terça-feira, 12 de março de 2019

DEZ PERGUNTAS MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL... MARIA ESTRELA DO MAR


Agradecemos à autora MARIA ESTRELA DO MAR a disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - Como você vê o papel da mulher na literatura atual?

O contributo das mulheres é essencial e, felizmente, é cada vez mais real. Apesar de ainda existir, em algumas cabeças, a ideia da escrita da mulher ser menor ou mais ligeira do que a dos homens, muito embora me pareça que esse pré-conceito já está bastante diluído. Tendo em conta que as mulheres tiveram, ao longo da história um caminho feito de muitas lutas e conquistas é, naturalmente, muito gratificante ver como foram granjeando espaço e reconhecimento no mundo literário. O produto escrito que resulta das mãos das mulheres é composto de singularidades que enobrecem o mundo das letras, apaixonam os homens e as mulheres, pois, fruto da sua sensibilidade, percepcionam detalhes que escapam aos homens; são o léxico das sacerdotisas. Considero que há uma riqueza oriunda do mundo emocional feminino que é primordial na literatura. Obviamente é com agrado que vejo crescer o número de mulheres que se afirmam neste meio quer na prosa, quer na poesia.

2 - Em que medida o universo feminino influencia na hora de escrever?

Como já referi, a sensibilidade das mulheres permite uma capacidade de captar e organizar pormenores que aparentemente podem ser dispensáveis, mas que fazem a diferença no todo. Toda a experiência de ser mulher é altamente poderosa, não só no que pode passar pela via da literatura mas em todo o resto. A escrita é uma “arma” forte, através dela as mulheres expressam o seu mundo interno; e, a visão do mundo através da lente feminina é uma mais-valia para todos. Há muito poder na pena e no tinteiro das mulheres.

3 - Em que corrente literária acha que a sua escrita se enquadra?

Talvez por falha minha nunca pensei nessa questão. Nunca me preocupei em identificar dentro de qual corrente me situo, ou qual a maior influência literária. Aquilo que escrevo, seja prosa ou verso, é aquilo que me povoa, estão lá os meus sentimentos, os meus desejos, as minhas dores, as revoltas, as batalhas; mas estão também as dores dos outros, os seus fracassos, as suas alegrias. Talvez sobressaia mais o estilo romântico, mas não só. Escrevo sobre o quotidiano, quantas vezes uma qualquer cena que absorvo mesmo ao meu lado, me inspira e me incita à escrita. Até hoje só abracei projetos coletivos e isto tem a ver com o facto de nunca ter traçado objetivos maiores ou ter desejado ser escritora. Enquanto a escrita me der prazer fá-lo-ei com certeza.

4 - Que importância dá aos movimentos de integração da mulher?

Reconheço-lhe a sua importância nas mudanças que operam na sociedade, o impacto das conquistas na vida de todas as mulheres. As mulheres sempre foram sacrificadas, sempre tiveram um caminho mais árduo, mais sofrido para alcançar os seus direitos e assegurar a sua dignidade. Basta recuar no tempo e ver como era entendida a mulher na Idade Média, qual o seu papel, as atrocidades que foram cometidas, e as ideias arcaicas que foram passando de geração em geração sem qualquer fundamento racional. Tudo o que até hoje foi conquistado é motivo de orgulho e, ao mesmo tempo, um alerta para que as mulheres mais jovens não se “distraiam” e não deixem de afirmar a sua importância e de lutar pelos seus direitos. Não gosto muito da palavra feminismo, não gosto da expressão “guerra de sexos”, acho que tem uma carga negativa. Acredito que os homens e as mulheres reconhecendo-se mutuamente no que de bom podem promover constroem, garantidamente, sociedades melhores e um mundo mais estimulante.

5 - O que acredita ser essencial para divulgar a literatura?

Nos tempos que vivemos a internet ocupou um lugar relevante, sobretudo através das redes sociais que gozam um lugar privilegiado enquanto ferramenta de comunicação. Penso que deve ser aproveitada em prol da cultura, na divulgação de eventos, como as tertúlias, por exemplo; a criação de grupos nas redes sociais também pode ajudar à divulgação.
Os projetos como o caso das antologias/coletivos são outra forma de estimular e provocar as pessoas a abraçar estes desafios e a ter um contacto mais próximo com o mundo da literatura. Importante também o papel das estações de televisão e as rádios; as autarquias, ao nível da dinamização de atividades em bibliotecas, ou promoção de concursos literários a nível local.

6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita?

A escrita é um exercício extraordinário que permite uma liberdade indescritível, essa liberdade é, a meu ver, a maior compensação que a escrita nos devolve. Através dela saramos feridas, sanamos mágoas, encontramos horizontes outrora invisíveis.  Mas penso que, infelizmente ainda há quem desvalorize a dedicação e entrega que à escrita. Os livros ainda são vistos como coisa menor, dispensável.

7 - O que pretende alcançar enquanto autora?

Como já disse em momentos anteriores, a minha intervenção no meio literário tem sido exclusivamente em coletâneas/antologias quer de prosa quer de poesia. Até ao momento é esse formato que me tem motivado. Gosto do intercâmbio que estes projetos nos permitem, já conheci algumas pessoas encantadoras, com quem tenho um imenso gosto de conversar, de trocar ideias, de aprender. Não são muitas as pessoas que me fascinam neste meio, devo dizer, mas as que me conquistaram tenho-as na maior consideração e guardo o maior respeito por elas e pelo seu percurso. Não procuro nada de extraordinário, gosto de escrever, sei escrever, consigo transmitir emoção pelas palavras escritas, sinto-me feliz quando mergulho na escrita, desligo-me dos estímulos que me rodeiam e sou eu em qualquer lugar, saio sem sair da cadeira, abandono o lugar onde estou sem o deixar. Estou na escrita de forma tranquila, sem disputas, sem polémicas, sem sobressaltos. 

8 - Cite um projeto a curto prazo e um a longo prazo.

O único projeto que tenho, nesta área, é continuar a participar nos projetos coletivo, em prosa ou poesia. O dia de amanhã não sei mas no momento presente é isso que tenho traçado. A vida dá muitas voltas e aquilo que hoje queremos pode não ser o mesmo que amanhã. Deixo fluir.

9 - Sugira uma autora e um livro (contemporâneos).

Vou referir duas já desaparecidas e que são intemporais, fascinantes, apaixonadas e apaixonantes: Florbela Espanca e Natália Correia. Qualquer obra delas é uma boa escolha.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

Não tenho nenhuma em especial.


BIOGRAFIA:
Natural de Lisboa onde nasceu em 1976. Dedicou-se desde cedo ao negócio da família no ramo dos têxteis. Mais tarde, e em paralelo com a atividade profissional, ingressou no ensino superior tendo frequentado o curso de Psicologia, no ISPA, instituição onde concluiu a licenciatura em Psicologia Educacional. Não deixando em definitivo os negócios de família abraçou outras atividades, as quais, acredita, lhe permitiram outras visões e contribuíram para alargar o seu entendimento sobre o ser humano e as relações interpessoais. Desenvolveu o exercício da Psicologia durante alguns anos em consultório privado e em colaboração com uma instituição e uma autarquia. Até 2016 ofereceu algum do seu tempo a voluntariados com crianças, idosos e, pessoas em situação de vulnerabilidade social e económica, colaborando com diversas instituições de cariz religioso.
A escrita aparece de uma forma natural e em consequência do gosto pela leitura. Ainda muito jovem era já uma entusiasmada leitora, em parte pelo precoce contacto que teve com os livros em sua casa. Na adolescência leu os grandes clássicos portugueses e estrangeiros. Escrevia com assiduidade mas só ao fim de muitos anos tirou da gaveta as folhas que foi guardando e, estimulada pelo convite endereçado por um amigo, revelou-se aos outros. Os seus produtos escritos têm sido divulgados através das participações que tem feito em coletivos/antologias de prosa e poesia sob os pseudónimos Maria Estrela do Mar e MeLua.


1 comentário:

Toca a falar disso