sexta-feira, 27 de julho de 2018

EU FALO DE... O PALERMA DE RABINHO DE CAVALO


Tinha tudo para ser uma noite de celebração da poesia, e até começou dessa forma, mas tal como já aconteceu no passado e é cada vez mais recorrente, há sempre alguém que pensa estar acima dos outros julgando-se imune e agindo de acordo com essa forma de pensar.

A história resume-se de modo fácil: no tal evento que era para ser a celebração da poesia, a determinada altura entrou alguém que, no espírito da chico-espertice, no momento em que cumprimentou a convidada de honra, pegou num exemplar do livro e dirigiu-se para a ponta do balcão. Até aqui nada de extraordinário não se desse o facto de ter passado toda a primeira parte do evento a vangloriar-se de não ter pago o livro. Inclusive, teve o descaramento de dizer, pensando estar a ser discreto, que o palerma de rabinho de cavalo nem tinha dado pela coisa. Só que o palerma do rabinho de cavalo estava, desde o início da história, com um olho no burro e outro no cigano, a escutar a fanfarronice. Acontece que, no momento em que o palerma do rabinho de cavalo se levantou para pôr fim ao assunto, confrontou-se com um problema: ia tratar do assunto e deixava os restantes livros ao abandono, permitindo que mais chicos-espertos fizessem o mesmo, ou continuava com o olho no burro e resolvia a coisa mais tarde. Decidi-me pela segunda opção. E assim fiquei, acompanhando o evento, sem tirar os olhos do livro surrupiado.

Numa fase adiantada do evento, o larápio fanfarrão, antes de abandonar o local, e como se não bastasse o descrito anteriormente, teve mais um momento de bazófia e decidiu ofertar o livro ao comparsa que esteve a noite inteira a ouvir a sua proeza.

A mim pouco importou que ele saísse... o meu objecto de atenção era o livro. Agora tinha apenas de estar com o olho num burro diferente. Iria chegar o momento de recuperar o livro.

Eis senão quando, esse sujeito é convidado a dizer um poema para a plateia. E tudo seria tratado mais tarde não se desse o facto do dito cujo ter começado a sua intervenção dizendo: “É uma honra para mim estar aqui e terem-me oferecido um livro da autora”.

Sendo eu tudo menos politicamente correcto, cortei-lhe a palavra e disse, alto e bom som: “Ofereceram-lhe um livro mas não o pagaram”. Recebi como resposta: “Não se deve falar do que não se sabe”. Reagi e houve uma breve troca de palavras. Para mim o assunto seria resolvido após a leitura que todos queriam ouvir.

O mais curioso desta história é que a plateia sentiu-se mais incomodada com o que eu disse do que o amigo do fanfarrão que, mal acabou de ler o que tinha para ler, foi sentar-se num local que ficava no meu campo de visão periférica.

Já perto do final do evento, o sujeito dirigiu-se a mim e queixou-se do facto de eu ter abordado o assunto na frente de todos, quando o poderia ter feito de forma discreta, ao que eu respondi contando-lhe toda a conversa, palavra por palavra, que ele e o prevaricador tiveram durante o evento. O esgar de surpresa foi evidente. Afinal, o palerma de rabinho de cavalo, de palerma tem muito pouco e, feitas as contas, acabou por receber o valor do livro, alarvemente dado como surrupiado.

Quanto ao incómodo da plateia... só tenho uma coisa a dizer: Temos pena.

A verdade é que a maioria foi ao palco com discursos bajuladores e a engrandecer a autora mas limitaram-se a ler dos livros comprados por aqueles que, esses sim, estiveram no evento para homenagear, de verdade, a autora.

MANU DIXIT

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