Agradecemos à autora PATRÍCIA PORTO a disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 - Como se define enquanto autora e pessoa?
Não separo
minha autoria da minha pessoa. Mas cada vez mais me distancio da minha pessoa
para viver a minha autoria, porque foi a única forma que encontrei de ser mais
completa na minha escrita, porque a vida, esta - por tão incompleta e difícil -
não é para dar conta mesmo. Então a minha pessoa vem ficando diminuta, como
quando envelhecemos.
2 - O que a inspira?
Tudo e
nada. Outros poetas me inspiram. Sou mais poeta que qualquer outra coisa. Então
a própria estética da poesia me inspira, os sons me inspiram. Tenho um tímpano
perfurado que me causou certa surdez. As pessoas não entendem quando mudo de
posição para ouvi-las melhor, as pessoas não entendem nada que seja fora do
próprio umbigo delas. Descobri que as pessoas ouvem pouco, porque ouvem mais.
Quanto mais ouvem menos ouvem. É paradoxal. Por isso tudo me inspira. Assim
como a natureza do nada também me inspira. Saber que somos ínfimos, pequenos
num universo de milhões de outras coisas mais importantes que nós.
3 - Existem tabus na sua escrita? Porquê?
Nenhum
tabu. Porque minha vida foi da barbárie, tive uma infância violenta e triste
demais para poder mais tarde, hoje digo, pensar em tabus. Sou desprovida deste
empecilho.
4 - Que importância dá às antologias e colectâneas?
Gosto das
múltiplas vozes culturais, da polifonia, do experimento mesmo entre o que afina
e o que desafina. Uma antologia/coletânea sempre traz elementos provocativos,
no sentido de causar um certo desconforto ao leitor das linearidades.
5 - Que impacto têm as redes sociais no seu percurso?
As redes
sociais têm seus aspectos negativos. Isto é inegável. Mas no meu percurso ela
foi uma possibilidade “real” de conhecer pessoas importantes, pessoas que estão
na minha vida e vieram para ficar, para ampliar parcerias, criar pontes. O bom
uso das redes sociais nos une e cria oportunidades.
6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo
da escrita?
Os meus
pontos negativos também são positivos (risos). Não há uma dicotomia que separe
o que é angústia e prazer no processo criativo. Há muito trabalho, trabalho
árduo de açougueiro, de corte, de ouvir muitas vezes o mesmo verso, de cortar
na carne, de deixar para depois aguando, de sofrer pela espera, de sentir
alívio pelo término, mas ao mesmo tempo também sentir aquela imensa solidão da
partida.
7 - O que acredita ser essencial na divulgação de um
autor?
Entrevistas,
hoje - vídeos de leituras de poemas, criatividade no uso da tecnologia, a mistura
de várias linguagens, sobrepô-las, fazer bricolagens. É um universo mutante o
midiático, cheio de possibilidades. Mas os encontros (os clubes de leitura,
concertos de poesia, feiras) também são importantíssimos para divulgar a
palavra escrita na fala.
8 - Quais os projectos para o futuro?
Tenho dois
livros prontos. Um de poemas, outro de prosa. Estão na parte de finalização. O
de prosa será lançado ainda este ano e o meu quarto de poemas no início do
próximo. É preciso deixar que um livro lançado tenha seu tempo, esgote suas
potências de alcance. Por isso sigo trabalhando com o “Cabeça de Antígona”
ainda neste semestre. Há círculos nele que podem ainda ser explorados.
9 - Sugira um autor e um livro!
Vou sugerir
(por homenagem) o Victor Heringer e seu belíssimo trabalho "O amor dos
homens avulsos".
10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E
como responderia?
Como é o
seu processo criativo? (Que horas escreve? Com qual frequência?)
Eu escrevo
o tempo todo quando posso ou me deixam. Cada vez mais eu fui deixando o “quando
posso” para o “quando me deixam”. Escrevo nas brechas, por isso coleciono
fragmentos, trechos inacabados, escritos demolidos. A dureza da vida, a falta
de recursos financeiros, o aluguel, essas coisas vão trazendo as interrupções,
os volumes. Por isso sou uma escritora de brechas. Mas nessas brechas sou uma
obcecada compulsiva. (risos)
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