Agradecemos à autora TECA MASCARENHAS a disponibilidade em responder ao nosso questionário
1 - Como se define enquanto autora
e pessoa?
Sou uma pessoa que escreve; e estas duas
dimensões, assim como tantas, inexistem, se dissociadas. Considero toda
definição uma redução.
Tenho um poema que diz:
NADA ME DEFINE
um número não me define
uma letra não me define
um nome não me define
uma palavra não me define
um gênero não me define
uma crença não me define
uma etnia não me define
um gesto não me define
um espaço não me define
um tempo não me define
um corpo não me define
uma alma não me define
um sonho não me define
um sentimento não me define
nada me define
ninguém me define
eu não me defino
– não ouse me definir
Estes versos estão no meu segundo livro,
Meu singular é plural.
Quero dizer, com eles, também, que minha
subjetividade está imersa na pluralidade e que sou parte pulsante do universo
atemporal que me abriga.
2 - O que a inspira?
Disse o poeta romano Terêncio, já no
séc. II, a.n.e.: “Nada do que é humano me é estranho”.
Uma das interpretações mais constantes
que esta ideia sugere, é a noção da fraternidade entre a humanidade. Mas, eu
ouso ir além neste significado, e certamente não estou sozinha, ao incluir
todos os seres existentes em uma concepção de interdependência.
Assim, sou uma poeta à mercê da vida,
como canto nestes versos:
EU VIVO A VIDA À FLOR DA PELE
o nervo exposto
a carne viva
nada existe que não me capture o olhar
sofrimento alegria
nada existe que não me cale à fímbria
paixão nostalgia
nada existe que não me aguilhoe a alma
felicidade agonia
eu vivo a vida que me cumpre
a que eu engendro
e a que me resta
e a tua
e a deles
– eu vivo a nossa vida
3 - Existem tabus na sua escrita? Porquê?
Sou a favor da Liberdade!
Nada poderia expressar-me melhor que os
famosos versos do poema “Liberté”, (1942), do grande poeta francês Paul Éluard
(contemporâneo e amigo do nosso querido poeta Manuel Bandeira), conhecido como
“O poeta da liberdade”; do qual transcrevo o segundo e o último dos 21
célebres versos, traduzidos por Drummond e Bandeira:
LIBERDADE
(...)
Em toda página lida
Em toda página branca
Pedra sangue papel cinza
Escrevo teu nome
(...)
E ao poder de uma palavra
Recomeço minha vida
Nasci pra te conhecer
E te chamar
Liberdade
4 - Que importância dá às antologias e
às coletâneas?
Como não poderia deixar de ser,
considero as obras coletivas mais uma imprescindível manifestação da
pluralidade. Nelas, os autores nos encontramos no mesmo patamar, imbuídos do
objetivo comum de fazer amizade com os pares, apresentar o fruto do nosso
trabalho, conquistar espaço no universo literário e atrair uma maior
diversidade de interessados, contribuindo para a formação de novos leitores,
aparentemente cada vez mais escassos, infelizmente.
5 - Que impacto têm as redes sociais
no seu percurso?
Nos tempos atuais, com a incrível
velocidade da informação, as redes sociais configuram-se como um insubstituível
veículo. Capaz de disseminar, em tempo quase real, uma produção,
literária, no caso, que de outra maneira demoraria para ser divulgada, atingir
um número incomensurável de leitores e receber imediato retorno.
Acrescente-se que, para muitos escritores, elas se constituem na única
plataforma para publicar seu trabalho e cativar apreciadores.
Particularmente, as redes sociais
contribuem sobremaneira para a divulgação da minha poética, paralelamente aos
meus e-books e aos livros físicos; é através dela que tenho feito amizade com
muitos poetas, estabelecido importantes parcerias, divulgado regularmente meus
poemas e recebido generosos e gratificantes feedbacks de meus leitores, os
quais muito me estimulam a prosseguir nessa caminhada, tão mais feliz quanto
menos solitária.
6 - Quais os pontos positivos e
negativos do universo da escrita?
Quando escrever constitui-se num
imperativo, não há escolha. É escrever ou escrever.
Não creio que o universo da escrita seja
diferente dos demais. Ou seja, estamos expostos às vicissitudes que envolvem
esse mister, assim como envolvem a vida de todos nós e todos os misteres, para
o bem ou para o mal.
Viver é estar constantemente à procura
de um equilíbrio que é sempre momentâneo, já nos ensinava Aristóteles e o fluxo
da vida nos impele a um infindável processo dialético de
construção-desconstrução-reconstrução.
7 - O que acredita ser essencial na
divulgação de um autor?
Para ser exitoso, o trabalho de
divulgação de um autor deve ser um processo coletivo, no qual os atores
estabeleçam parcerias entre si. Uma boa obra, aliada à uma edição bem elaborada
e à uma divulgação bem executado, se não forem garantia de sucesso, certamente
serão um excelente prognóstico.
8 - Quais os projetos pata o futuro?
Meus projetos para o futuro são
conjugados no presente: escrevo, divulgo meus versos e, tanto quanto possível,
mas ainda não tanto quanto eu gostaria, sensibilizo meus leitores e toco
suas almas.
9 - Sugira um autor e um livro!
Este pedido foge à capacidade de um
escritor. Sou incapaz de limitar-me a indicar uma única obra e a
sintetizar um universo de registro escrito que se faz há milênios.
Posso, sim, citar alguns autores
que considero relevantes na minha constituição poética, para não mencionar os
clássicos, e os filosóficos, responsáveis por minha formação acadêmica.
Para isso, deixo um fragmento de um
poema meu, intitulado
ARRASTO MEU VÉU DE NOIVA:
(...)
recolho estrelas-do-mar e gravo em cada
uma
Cecília, Drummond, Sylvia, Pessoa,
Adélia, Bandeira, Marina, Vinicius, Bell, Leminski, Cabral, Brecht, Cora,
Gullar, Baudelaire, Hilda, Quintana, Neruda, Mia, Clarice, Whitman, Rimbaud,
Emily, Florbela, Virginia, Elisabeth, Marianne, Maiakovski
com as cores do arco-íris traço um
círculo
e deito-me no centro
(...)
Enfim, tão pouca a vida, para
tanta beleza...
10 - Qual a pergunta que gostaria que
lhe fizessem e como a responderia?
Qual sua rotina de escrita?
NÃO SOU RIGOROSA
para escrever
nem tenho precisão
não marco encontro com a inspiração
meu verso é que clama
em chama
me incendeia a qualquer hora
se inflama
e se escreve em mim
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