Agradecemos à autora MARIA ESTRELA DO MAR a disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 - Como você vê
o papel da mulher na literatura atual?
O contributo das
mulheres é essencial e, felizmente, é cada vez mais real. Apesar de ainda
existir, em algumas cabeças, a ideia da escrita da mulher ser menor ou mais ligeira
do que a dos homens, muito embora me pareça que esse pré-conceito já está
bastante diluído. Tendo em conta que as mulheres tiveram, ao longo da história
um caminho feito de muitas lutas e conquistas é, naturalmente, muito gratificante
ver como foram granjeando espaço e reconhecimento no mundo literário. O produto
escrito que resulta das mãos das mulheres é composto de singularidades que
enobrecem o mundo das letras, apaixonam os homens e as mulheres, pois, fruto da
sua sensibilidade, percepcionam detalhes que escapam aos homens; são o léxico
das sacerdotisas. Considero que há uma riqueza oriunda do mundo emocional feminino
que é primordial na literatura. Obviamente é com agrado que vejo crescer o
número de mulheres que se afirmam neste meio quer na prosa, quer na poesia.
2 - Em que
medida o universo feminino influencia na hora de escrever?
Como já referi,
a sensibilidade das mulheres permite uma capacidade de captar e organizar pormenores
que aparentemente podem ser dispensáveis, mas que fazem a diferença no todo.
Toda a experiência de ser mulher é altamente poderosa, não só no que pode
passar pela via da literatura mas em todo o resto. A escrita é uma “arma”
forte, através dela as mulheres expressam o seu mundo interno; e, a visão do
mundo através da lente feminina é uma mais-valia para todos. Há muito poder na
pena e no tinteiro das mulheres.
3 - Em que
corrente literária acha que a sua escrita se enquadra?
Talvez por falha
minha nunca pensei nessa questão. Nunca me preocupei em identificar dentro de qual
corrente me situo, ou qual a maior influência literária. Aquilo que escrevo,
seja prosa ou verso, é aquilo que me povoa, estão lá os meus sentimentos, os
meus desejos, as minhas dores, as revoltas, as batalhas; mas estão também as
dores dos outros, os seus fracassos, as suas alegrias. Talvez sobressaia mais o
estilo romântico, mas não só. Escrevo sobre o quotidiano, quantas vezes uma
qualquer cena que absorvo mesmo ao meu lado, me inspira e me incita à escrita. Até
hoje só abracei projetos coletivos e isto tem a ver com o facto de nunca ter
traçado objetivos maiores ou ter desejado ser escritora. Enquanto a escrita me
der prazer fá-lo-ei com certeza.
4 - Que importância dá aos
movimentos de integração da mulher?
Reconheço-lhe a sua importância nas
mudanças que operam na sociedade, o impacto das conquistas na vida de todas as
mulheres. As mulheres sempre foram sacrificadas, sempre tiveram um caminho mais
árduo, mais sofrido para alcançar os seus direitos e assegurar a sua dignidade.
Basta recuar no tempo e ver como era entendida a mulher na Idade Média, qual o
seu papel, as atrocidades que foram cometidas, e as ideias arcaicas que foram
passando de geração em geração sem qualquer fundamento racional. Tudo o que até
hoje foi conquistado é motivo de orgulho e, ao mesmo tempo, um alerta para que
as mulheres mais jovens não se “distraiam” e não deixem de afirmar a sua
importância e de lutar pelos seus direitos. Não gosto muito da palavra feminismo,
não gosto da expressão “guerra de sexos”, acho que tem uma carga negativa.
Acredito que os homens e as mulheres reconhecendo-se mutuamente no que de bom
podem promover constroem, garantidamente, sociedades melhores e um mundo mais
estimulante.
5 - O que acredita ser essencial
para divulgar a literatura?
Nos tempos que vivemos a internet
ocupou um lugar relevante, sobretudo através das redes sociais que gozam um
lugar privilegiado enquanto ferramenta de comunicação. Penso que deve ser
aproveitada em prol da cultura, na divulgação de eventos, como as tertúlias,
por exemplo; a criação de grupos nas redes sociais também pode ajudar à
divulgação.
Os projetos como o caso das antologias/coletivos são outra forma de estimular e provocar as pessoas a abraçar estes desafios e a ter um contacto mais próximo com o mundo da literatura. Importante também o papel das estações de televisão e as rádios; as autarquias, ao nível da dinamização de atividades em bibliotecas, ou promoção de concursos literários a nível local.
Os projetos como o caso das antologias/coletivos são outra forma de estimular e provocar as pessoas a abraçar estes desafios e a ter um contacto mais próximo com o mundo da literatura. Importante também o papel das estações de televisão e as rádios; as autarquias, ao nível da dinamização de atividades em bibliotecas, ou promoção de concursos literários a nível local.
6 - Quais os
pontos positivos e negativos do universo da escrita?
A escrita é um
exercício extraordinário que permite uma liberdade indescritível, essa
liberdade é, a meu ver, a maior compensação que a escrita nos devolve. Através
dela saramos feridas, sanamos mágoas, encontramos horizontes outrora
invisíveis. Mas penso que, infelizmente
ainda há quem desvalorize a dedicação e entrega que à escrita. Os livros ainda
são vistos como coisa menor, dispensável.
7 - O que pretende alcançar
enquanto autora?
Como já disse em momentos
anteriores, a minha intervenção no meio literário tem sido exclusivamente em
coletâneas/antologias quer de prosa quer de poesia. Até ao momento é esse
formato que me tem motivado. Gosto do intercâmbio que estes projetos nos
permitem, já conheci algumas pessoas encantadoras, com quem tenho um imenso
gosto de conversar, de trocar ideias, de aprender. Não são muitas as pessoas
que me fascinam neste meio, devo dizer, mas as que me conquistaram tenho-as na
maior consideração e guardo o maior respeito por elas e pelo seu percurso. Não
procuro nada de extraordinário, gosto de escrever, sei escrever, consigo
transmitir emoção pelas palavras escritas, sinto-me feliz quando mergulho na
escrita, desligo-me dos estímulos que me rodeiam e sou eu em qualquer lugar,
saio sem sair da cadeira, abandono o lugar onde estou sem o deixar. Estou na
escrita de forma tranquila, sem disputas, sem polémicas, sem sobressaltos.
8 - Cite um projeto a curto prazo e
um a longo prazo.
O único projeto que tenho, nesta
área, é continuar a participar nos projetos coletivo, em prosa ou poesia. O dia
de amanhã não sei mas no momento presente é isso que tenho traçado. A vida dá
muitas voltas e aquilo que hoje queremos pode não ser o mesmo que amanhã. Deixo
fluir.
9 - Sugira uma autora e um livro
(contemporâneos).
Vou referir duas já desaparecidas e
que são intemporais, fascinantes, apaixonadas e apaixonantes: Florbela Espanca
e Natália Correia. Qualquer obra delas é uma boa escolha.
10 - Qual a pergunta que gostaria
que lhe fizessem? E como responderia?
Não tenho nenhuma em especial.
BIOGRAFIA:
Natural
de Lisboa onde nasceu em 1976. Dedicou-se desde cedo ao negócio da família no
ramo dos têxteis. Mais tarde, e em paralelo com a atividade profissional,
ingressou no ensino superior tendo frequentado o curso de Psicologia, no ISPA,
instituição onde concluiu a licenciatura em Psicologia Educacional. Não
deixando em definitivo os negócios de família abraçou outras atividades, as
quais, acredita, lhe permitiram outras visões e contribuíram para alargar o seu
entendimento sobre o ser humano e as relações interpessoais. Desenvolveu o
exercício da Psicologia durante alguns anos em consultório privado e em
colaboração com uma instituição e uma autarquia. Até 2016 ofereceu algum do seu
tempo a voluntariados com crianças, idosos e, pessoas em situação de vulnerabilidade
social e económica, colaborando com diversas instituições de cariz religioso.
A
escrita aparece de uma forma natural e em consequência do gosto pela leitura.
Ainda muito jovem era já uma entusiasmada leitora, em parte pelo precoce
contacto que teve com os livros em sua casa. Na adolescência leu os grandes
clássicos portugueses e estrangeiros. Escrevia com assiduidade mas só ao fim de
muitos anos tirou da gaveta as folhas que foi guardando e, estimulada pelo
convite endereçado por um amigo, revelou-se aos outros. Os seus produtos
escritos têm sido divulgados através das participações que tem feito em
coletivos/antologias de prosa e poesia sob os pseudónimos Maria Estrela do Mar
e MeLua.
Muito obrigada pela partilha!!!
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