudo isso representa um claro avanço do papel da mulher na literatura.

2 – Em que medida o universo feminino infuencia na hora de escrever?

Devo  antes dizer que quando preciso me referir especificamente à produção literária de mulheres, prefiro dizer: literatura escrita por mulheres. Não me agrada classificar a literatura em feminina e masculina, porque literatura não tem gênero. Pode ser escrita tanto por mulheres, como por homens. Assim, acredito que, numa obra de ficção, uma mulher pode perfeitamente abarcar o universo masculino e vice-versa.
Porém, não posso deixar de reconhecer que sou profundamente tocada por questões que dizem respeito à minha condição de mulher. Muitos de meus contos e personagens retratam sentimentos peculiares, relações abusivas ou condições desvantajosas, que refletem, de um modo geral, a situação de desigualdade e injustiça das mulheres do nosso tempo.

3 – Em que corrente literária acha que a sua escrita se enquadra?

Acho que minha escrita não pode ser enquadrada com precisão em nenhuma corrente literária.
Geralmente escrevo contos, em prosa livre e bastante diversificada. Raramente escrevo poemas. De vez em quando, gosto de experimentar formas novas, não usuais, ou de me aventurar por temas um tantinho distópicos. Minha escrita acompanha a direção natural apontada pelo próprio texto e segue aquilo que me parece esteticamente apropriado no momento.

4 - Que importância dá aos movimentos de integração da mulher?

Uma andorinha só não faz verão, nem um dedo só faz a mão.
Esse provérbio resume bem o que penso sobre a mobilização de pessoas em torno de uma causa. Com a mulher não é diferente. Para corrigir a situação de opressão e de desigualdade, que se estabeleceu ao longo da história, é preciso haver união entre as mulheres para melhor compreender, avaliar, discutir, protestar, reivindicar e mudar os fatos e as narrativas injustas de que somos vítimas.

5 – O que acredita ser essencial para divulgar a literatura?

Difundir o gosto pela leitura.
A meu ver, a literatura só se realiza plenamente por meio do leitor. Se não houver leitores, a escrita perde o sentido. Assim, penso que o primeiro passo para divulgar a literatura é conquistar leitores, desde a criancinha, na mais tenra idade, até o ancião. É preciso fazer um trabalho miúdo e paciente, mostrar às pessoas que o livro é a porta de entrada para uma viagem especial, que pode levá-las a visitar, ou revisitar, lugares, sensações e sentimentos muito particulares, numa experiência única e enriquecedora.

6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita?

Acho que o maior ponto positivo é a magia desse universo. A possibilidade infinita de expressão criativa que se abre ao autor e a transformação do livro, depois de escrito, numa ponte, por onde o escritor conduz o leitor a outras infinitas possibilidades, mexendo com suas emoções, ampliando seus conhecimentos, provocando, sempre, enriquecimento pessoal e alguma mudança interna.
Já o  grande aspecto negativo, a meu ver, prende-se às dificuldades do mercado editorial: a via-crucis percorrida pelos escritores para publicar seus livros; a  frequente necessidade de recorrer à autopublicação, com todas as limitações que isso implica; a pouca ou nenhuma divulgação por parte das pequenas, e até das grandes, editoras; o percentual ínfimo que, em geral,  os escritores recebem a cada exemplar vendido e, por fim, a quantidade reduzida de leitores em relação ao grande número de títulos oferecidos.

7 – O que pretende alcançar enquanto autora?

Sou otimista. Pretendo continuar a escrever muito e sempre, ter meus livros publicados, inclusive em outras línguas, e alcançar uma multidão de leitores

8 – Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.

A curto prazo, devo escrever um conto para a nova coletânea do Martelinho de Ouro, a ser lançada ainda este ano.
A longo prazo, escrever um romance. E outro. E talvez outro mais. E outro (já disse que sou otimista).

9 - Sugira uma autora e um livro (contemporâneos).

Deborah Dornellas, que integra o Coletivo Literário Martelinho de Ouro, e é autora de “Por Cima do Mar”, livro que acaba de vencer o prêmio Casa de Las Américas, como o melhor romance brasileiro

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

A pergunta que já me fizeram dezena de vezes: Por que você escreve?
E a resposta é sempre a mesma, na esteira de Clarice Lispector:  Escrevo porque respiro.


Sobre a autora

IZILDA BICHARA vive em São Paulo, Brasil, e é formada em Letras e em Direito pela USP. Foi professora de Língua Portuguesa, procuradora do Município de São Paulo e orientadora de oficinas de poesia e expressão escrita. Participa do Mulherio das Letras e do Coletivo Literário Martelinho de Ouro, com publicações nas diversas antologias de prosa e poesia desses grupos e de outros. É autora da novela Térreo (Casa Impressora de Almeria e e-galáxia) e de Desculpa o atraso e outros contos (ed. @link).

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