Agradecemos à autora NIC CARDEAL a disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 - Como se define enquanto autora e pessoa?
Acho que ainda não consigo me definir (ou, quem sabe,
por toda a vida) como autora. Talvez como aprendiz da escrita. Sinto que é a
escrita que me exercita e não eu a ela. Às vezes penso em escrever por um
caminho e, quando chego ao final, o texto seguiu outro rumo. A bússola não sou
eu quem alinha. Existe um mistério nessa coisa de palavras, quem sabe uma
espécie de costura, arremate, remendos de sentidos. Vou seguindo a linha. Às
vezes os nós são desatados e tudo se descostura. Faz parte desse aprendizado de
dizer os sentidos, as emoções, as reações, a vida...
Como pessoa? Sou sempre outra. Cada dia é uma
descoberta de mundo, ora comove, ora assombra, ora assusta... Gosto de
universos diversos, peculiares, exóticos, aerados, apesar de ter meu sol em
Capricórnio, e da minha lua e ascendente estarem em Touro, dois signos de
terra, que pedem solidez e estrutura. Toda essa terra, em mim triplicada, faz com
que eu sinta muita sede de céu. Acho que por isso sinto tanta necessidade de
escrever. É como o voo de uma pipa que segue o vento, mas existe uma linha que a
mantém presa à terra firme.
2 - O que a
inspira?
Tudo. Ou nada. Coisas de fora ou de dentro. Às vezes
tudo junto. Pode ser um respirar mais profundo. Uma nesga de Lua desfiada e
vazia. Uma nuvem esparsa. Uma tempestade. Algo que vejo por aí, algum livro
lido, algum pensamento perdido. Gosto muito do que diz Gaston Bachelard quanto
a isso: “Uma página em branco dá o direito de sonhar”. Tudo cabe em uma página
em branco. Basta sonhar. Ele mesmo também fala: “Eu sou um sonhador de
palavras, de palavras escritas”.
3 - Existem
tabus na sua escrita? Por quê?
Acredito que nenhum, mesmo porque não sigo convenções
sociais, religiosas ou culturais. A escrita gosta de liberdade. Creio que
liberdade e tabu não se coadunam nem um pouco!
4 - Que importância
dá às antologias e coletâneas?
São fundamentais para a divulgação de escritores. Até
hoje nunca publiquei um livro solo,
somente participações em antologias ou coletâneas. Sem elas eu não teria tido a
chance de ter contato com muitos outros escritores. Elas possibilitam
intercâmbios maravilhosos entre autores, e entre autores e leitores.
5 - Que impacto
têm as redes sociais no seu percurso?
As redes sociais são muito impactantes para mim. Foi
por meio do facebook, por exemplo, que tive possibilidade de conhecer diversos
escritores, tanto iniciantes, quanto renomados e premiados, especialmente
mulheres escritoras, que me encorajam e incentivam a prosseguir com meu
exercício literário. As redes sociais são como janelas que, abertas, permitem
essa visibilidade instantânea também do mundo da escrita. Uma corrente linda
tem tomado dimensões incríveis por meio do facebook: o Mulherio das Letras – grupo
de mulheres escritoras de todo o Brasil e mesmo brasileiras residentes em
outros países que, por iniciativa da ‘mentora’ Maria Valéria Rezende, uniram-se
virtualmente no propósito de divulgar a literatura feminina e mostrar ao mundo
literário que o talento feminino também é merecedor de publicação e de leitura.
6 - Quais os
pontos positivos e negativos do universo da escrita?
Creio que em todos os universos existem pontos
positivos e negativos. Os opostos sempre andam juntos, quase sempre de mãos
dadas. É da natureza, não só humana. Vivemos em um mundo material, de
polaridades, portanto, é natural que os prós e os contras estejam sempre
marcando presença. É o inconsciente trazendo o tempo todo à tona os diversos
conflitos entre os opostos. Não vejo como escapar disso, estando nesse plano de
dicotomias que é o mundo terreno. Penso
que é quase impossível escapar dos paradoxos humanos. Isso se reflete também no
universo da escrita.
7 - O que
acredita ser essencial na divulgação de um autor?
Antes de tudo, uma boa edição de seu trabalho e uma
boa distribuição. A divulgação bem feita alcança grandes horizontes. Atualmente
as redes sociais têm sido fundamentais nesse trabalho.
8 - Quais os
projetos para o futuro?
Escrever. Ler. Conseguir
publicar dois livros já finalizados. Continuar a escrever, ler.
9 - Sugira um
autor e um livro!
Não consigo reduzir a um. Sugiro pelo menos três. Charles
Dickens (Grandes Esperanças), porque marcou profundamente minhas leituras de
infância. Clarice Lispector (Perto do Coração Selvagem), escritora que me virou
do avesso na época de adolescência. Fernando Pessoa (Livro do Desassossego)
desde sempre e para sempre, porque faz sossegar (no paradoxo da existência)
minha alma inquieta.
10 - Qual a
pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?
A melhor pergunta sempre é aquela que possui infinitas
respostas. A melhor delas talvez seja a resposta que desde sempre procuro: a
que é feito esse viver assim tão doce, e amargo, e louco, senão a esperar um
porto, um horizonte, um descanso, um pouco de consolo?
Acompanhem, curtam e divulguem esta e outros autores através deste link
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