Agradecemos à autora GEORGINA CAÇADOR a disponibilidade em responder ao nosso questionário
1- Como se define
enquanto autora e pessoa?
Enquanto pessoa
sou reservada nos meus sentimentos e aberta às pessoas até certo ponto. Tenho
uma fronteira bem definida para mim e em relação aos outros e ao mundo. Não a
ultrapasso, não a deixo ultrapassar. Na parte de mim que é autora, não tenho
fronteiras. Escrever é a liberdade total de mim.
2 - O que a
inspira?
Tudo me pode
inspirar, desde uma música, um pensamento, um cheiro… A inspiração chega de
algo em determinado momento e o lápis e o papel têm que estar sempre
disponíveis, porque o momento é aquele. Depois já passou.
3 - Existem tabus
na sua escrita. Porquê?
Não escrevo
asneiras. Agridem-me. Em tudo o que escrevi fi-lo apenas uma vez. Escrevi um
palavrão em “Ecos da Charneca”, porque fazia sentido em toda a trama da
história. Não penso voltar a fazê-lo. Escrever tem que estar em harmonia com
tudo o que sinto, faço e penso. Para mim, a asneira existe para o momento de
total insensatez. Aí deve ser dita com força e peso para valer pelo palavrão
que é. Assim sendo, eu a escreverei no decorrer da minha escrita em que exista
um momento destes.
4 - Que
importância dá às antologias e colectâneas?
Dou bastante
importância. Vivem-se tempos estranhos e nem sempre quem melhor escreve é o
mais lido. As antologias dão um bom registo do que se está a escrever neste
tempo. No futuro quem quiser perceber o que se escreveu neste tempo e quiser
saber quem o fez irá procurar nas antologias. Porque é difícil editar, mas em
conjunto podemos todos fazê-lo. É como fazer uma reunião de festa. Nelas se
encontra o bom e o mau. O trigo e o joio, pronto a ser separado e lido,
apreciado, estudado. Muitos somos mais fortes.
5 - Que impacto
têm as redes sociais no seu percurso?
Têm todo o que
eu consigo dar-lhe. Através das redes sociais, eu criei amizades e publiquei o
meu trabalho. Dei-o a conhecer em Portugal, no Brasil, em Angola, Moçambique,
Galiza, França, Cabo Verde. Sei pelo menos de uma pessoa em Nova Iorque lê o
que escrevo. É bom. Faço um trabalho honesto e verdadeiro e sei que sou
reconhecida por isso. Podem ser poucos mas já me entenderam. Todos sabem que eu
não poupo palavras. Umas vezes bonitas outras nem por isso. Sabem que faço nas
redes sociais aquilo que sou, sem falsidade. O que eu vou escrevendo, penso que
agradece.
6 - Quais os
pontos positivos e negativos do universo da escrita?
Quem escreve tem
que ser assertivo consigo mesmo e aberto ao mundo. Mas esta é a minha opinião e
vale o que vale. Quem escreve não deve reivindicar para si um subsídio á
cultura, nem colocar a sua escrita ao serviço de um partido. O seu compromisso
tem que ser consigo e as suas ideias. Com o mundo que o rodeia, mesmo que esse
mundo só chegue ao final da rua. Tem que ser mais que um simples simpatizante
ou afiliado desta ou daquela ideologia. É fácil ultrapassar a fronteira do que
queremos escrever e de termos que escrever o que vai pagar o livro que temos lá
em casa, para publicar por uns 10 anos ou mais. Existe quem escreve e se vista,
fale e se mostre como um personagem. Como se dizer:” Sou escritor” fosse uma
verdade incontestável. Uma certa vaidade de fazer por ser e nem sempre é assim.
Todos têm o seu valor, todos fazem parte do processo de apurar o brilho, mas é
forçado. É negativo. Como é negativo ser brilhante e anular-se a um nome
pomposo para poder viver da escrita, porque isso também existe. A parte boa é
ser um prazer. Escrever é bom é bonito é irreverente. Quem escreve o que sente
e pensa verdadeiramente, irrita muitas vezes. Não porque condene, mas porque
faz pensar. Nada é pior para o poder instituído que mente pensantes em vez de
obedientes.
7 - O que acredita
ser essencial na divulgação de um autor?
Associativismo e
feiras do livro. Não para editoras, mas para autores. Programas de rádio,
revistas. Os jornais de fim-de-semana podiam ter uma secção só para iniciantes.
Não falo da minha idade. Mas jovem que andam por aí a escrever muito bem. Já
tive contacto com alguns e penso que devem ter mais oportunidade que apenas os
trabalhos da disciplina de português. Alguns podem ir muito mais longe e ganhar
asas. Os programas de rádio deviam ter mais abertura aos livros porque não
exitem livros em braille. Ouvir pode muito bem ser ler.
8 - Quais os
projectos para o futuro?
Gostaria de
fazer uma publicação por ano. Tenho de momento matéria para isso. Mas percebo
que é uma meta arrojada. Por agora e até final de 2019 vou estar a trabalhar o
que já editei. Depois verei qual o projecto que avança. Vou continuar a escrever.
A pintar, a costurar na medida do que ainda posso. E declamar a minha poesia.
Adoro fazê-lo.
9 - Sugira um
livro e um autor.
O Delfim de José
Cardoso Pires. A personagem do cauteleiro descrita por este escritor, foi dos
momentos mais prazerosos que tive enquanto leitor.
10 - Qual a
pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?
A minha curiosidade
é ilimitada. Como tal faço sempre muitas perguntas em todos os momentos em que
vivo e sou chata. Gosto de satisfazer a minha curiosidade. Mas neste contexto
tenho que responder que não faço a menor ideia. Nem o que perguntar nem o que
responder.
Acompanhem, curtam e divulguem esta e outros autores através deste link
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