Agradecemos à autora LINDEVANIA MARTINS a disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 – Como você vê o papel da mulher na literatura
atual?
As mulheres estão “movendo as estruturas”. Estão
questionando a ausência de representação na literatura, questionando os cânones
e um sistema cultural que desqualifica
sua produção, lutando por visibilidade e construindo novas narrativas. Isto
implica em grande renovação e abertura não só para nós mulheres, mas para todo
o corpo social.
2 – Em que medida o universo feminino influencia na
hora de escrever?
Só posso falar pela minha experiência pessoal. Creio
que o meu ponto de vista é “contaminado” pelo meu gênero e pelo lugar que ocupo
no mundo. Só consigo afastar, na minha escrita, o fato de que sou mulher,
mediante um esforço que considero não valer a pena. Considero não valer a pena
porque esse tem sido o procedimento padrão. O ponto de vista que a literatura
adota, o ponto de vista dito “universal”
ou “neutro”, é um ponto de vista masculino. Então, assumir essa voz feminina é
marcar minha existência e minha diferença enquanto mulher que escreve.
3 – Em que corrente literária acha que a sua escrita
se enquadra?
Meu mais recente livro de contos, “Zona de
Desconforto”, possui contos cujo registro é mais realista. Mas em geral, tento
não preocupar com essa questão. Quero atingir algum tipo de liberdade com a
minha escrita que a preocupação com esse tema poderia tolher. E quero poder
transitar mais, mesclar mais, estar em deslocamento.
4 - Que importância dá aos movimentos de integração
da mulher?
Acredito que não existe “a mulher”, mas “muitas
mulheres”, com grande diversidade entre si. Por isso os movimentos de
integração de mulheres são muito importantes. Há uma diversidade entre as
mulheres que é necessário conhecer e respeitar, construindo ao mesmo tempo
liberdade e solidariedade. Esses movimentos permitem isso. Mas permitem,
principalmente, que se possa construir formas de reação às tentativas de
confinar nossa subjetividade, nossa força e nossa produção artística aos espaços
estreitos.
5 – O que acredita ser essencial para divulgar a
literatura?
Compreender em que mundo estamos e como esse mundo
se comunica. Isso implica em fazer uso das tecnologias disponíveis, estabelecer
aquilo que se deseja e qual o nosso público, ter parcerias confiáveis, entre
outros.
6 - Quais os pontos positivos e negativos do
universo da escrita?
Creio que a escrita nos salva da loucura do mundo.
Em um mundo que cada vez mais nos objetifica, creio que a escrita nos devolve
um certo tipo de identidade: amparada na liberdade que se exercita na ficção e
que nos impede o mergulho em mundo maquinal. O negativo, é que ela também pode
nos conduzir a essa mesma loucura. Então, é preciso ter equilíbrio e cuidado.
7 – O que pretende alcançar enquanto autora?
Essa é uma pergunta que já me fiz. Ainda não tenho
uma resposta definitiva ou satisfatória. Talvez a minha ambição seja a mesma do
menino de Drummond: “soltar a coisa oculta no seu peito”.
8 – Cite um projeto a curto prazo e um a longo
prazo.
Um projeto a curto prazo: publicar um livro de
poesias reunindo o material que já publiquei em revistas e antologias. Um
projeto de longo prazo: publicar um graphic novel. Esse, em especial, é um
projeto que me desafia e me anima muito.
9 - Sugira uma autora e um livro (contemporâneos).
Mariam Pessah é um autora argentina radicada no
Brasil. Dona de uma escrita muito singular, ela tem cinco livros publicados e
está em processo de finalização de sua nova obra chamada “Grito de Mar”. Estou
ansiosa para ler! Sugiro que fiquemos de olho porque vai valer muito a pena!
10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem?
E como responderia?
A pergunta eu já me fiz: “E como termina essa
história?”.
Já
respondi de forma diferente, mas hoje diria que “não sei”. E que estou contente
por aceitar certas impossibilidades e incompletudes.
BIOGRAFIA
Lindevania Martins é graduada em
Direito com Mestrado em Cultura e Sociedade (UFMA). Defensora pública atuando
no Núcleo Especializado de Defesa da Mulher e População LGBT. Poeta e contista.
Primeiro lugar por duas vezes consecutivas no Concurso Literário e Artístico
Cidade de São Luís, categoria contos. Possui contos e poemas publicados em
antologias nacionais e internacionais, bem como revistas. Autora dos livros de
contos “Anônimos” (Prefeitura de São Luís, 2003), “Zona de Desconforto” (Ed.
Benfazeja, 2018) e “A Outra” (inédito). Escreve nos blogs Catálogo de
Indisciplinas e Bookfilia.
Entrevista perfeita! Adorei!
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