Agradecemos à autora IZILDA BICHARA a disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 – Como você vê o papel da
mulher na literatura atual?
Sinto que hoje estamos mais conscientes e dispostas a conquistar um
espaço antes garantido predominantemente ao universo masculino. É uma tarefa
árdua e gigantesca. Mas somos muitas e temos uma vantagem: a sororidade.
Mulheres escritoras, nos últimos anos, vêm se unindo cada vez mais.
Faço parte de dois Coletivos Literários, o Martelinho de Ouro e o Mulherio das
Letras. É fundamental estarmos reunidas para troca de experiências e ideias, para
traçar metas, discutir pautas de interesse comum e ocupar o espaço a que fazemos
jus. Com isso, crescem as possibilidades de sermos publicadas e lidas e de
obtermos prêmios literários de peso - como se tem visto ultimamente. Tudo isso representa
um claro avanço do papel da mulher na literatura.
2 – Em que medida o universo
feminino infuencia na hora de escrever?
Devo antes dizer que
quando preciso me referir especificamente à produção literária de mulheres,
prefiro dizer: literatura escrita por mulheres. Não me agrada classificar a
literatura em feminina e masculina, porque literatura não tem gênero. Pode ser
escrita tanto por mulheres, como por homens. Assim, acredito que, numa obra de
ficção, uma mulher pode perfeitamente abarcar o universo masculino e
vice-versa.
Porém, não posso
deixar de reconhecer que sou profundamente tocada por questões que dizem
respeito à minha condição de mulher. Muitos de meus contos e personagens
retratam sentimentos peculiares, relações abusivas ou condições desvantajosas,
que refletem, de um modo geral, a situação de desigualdade e injustiça das
mulheres do nosso tempo.
3 – Em que corrente
literária acha que a sua escrita se enquadra?
Acho que minha escrita não pode ser enquadrada com precisão
em nenhuma corrente literária.
Geralmente escrevo contos, em prosa livre e bastante
diversificada. Raramente escrevo poemas. De vez em quando, gosto de experimentar
formas novas, não usuais, ou de me aventurar por temas um tantinho distópicos.
Minha escrita acompanha a direção natural apontada pelo próprio texto e segue aquilo
que me parece esteticamente apropriado no momento.
4 - Que importância dá aos movimentos
de integração da mulher?
Uma andorinha só não faz verão, nem um dedo só faz a mão.
Esse provérbio resume bem o que penso sobre a mobilização
de pessoas em torno de uma causa. Com a mulher não é diferente. Para corrigir a
situação de opressão e de desigualdade, que se estabeleceu ao longo da história,
é preciso haver união entre as mulheres para melhor compreender, avaliar,
discutir, protestar, reivindicar e mudar os fatos e as narrativas injustas de
que somos vítimas.
5 – O que acredita ser essencial
para divulgar a literatura?
Difundir o gosto pela leitura.
A meu ver, a literatura só se realiza plenamente por meio
do leitor. Se não houver leitores, a escrita perde o sentido. Assim, penso que
o primeiro passo para divulgar a literatura é conquistar leitores, desde a
criancinha, na mais tenra idade, até o ancião. É preciso fazer um trabalho
miúdo e paciente, mostrar às pessoas que o livro é a porta de entrada para uma
viagem especial, que pode levá-las a visitar, ou revisitar, lugares, sensações
e sentimentos muito particulares, numa experiência única e enriquecedora.
6 - Quais os pontos
positivos e negativos do universo da escrita?
Acho que o maior ponto positivo é a magia desse universo. A
possibilidade infinita de expressão criativa que se abre ao autor e a
transformação do livro, depois de escrito, numa ponte, por onde o escritor conduz
o leitor a outras infinitas possibilidades, mexendo com suas emoções, ampliando
seus conhecimentos, provocando, sempre, enriquecimento pessoal e alguma mudança
interna.
Já o grande aspecto
negativo, a meu ver, prende-se às dificuldades do mercado editorial: a
via-crucis percorrida pelos escritores para publicar seus livros; a frequente necessidade de recorrer à
autopublicação, com todas as limitações que isso implica; a pouca ou nenhuma
divulgação por parte das pequenas, e até das grandes, editoras; o percentual
ínfimo que, em geral, os escritores recebem
a cada exemplar vendido e, por fim, a quantidade reduzida de leitores em
relação ao grande número de títulos oferecidos.
7 – O que pretende alcançar
enquanto autora?
Sou otimista. Pretendo continuar a escrever muito e sempre,
ter meus livros publicados, inclusive em outras línguas, e alcançar uma
multidão de leitores
8 – Cite um projeto a curto
prazo e um a longo prazo.
A curto prazo, devo escrever um conto para a nova coletânea
do Martelinho de Ouro, a ser lançada ainda este ano.
A longo prazo, escrever um romance. E outro. E talvez outro
mais. E outro (já disse que sou otimista).
9 - Sugira uma autora e um
livro (contemporâneos).
Deborah Dornellas, que integra o Coletivo Literário
Martelinho de Ouro, e é autora de “Por Cima do Mar”, livro que acaba de vencer
o prêmio Casa de Las Américas, como o melhor romance brasileiro
10 - Qual a pergunta que
gostaria que lhe fizessem? E como responderia?
A pergunta que já me fizeram dezena de vezes: Por que você
escreve?
E a resposta é sempre a mesma, na esteira de Clarice
Lispector: Escrevo porque respiro.
Sobre a autora
IZILDA
BICHARA vive em São Paulo, Brasil, e é formada em Letras e em Direito
pela USP. Foi professora de Língua Portuguesa, procuradora do Município de
São Paulo e orientadora de oficinas de poesia e expressão escrita. Participa do
Mulherio das Letras e do Coletivo Literário Martelinho de Ouro, com publicações
nas diversas antologias de prosa e poesia desses grupos e de outros. É autora
da novela Térreo (Casa Impressora de
Almeria e e-galáxia) e de Desculpa o
atraso e outros contos (ed. @link).
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