Tinha tudo para ser uma
noite de celebração da poesia, e até começou dessa forma, mas tal como já
aconteceu no passado e é cada vez mais recorrente, há sempre alguém que pensa
estar acima dos outros julgando-se imune e agindo de acordo com essa forma de
pensar.
A história resume-se de
modo fácil: no tal evento que era para ser a celebração da poesia, a
determinada altura entrou alguém que, no espírito da chico-espertice, no
momento em que cumprimentou a convidada de honra, pegou num exemplar do livro e
dirigiu-se para a ponta do balcão. Até aqui nada de extraordinário não se desse
o facto de ter passado toda a primeira parte do evento a vangloriar-se de não ter
pago o livro. Inclusive, teve o descaramento de dizer, pensando estar a ser
discreto, que o palerma de rabinho de cavalo nem tinha dado pela coisa. Só que
o palerma do rabinho de cavalo estava, desde o início da história, com um olho
no burro e outro no cigano, a escutar a fanfarronice. Acontece que, no momento
em que o palerma do rabinho de cavalo se levantou para pôr fim ao assunto,
confrontou-se com um problema: ia tratar do assunto e deixava os restantes
livros ao abandono, permitindo que mais chicos-espertos fizessem o mesmo, ou
continuava com o olho no burro e resolvia a coisa mais tarde. Decidi-me pela
segunda opção. E assim fiquei, acompanhando o evento, sem tirar os olhos do
livro surrupiado.
Numa fase adiantada do
evento, o larápio fanfarrão, antes de abandonar o local, e como se não bastasse
o descrito anteriormente, teve mais um momento de bazófia e decidiu ofertar o
livro ao comparsa que esteve a noite inteira a ouvir a sua proeza.
A mim pouco importou
que ele saísse... o meu objecto de atenção era o livro. Agora tinha apenas de
estar com o olho num burro diferente. Iria chegar o momento de recuperar o
livro.
Eis senão quando, esse
sujeito é convidado a dizer um poema para a plateia. E tudo seria tratado mais
tarde não se desse o facto do dito cujo ter começado a sua intervenção dizendo:
“É uma honra para mim estar aqui e terem-me oferecido um livro da autora”.
Sendo eu tudo menos
politicamente correcto, cortei-lhe a palavra e disse, alto e bom som:
“Ofereceram-lhe um livro mas não o pagaram”. Recebi como resposta: “Não se deve
falar do que não se sabe”. Reagi e houve uma breve troca de palavras. Para mim
o assunto seria resolvido após a leitura que todos queriam ouvir.
O mais curioso desta
história é que a plateia sentiu-se mais incomodada com o que eu disse do que o
amigo do fanfarrão que, mal acabou de ler o que tinha para ler, foi sentar-se
num local que ficava no meu campo de visão periférica.
Já perto do final do
evento, o sujeito dirigiu-se a mim e queixou-se do facto de eu ter abordado o
assunto na frente de todos, quando o poderia ter feito de forma discreta, ao
que eu respondi contando-lhe toda a conversa, palavra por palavra, que ele e o
prevaricador tiveram durante o evento. O esgar de surpresa foi evidente. Afinal,
o palerma de rabinho de cavalo, de palerma tem muito pouco e, feitas as contas,
acabou por receber o valor do livro, alarvemente dado como surrupiado.
Quanto ao incómodo da
plateia... só tenho uma coisa a dizer: Temos pena.
A verdade é que a
maioria foi ao palco com discursos bajuladores e a engrandecer a autora mas
limitaram-se a ler dos livros comprados por aqueles que, esses sim, estiveram
no evento para homenagear, de verdade, a autora.
MANU DIXIT
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