sábado, 30 de junho de 2018

DEZ PERGUNTAS A... ANDREA PELAGAGI


Agradecemos à autora ANDREA PELAGAGI pela disponibilidade em responder ao nosso questionário

1 - Como se define enquanto autora e pessoa?

Que difícil se definir! Vou roubar algumas citações para me ajudar.
A primeira, do Pessoa, no Livro do Desassossego: Mover-se é viver, dizer-se é sobreviver.
A segunda, do Beckett, em Esperando Godot: A gente está sempre inventando alguma coisa (hein, didi) para dar a impressão de que a gente existe.
A terceira, do Van Gogh, em uma das cartas a seu irmão Theo: Ache belo tudo o que puder, a maior parte das pessoas não acha belo o suficiente.
Essas três primeiras dizem muito para mim e por mim!
A quarta é minha, está no livro “As amigas que fiz”: É coisa difícil descrever as pessoas, elas não cabem nelas mesmas, mas eu descobri um segredo: pequenas porções das pessoas cabem em suas histórias.
A autora e a pessoa são uma só.

2 - O que a inspira?

Pessoas e relações entre pessoas. Encontros.
A natureza.
A linguagem (e os limites da linguagem).
O cotidiano.
As vozes particulares.
O silêncio.
Qualquer coisa inominada num instante de atenção.
Enxergar poesia além dos versos.

3 - Existem tabus na sua escrita? Porquê?

Se existem, ainda não os identifiquei. Não no sentido de deixar de abordar algum assunto que seja um tabu para mim. Há temas que me são mais afins. Tenho notado que identidade e família são dois deles. E há temas e abordagens que não falam tanto comigo, como o erótico, por exemplo. Em outro sentido, procuro escrever com naturalidade, sem juízo de valor sobre o que é humano. Um caso engraçado é o do meu primeiro livro infantil publicado – (Im)previsível. Uma amiga comprou o livro durante a campanha de lançamento. Quando recebeu, me disse em tom de brincadeira: acho que só vou entregar este livro para o P* (seu filho com 10 ano na época) quando ele fizer 18 anos! Isto porque, na história que tem guarda chuvas como personagens, um dos guarda-chuvas “cai no mundo” e não volta para casa e outros dois personagens, um guarda-chuva e uma sombrinha, resolvem morar juntos, sem casamento. Os tabus estão em muitos lugares, depende da leitura de cada um.

4 - Que importância dá às antologias e colectâneas?

Têm sido, para mim, oportunidades de levar minha escrita a mais pessoas, de conhecer melhor o mercado editorial e o trabalho de outros autores contemporâneos. Muitas vezes, através de um encontro numa antologia -  de um pequeno texto - surge o interesse pela obra de um autor até então desconhecido. São, portanto, frestas convidativas.

5 - Que impacto têm as redes sociais no seu percurso?

As redes sociais são ferramentas, acho importante reforçar que não são outra coisa. Mas são também as ferramentas atuais mais democráticas e acessíveis. Neste meu percurso literário elas estão muito presentes – através delas tenho acesso a outros escritores, a editores e a leitores. Conheci o projeto Conexões Atlânticas, por exemplo, através das redes sociais. Meus dois primeiros livros infantis foram impressos através de financiamento coletivo. Sem uso de plataformas comerciais de crowdfunding tradicionais. Criamos um perfil, plugamos um meio de pagamento e fizemos postagens de forma independente.
Quando digo que as redes sociais são ferramentas, o que quero dizer é que não acredito que estejam criando novos comportamentos, mas apenas traduzindo para o mundo digital os comportamentos que já temos fora dele. Tenho um pequeno artigo, já antigo agora, sobre esta grande questão que atormenta (atormentou mais no passado recente) a todos nós: como incentivar a leitura neste mundo tão digital e audiovisual? E a resposta me parece simples (talvez eu esteja sendo simplista, é um risco): curtindo, comentando e compartilhando histórias e livros.

6 - Quais os pontos positivos e negativos do universo da escrita?

No universo da escrita não vejo pontos negativos. Talvez eu seja capaz de apontar desafios se extrapolarmos para o universo da escrita como negócio - como trabalho e meio de sustento. Mas este não é o meu caso, não me dedico exclusivamente.
E escrever é muitas coisas, nenhuma delas negativas para mim. Tenho uma pequena série (ainda sem destino) que chamo de “Escrever é...”, inspirada na antiga “Amar é”.
Escrever é ... desejar estar à altura das epígrafes que você escolheu.
Escrever é... derivar.
Escrever é... enfrentar.
Escrever é... inventar uma história, um narrador, um personagem, um escritor.
Assim continua, mas acho que aqui consigo responder sobre o ponto positivo: escrever me permite (ou tem me permitido) me (re)inventar. E a perceber melhor o mundo.

7 - O que acredita ser essencial na divulgação de um autor?

Acredito ser importante estar atento tanto aos meios tradicionais quanto aos mais disruptivos. E focar na qualidade do trabalho, na natureza da obra mais do que no autor propriamente dito. Promover a interlocução entre obras que o permitam, sem ficar preso a rótulos, bandeiras e nichos. Sei que do ponto de vista de marketing é mais fácil pegar carona em tudo isso, mas acredito que empobrece a literatura.
No caso da literatura infantil vejo um desafio muito grande de divulgação especialmente porque entre o autor e o leitor (criança), há muitos intermediários: pais/responsáveis, professores, pedagogos, livreiros, distribuidores, etc.

8 - Quais os projectos para o futuro?

Projetos são muitos, sempre!
Tenho um livro infantojuvenil sendo lançado agora no segundo semestre, no Brasil e na Alemanha, dentro de um projeto de português como língua de herança. O livro se chama “Paisagens e outras histórias de ler junto”, tem cinco contos, cada um ilustrado por um artista diferente.
Participo também com um conto do projeto “Natu – Contos das Árvores” que está com lançamento previsto para breve. Trata-se de um aplicativo que convida adultos e crianças, passeando pelos parques e praças do projeto (em São Paulo), a encontrar espécies de árvores da mata atlântica e, através da realidade aumentada, assistirem a uma animação e lerem uma história. É um projeto lindo, que conta com grandes escritores brasileiros de Literatura Infantojuvenil e grandes artistas (bem conhecidos do público geral) como dubladores. Não sei se posso adiantar os nomes.
Estou terminando um livro de contos (adulto) e também meu primeiro romance.
Tenho um segundo livro de poemas em longa gestação. Coisa para os próximos cinco anos ainda.
Também alguns infantojuvenis escritos em diferentes etapas do ciclo de publicação (ilustração, negociação com editora, inscrição em prêmio literário).
Gostaria de escrever um livro de viagens e alguns ensaios. Tenho o enredo e os temas, mas ainda não tenho experiência com estes gênero e subgênero. Costumo dizer que não sou eu quem defino se vou escrever um romance ou crônicas... é o tema, o próprio texto que escolhe o que vai ser. Estes escolheram ser algo novo para mim como escritora.

9 - Sugira um autor e um livro!

Para onde vão os guarda chuvas, de Afonso Cruz - um autor português contemporâneo. O livro é um espanto! Li há mais ou menos cinco anos e desde então não consigo esquecer. Recomendo a todo mundo que posso. Infelizmente me parece que não há edição ainda no Brasil.

10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem? E como responderia?

Não sei exatamente a pergunta a ser feita para esta resposta que eu gostaria de dar: sou uma mineira-paulistana-portuguesa e essa minha geografia particular (cidade São Paulo, estado Minas Gerais e país Portugal) parece dizer mais sobre mim (e sobre a minha literatura) a cada dia.
Também podem me perguntar: vamos tomar um vinho? A resposta muito provavelmente será sim.

Acompanhem, curtam e divulguem esta e outros autores através deste link

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