Na minha dura travessia - recebo
a ligação de um companheiro do PCdoB pra me falar sobre o assassinato de
Marielle Franco, grande mulher e política. Tive a alegria e honra de conhecê-la
durante a campanha para as eleições de 2016. Eu querendo começar por algum
lugar depois de tantos anos na politica, nos sindicatos e na militância das
escolas da periferia metropolitana... Ouvir Marielle me encheu de luta, me
encheu de vida, de gana, de vontade de justiça, de vontade de política. Uma mulher forte, "dentes e músculos", uma
voz, que de tão potente, foi ceifada - na covardia - em plena ascensão.
Meu momento pessoal é de muita fragilidade. Mas sei
que aqui dentro mora uma força e que essa força quer ir pra rua e quer gritar
com todas as irmãs (sim, minhas irmãs), pois desde cedo, 06, 07 anos - conheci
o que é a violência diária: a violência doméstica, a violência da exceção, a
violência de gênero, de etnia, de classe, de capital cultural etc.
Sou irmã das
minhas irmãs que sofrem mais que eu, pois trazem no corpo à pele e à flor a
história da origem das piores das violências neste país: a escravidão, a
opressão do povo negro. Não sei mesmo o que pensar. Talvez estejamos todas e
todos pensando demais. Letárgicos demais.
Marielle não estava! Ela certamente gritaria. Disso eu lembro e eu sei que...
Marielle não estava! Ela certamente gritaria. Disso eu lembro e eu sei que...
Ninguém vai calar Marielle
Ninguém vai calar Maria da Penha
Ninguém vai calar Patrícia
Ninguém vai calar Margarida
Ninguém vai calar Dorothy
Ninguém vai calar Zuzu
Ninguém vai calar Claudia
Ninguém vai calar as mães de Acari
Ninguém vai calar Maria da Penha
Ninguém vai calar Patrícia
Ninguém vai calar Margarida
Ninguém vai calar Dorothy
Ninguém vai calar Zuzu
Ninguém vai calar Claudia
Ninguém vai calar as mães de Acari
Ninguém
vai calar!
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Este poema eu o
publiquei aqui há um mês e é do meu novo livro. Hoje eu o dedico a Marielle e a
todas as companheiras, irmãs de luta política, irmãs dos sindicados dos
professores, irmãs nas lutas dos feminismos, as na linha de frente por nossa
classe, gênero e pelo respeito às etnias. Sou nordestina, sou mulher
periférica, mãe, educadora-política. Este legado é nosso e não nos calaremos
jamais!
"deus seja louvado"
fica calada,
vai engasgar, engole,
tropece na língua,
engole esse choro,
olha pra frente,
quem você pensa que é?
engole esse choro,
olha pra frente,
vem hastear essa bandeira,
não está ouvindo?
é surda?
é demente?
é maluca?
quer que te mostre?
engole
anda direito,
fala direito,
burra,
preguiçosa,
estranha,
tímida demais,
tem o tímpano furado,
engole
escreve direito,
copia, apaga,
come, bebe,
trabalhe,
trabalhe,
trabalhe,
trabalhe,
trabalhe,
trabalhe,
trabalhe,
trabalhe,
trabalhe,
trabalhe,
trabalhe,
trabalhe,
trabalhe,
vagabunda,
piranha,
suja,
sua putinha,
foda-se,
dane-se,
trabalhe duro,
crie condições,
esfrega esse chão,
lava essa louça,
estude mais,
engole
atravesse,
despareça,
esqueça,
não chore,
perdoe,
descanse,
durma,
deite,
não fale,
está surda,
mastigue,
engula
morra
morra
morra
morra
morra
morra
morra
morra
bem
bem
devagar
deus seja
louvado
Patricia Porto
quando isso vai mudar?, eu me pergunto. gostaria de não ter que comemorar mais resistências na vida. Marielle era a própria vida a pulsar. obrigada, Patricia.
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